Autismo

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Nem todo sofrimento na primeira infância é autismo, mas precisa ser tratado favorecendo a constituição.

Julieta Jerusalinsky

Nosso país não tem estudos estatísticos que nos indiquem o número de autistas e nem o aumento de crianças com a doença. O país que tem mais estudo de prevalência são os Estados Unidos. Portanto são os estudos norte americanos que servem de estimativa para nós, e tais estudos indicam que o número de autistas é de 1 para 59 crianças, segundo o Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC).  No Brasil o que nos dizem é que pode ter 2 milhões de pessoas autistas, o que representaria 1% da população brasileira estimado em 208 milhões em agosto 2018. Não sabemos quantos deles tem diagnóstico, o que dificulta as políticas públicas para atender esta população. 

O autismo que tem como nome Transtorno de Espectro Autista (TEA), não tem uma causa conhecida, por ser um transtorno multifatorial. Os estudos tem evidenciado um fator genético estimado em 70 a 90%, com envolvimento de mais de mil genes, além de fatores ambientais e alimentares  controversos. Apesar de todas as pesquisas científicas, não se descobriu uma causa orgânica para o autismo, e por isso o diagnóstico não pode ser feito através de exames laboratoriais. O desenvolvimento da doença já foi muito associado ao mercúrio das vacinas e agora aos agrotóxicos, mas são suposições. Mas todos sabemos da susceptibilidade dos indivíduos aos fatores externos e a hereditariedade tem papel importante no aparecimento das doenças.

Não sabemos quantos autistas adultos existem no mundo e que ficaram sem diagnóstico por conta da antiga “idiotia”. Como existem transtornos leves, vemos muitos pais serem diagnosticados, retrospectivamente, por profissionais da saúde com serem portadores de autismo. As famílias se desesperam frente a este diagnóstico. O transtorno abarca um amplo universo de pessoas com quadros clínicos diferentes, acometidos em maior ou menor grau nas áreas de interação social, comunicação, aprendizado e comportamento. 

Já nas crianças, alguns sinais de autismo aparecem a partir de um ano e meio. Há uma grande importância de se começar a intervenção cedo. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, a terapia de intervenção comportamental é a mais indicada, com tratamento personalizado e interdisciplinar. 

Há pouco tempo atrás, mais ou menos 1980, nem existiam publicações no Brasil ou pessoas capacitadas para lidar com o transtorno, segundo a psicóloga Maria Elisa Granchi Fonseca, que nos faz um relato de sua experiência desde 1980, nos dizendo que:

"naquela época não tinha livros para ler, internet para consultar, professores para orientar, mas tinham crianças para atender. Os profissionais não sabiam o que fazer com estas crianças. Com a globalização os estudos foram aparecendo e pesquisas foram realizadas no nosso país o que proporcionou a aplicação de técnicas de intervenção treinamento e capacitação de profissionais. O mundo moderno que incorpora o autismo, transita na importação de técnicas por vezes tendenciosas, modelos fundamentados em culturas não nossas, sem adaptação ao sujeito, apelos a métodos e não a princípios e muitas vezes modelos passageiros“.  

Atualmente existe um instrumento - IRDI – que é o Indicador Clínico de Risco para o Desenvolvimento Infantil que utiliza instrumentos, para fazer um diagnóstico do risco psíquico em bebes. Detectados os riscos e de acordo com a gravidade, se encaminha para a estimulação precoce.

O IRDI é um protocolo com estudos de validade na identificação de fatores de risco de desenvolvimento, composto de 31 indicadores voltados à relação cuidador-criança durante os primeiros 18 meses de vida desta. A perspectiva adotada é a de que expressões iniciais dos problemas de desenvolvimento podem ser situadas nos desencontros das trocas, demandas e linguagem estabelecidas entre o cuidador (pai, mãe, tios, avós, vizinhos, etc) e o bebê.

Existe o “REDE-BEBÊ" que é composta por profissionais reunidos em torno da especificidade apresentada pelo bebê e pela pequena criança, propiciando interlocução, transmissão e difusão acerca da primeira infância como um momento de plena constituição psíquica e aquisições do desenvolvimento, entendendo que os mesmos são absolutamente permeados pela relação com a família, escola e cultura. Um bebê é responsabilidade de toda uma aldeia! Por isso reconhecer as potências e também os sofrimentos na primeira infância é decisivo para realizar uma detecção precoce de sofrimento que aposte na estruturação do bebê, evitando assim a patologização e medicalização que têm incidido em tempos cada vez mais precoces da vida.

Para a psicanálise, a possibilidade de intervenção precoce fundamenta-se na minimização dos efeitos de um quadro patológico, mas também na ideia de que na infância, o sujeito ainda está em vias de constituir-se, o que implica a possibilidade de atenuação ou remissão de condições psicopatológicas e imprime contornos específicos à noção de desenvolvimento.

É preciso então fortalecer as práticas e implantar nas escolas públicas a criação de estratégias para se efetivar a inclusão das crianças autistas , com mediadora exclusiva que saiba aplicar a técnica adequada para integração, afim de que se tornem incluídos na sociedade e tenham autoestima.

Exercer a cidadania com pressão popular poderá mudar o cenário dos autistas no Brasil. Precisa que o IBGE cadastre os autistas e o governo invista em pesquisa sobre TEA, e que as leis em prol dos autistas saiam do papel, e que haja mais diagnósticos . 

Deve haver um preparo dos médicos em cursos, como são fornecidos pela REDE-BEBÊ, pra instrumentalizar os profissionais da rede pública de saúde. 

Hayde Haviaras

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 Algumas indicações:

  • Documentário na Netflix: The Magic Pill, uma pesquisa que demonstra que a retirada do carboidrato da alimentação das crianças autistas melhora a cognição, qualidade de vida e reduz o comportamento violento. (link abaixo)

  • Vídeos da Dra Julieta Jerusalinsky (link abaixo)

  • Laço Mãe-Bebê: Intervenções e cuidados