A QUEDA DO CÉU DE DAVI KOPENAWA

Davi Kopenawa Yanomami

Um habitante da floresta amazônica chamado Davi Kopenawa Yanomami teve sua vida atropelada pelo garimpo.

Os mais antigos devem se lembrar das imagens impressionantes.

Verdadeiros formigueiros humanos, subindo e descendo de imensos buracos escavados na terra, por escadas estreitas, carregando sacos nas costas, matando e morrendo por um pedaço de metal precioso.

Pois agora é possível conhecer essa história por outro ponto de vista.

Não o nosso, de brasileiros distantes daquela corrida do ouro, repleta de mistérios e histórias extraordinárias. Nem o dos garimpeiros, que embarcaram em uma aventura em busca de uma nova vida, mas que encontraram, via de regra, a morte. Pois quem não morreu no próprio garimpo, morreu logo depois de doença ou desgosto.

Tampouco o dos poucos garimpeiros que conseguiram, com algum ouro, escapar daqueles pequenas cidades sem lei, dos capatazes assassinos, ou dos parceiros de infortúnio, cegos pela possibilidade de roubar uma pepita e acabar com aquele suplício.

E muito menos o dos grandes, os que, em bem menor número, financiam e controlam essa máquina de moer gente e que, protegidos pelas mais diversas imunidades, são os que verdadeiramente enriquecem. Cada vez mais. 

O outro ponto de vista que falo é o de um habitante daquela terra. Terra que foi invadida, escavada, revolvida, saqueada e poluída. E que, após tentar defendê-la colocando em risco a própria vida, viu seus parentes serem dizimados por uma epidemia levada por aqueles homens devoradores de terra.

Algum tempo antes da explosão do garimpo nas terras Yanomami, o pequeno Davi Kopenawa já tinha perdido grande parte da sua família por uma outra epidemia, levada por outros homens, que foram construir uma estrada chamada Perimetral Norte.

Davi teve sarampo, malária e tuberculose, e felizmente sobreviveu.

Sobreviveu para virar xamã!

Sobreviveu para falar aos brancos do Brasil, e do mundo, sobre seu povo e sua terra. Para contar que nós, povo da mercadoria, e que temos o pensamento cheio de esquecimento, ainda não entendemos que, destruindo a floresta, estamos destruindo a nós mesmos. E que se continuarmos matando os rios, poluindo o ar, extinguindo animais, assassinando os povos indígenas, pondo fim à sabedoria dos xamãs, estaremos provocando uma nova queda do céu.

Davi sobreviveu para escrever algo que é mais do que um livro, é um acontecimento científico incontestável.

 Renato Farias

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