Coletivo Indra

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Vocês não vão fazer nada?

Thiago Mendonça

No dia 28 de junho de 1969, moedas, pedras e garrafas foram lançadas contra o preconceito, rompendo de vez com o silêncio e o anonimato impostos pela opressora sociedade heteronormativa e patriarcal. Fartos de tanta violência e perseguição, os gays reagiram à altura.

Cerca de 200 pessoas, em sua maioria composta por gays latinos e negros, travestis e drags (Queens e Kings), se divertiam no seu refúgio habitual. Um bar chamado Stonewall Inn, no Greenwich Village, em Nova York.  O bairro era habitado por artistas, poetas, músicos alternativos e pessoas com mente mais livre. Uma espécie de universo paralelo, pois em suas ruas gozava-se de mais liberdade do que em outras localidades.

Nessa década, a cultura hippie, a geração beat, os movimentos de luta pelos direitos das mulheres e negros e a mobilização contra a guerra do Vietnam, já tinha despertado em parte da sociedade uma consciência de luta por direitos e igualdade.

Nos anos 60, as homossexualidades eram consideradas crime. Aos gays, em público, não eram permitidos contatos físicos, troca de olhares mais diretos, dançarem juntos. Em todos os estados norte-americanos, havia leis contra gays ou a prática das homossexualidades (com exceção do estado de Illinois, que aboliu a lei anti-sodomia em 1961). Em Nova York, por exemplo, existia uma lei usada com frequência para prender as travestis, as queens ou kings.  Essa lei definia que uma pessoa teria que usar no mínimo 3 peças de roupa que correspondessem ao seu gênero de nascimento. Os estabelecimentos eram proibidos de receber e vender bebida pra esse tipo de gente. Eram acusados de perturbação da ordem.

A máfia que já operava na ilegalidade, viu aí uma grande oportunidade de ganhar muito ‘Pink Money’. Administrava bares disfarçados de clubes para membros associados, onde lucravam com a venda de bebidas contrabandeadas, cigarros e até com a juke box.  

Era a máfia que administrava o Stonewall inn, que se mantinha aberto através de um acordo com a polícia local.  A polícia fazia batidas semanais para buscar a propina, mas não sem aproveitar para identificar, extorquir, perseguir e humilhar seus frequentadores. Em sua maioria, latinos e negros.

Na semana do dia 28, a batida ‘oficial’ já havia sido feita, mas os agentes resolveram aparecer uma segunda vez, surpreendendo os mais de 200 frequentadores. O que aconteceu de diferente foi que, nessa noite, a resistência foi maior. Os 7 agentes começaram logo a separar as travestis, ou quem não portava documentos, e liberando os demais. Os que foram liberados não foram embora, continuaram na porta do bar. Outros moradores e frequentadores do bairro foram se juntando. Os que estavam sendo conduzidos à prisão negavam-se a permanecer em fila, resistiam, e a polícia aumentava a violência. Não havia como conduzir todes para a delegacia e tiveram que esperar reforços. Nesse meio tempo, os ânimos se inflamaram mais e mais. A multidão começou a jogar moedas contra os policiais dizendo: é dinheiro que vocês querem? Toma, seus porcos!

Na tentativa de prender e conduzir os detidos pra delegacia, os policiais batiam nas pessoas. Até que um drag king: Stormé Delarverie, revidou e deu um soco em um policial. Enquanto tentavam imobilizá-lo, ele virou pra multidão e perguntou: VOCÊS NÃO VÃO FAZER NADA?

Atendendo ao chamado a multidão se rebelou. Dizem que foi Marsha ‘Pay it no mind’ Johnson que lançou o primeiro tijolo contra os policiais. Marsha era uma travesti, profissional do sexo e trabalhadora das ruas. Nessa noite não estava no bar, estava trabalhando na altura da rua 42, quando chegou já encontrou o motim armado.  

Foi esse grupo composto por figuras marginalizadas e excluídas, que não tinham muito a perder, que começou de fato uma revolução. Um grito no gueto que até hoje ecoa e inspira resistência e luta.

Os policiais acuados voltaram e se refugiaram no próprio bar. A multidão aumentava e se inflamava cada vez mais. Viraram a viatura, forçaram a porta, começaram um principio de incêndio e lutaram até o amanhecer ao grito de ‘Gay Power’!

Na esquina do bar ficava a redação do The Village Voice, jornal que cobriu o acontecido e o tornou conhecido para quem não estava lá. A polícia havia proibido o funcionamento do bar, mas no dia seguinte a máfia pendurou um aviso dizendo que o bar funcionaria normalmente, panfletos foram distribuídos e à noite uma multidão maior do que no dia anterior se reuniu.

Foram 6 dias de luta nas ruas do bairro. E o mundo nunca mais foi o mesmo.

Thiago Mendonça

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STONEWALL 50 – UMA CELEBRAÇÃO TEATRAL

SEXTAS E SÁBADOS 23:30H

ESPAÇO DOS SATYROS UM

PRAÇA FRANKLIN ROOSEVEL, 222 – SP.

(11) 3258-6347

INTEIRA R$40 / MEIA R$20

(50 MIN.)

DE 28 DE JUNHO A 27 DE JULHO