Bolsonaro na terra do Tio Sam

Fonte : g1

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A viagem da comitiva do governo brasileiro à Nova York para participar da Assembleia da Organização das Nações Unidas está sendo bem polêmica e excêntrica, quando temos em mente que estamos falando do lider de um país continental como o Brasil.

Na imagem a cima, por exemplo, vemos autoridades do governo brasileiro posando para a fotografia de um registro histórico. Um líder de Estado que não sai da posição na qual se assenta, de um líder carismático cuja maior preocupação aparente é falar com seu eleitorado.

Mas o cômico é que eles foram expulsos do restaurante porque ali se exigia comprovante de vacinação da Covid-19, e como a foto nos mostra, eles estão pouco se lixando para pandemia.

Apenas um deles está com máscara no rosto. E essa fotografia expressa exatamente isso, “homens comuns” comendo uma pizza de maneira descontraída, fingindo que Nova York é uma cidade como nos diria a escritora Fran Lebowitz.

Falo fingindo que é uma cidade pois o comportamento da comitiva brasileira nessa cidade é teatral, quase que caricato – como quase tudo que está relacionado ao governo Bolsonaro.

Já de início temos o vexame de um presidente que entra pelos fundos do Hotel, no qual está hospedado, devido aos protestos realizados pelos brasileiros residentes na cidade yankee. Como resposta aos manifestantes, o presidente da república do Brasil zomba do ato político dos manifestantes, como podemos ver no vídeo abaixo.

Associando a liberdade de expressão dos manifestantes à simpatias com governos socialistas, o que evidencia, mais uma vez, sua política autoritária – se apoia o governo, independente de como esse apoio seja feito, é liberdade de expressão, mesmo que para tanto seja preciso passar por cima da liberdade de outros cidadãos.

Mas, se há críticas ao governo, independente de quais sejam, automaticamente, os associam ao inimigo a ser combatido, e portanto, ao socialismo.

A relação entre amigo e inimigo é algo muito antigo na política, mas se tornou definição da política em si mesma com Carl Schmitt, um intelectual alemão. O problema é exatamente a dimensão que essa dicotomia ganha. No caso do governo Bolsonaro relação amigo e inimigo está presente desde o início da sua campanha presidencial.

Parece mais que os inimigos do governo são tratados com discurso de ódio, birras e com gestos obscenos, como aquele feito pelo atual ministro da saúde Queiroga em relação aos manifestantes contra o governo na cidade de Nova York.

Mas a relação entre amigo e inimigo não é aquela relação entre os coleguinhas do playground (ou não deveria ser), na política os amigos são escolhidos de maneira racional, assim como os inimigos.

Mas, como tudo nesse governo tem a ver com o coração, com os sentimentos e afins, quem aqui se espantou com o discurso do representante da nossa pátria na abertura da assembleia geral da ONU?

Sim, mais uma vez fomos objeto de chacota e vergonha internacional. Muitas gafes foram cometidas nesse discurso, dentre as quais afirmar que o governo defende a morte (ops, o tratamento) "precoce" contra a covid-19 - sendo que a ineficácia da cloroquina para o tratamento da infecção do vírus já é comprovada pela ciência.

Além disso, Jair Bolsonaro afirmou que não há corrupção em seu governo, sendo que os escândalos recorrentes da CPI da covid-19 já foram anunciados mundialmente. E o escândalo da corrupção das compras da vacina já virou notícia no mundo há muito tempo.

O presidente fez questão de se mostrar como alguém que não foi vacinado contra a Covid-19, afirmou de forma explícita que ainda não tomou o imunizante. Bolsonaro é o único líder do G20 que publicamente declarou que não tomou vacina, e que aparentemente não tem qualquer intenção de tomar o imunizante. 

Mas, o que isso nos diz sobre esse governo? O mais irônico de tudo isso é que Queiroga, o ministro da Saúde, voltou para o nosso país, infectado pelo vírus.

Afirmar que não se vacinou, é o mesmo que afirmar que é amigo do seu eleitorado, que em sua grande maioria se identifica com o discurso negacionista, antidemocrático e autoritário. Mas, o êxito da política se dá principalmente quanto se escolhe com racionalidade quem será seus amigos e inimigos na política.

E pelo andar da carruagem parece que as forças políticas do centrão não estão muito inclinadas em ter Jair Bolsonaro como amigo no jogo político.

Enquanto isso Bolsonaro continua com o negacionismo e com seu espetáculo político voltado para seus seguidores, sim, ele quer você para lutar contra as instituições democráticas. E nós ficamos torcendo que a cada dia que passe, o discurso do presidente seja esvaziado e que perca força daqui até 2022.

Marina Rute Pacheco

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