Compreendendo a diversidade!

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Olá a todos! Estão bem?! Vamos continuar a conversa sobre diversidade e falar deste tema, sua legitimidade e consequência em preconceitos. Precisamos entender um pouco como as religiões pensam a vida. São por meio delas que delineamos sobre quem ou o que é o ser humano. Comecei falando sobre os Cinco Agregados. Por meio deste ensinamento, e também dos Doze Elos da Originação, Lei da Impermanência, Interdependência, Causa e Efeito entendemos o ser e vida em geral.

A pergunta “o que sou eu”, e não “quem sou eu”, questiona a real ideia de um “eu” independente, um ego, o que para o budismo é uma grande ilusão. A mente cria uma ilusão sobre si como independente. A existência não é vista como uma criação divina, mas uma complexa manifestação da Vida como tudo no universo, interconectada e interdependente à inúmeras causas e condições, ao longo de tempos imemoriais. Eu dependo de infinitas condições propícias para ser o que sou ou ter o que tenho. Sugiro o documentário One Strange Rock da National Geographic para ilustrar um pouco. Desta forma compreendemos a vida humana também em uma pluralidade.

Mas vamos conhecer um pouquinho os tais Agregados. É por meio deles que experimentamos o viver, e por vezes imaginamos que eles nos causam sofrimento, a principal preocupação do caminho budismo.:

Forma (Rupa) - nosso corpo, incluindo os cinco sentidos e sistema nervoso.

Sensações (Vedana) - podem ser agradáveis, neutras ou desagradáveis.

Percepções (Samjna) - que nos faz nomear, perceber, definir.

Formações Mentais (Samskara) - a formação de algo na mente, o medo, a flor, a nuvem.

Consciência (Vijnana) - sementes armazenadas das formações mentais. 

 Logo, o que proporciona o desejo (sexual, por exemplo) não é um sofrimento em si, mas a forma como nos relacionamos a ele, o apego, a dependência, a ganância dessa espiral interminável que surge, satisfaz e torna a surgir. São como ervas, cortadas, crescem novamente. Buda ensina ainda que todos os fenômenos sentidos e percebidos surgem e se extinguem na mente, não há nada fora dela. E exercitar o controle sobre esta mente por meio de uma Atenção Plena, o sétimo dos Oito Nobres Caminhos, é um caminho eficaz para diminuir, quando não, eliminar o sofrimento.

Com isso, três perguntas podem ser feitas - a conduta sexual gera sofrimento, gera raiva e gera apego para si, para o outro e para as partes envolvidas? Se a resposta for sim, então há algo incorreto. Tanto o desejo, e vamos incluir o amor, podem resultar em desequilíbrio, e desequilíbrio leva ao sofrimento. O primeiro discurso do Buda Shakyamuni após atingir a iluminação foi “a vida é sofrimento”, ou melhor dizendo, a vida desequilibrada leva ao sofrimentos. A palavra Dukkha usada no seu discurso significava o eixo de rodas da carroça de bois, se mal ajustadas causam danos à sua condução.

No pensamento budista não existe o conceito de pecado ou julgamento por um ser divino, o único julgador serão os karmas produzidos por você mesmo. Karma significa literalmente ação. Comer é uma ação karmica, andar, trabalhar, se relacionar, falar, pensar, agir, todos eles surtem efeitos positivos, negativos ou neutros. Então, o desejo lgbt manifestado não é submetido à punição por não haver estes personagens de criador e criatura, tampouco a moralidade do binômio homem-mulher. Creio que essa seja a origem de todo entrave, a definição de papéis sociais. Não há um dogma sobre como o humano deva ser, mas Buda deixou ensinamentos para nos conhecer e como funcionamos, resultando assim em compaixão e tolerância ao próximo.

Posto isso tudo, entender a origem do preconceito à diversidade é preciso adentrar o histórico religioso. Ele permeia a construção social, cria códigos, define dogmas. Essencial e inevitável observar isso. Como o budismo, e outras vertentes, não determina moralidade sexual, basta você ser o que você é. Ele não dita regras, mas aponta caminhos para evitar sofrimento a si e ao outro. O desejo homoafetivo assim é e assim está bem. O amor entre duas pessoas simplesmente se manifesta, isto é o importante.

O grande problema do amor lgbt são os conceitos de pecado, culpa, imoralidade, castigo decretados ao longo dos tempos determinando como a vida deve ser. Isso gera ódio, raiva, sofrimento, repulsa, preconceito, discriminação, tortura e morte. Porém, há muitas correntes que fazem uma releitura dos textos e acolhem a população lgbt em sua confissão: anglicanos, espíritas, matrizes africanas entre outros fazem interpretações contemporizadas e que precisam ser adaptadas à realidade. Apesar da homossexualidade existir desde sempre, incluindo milhares de espécies no meio ambiente. Tudo ainda visto com muita resistência por outras alas, é um assunto polêmico e incomoda demais.

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O Buda Amida, a Iluminação Personificada, abraça a todos incondicionalmente recebendo-os em sua Terra Pura do jeito que são, rumo ao Nirvana, o estado livre de sofrimentos. Logo, tanto faz você ser hétero ou homossexual, estamos todos na mesma roda do Samsara, nos ciclos do nascer e morrer, no mundo dos sofrimentos.

Quinzena que vem tem mais. Qualquer dúvida ou comentário, escreva!

 Namu Amida Butsu /

 Rev. Jean Tetsuji釋哲慈

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