Engajamento político das empresas: Uma necessidade para nosso futuro
A recente tragédia ocorrida em razão do rompimento das barragens da Mina do Feijão, na cidade de Brumadinho-MG, demonstra a importância de que as empresas assumam um posicionamento político ativo, de maneira efetiva e não como mera estratégia de marketing.
Assumir uma postura política não significa, de forma alguma, posicionamento partidário e de ocasião, que esteja vinculado a determinado governante e seu mandato. Em verdade, significa compreender a necessidade de cooperação entre empresas, sociedade e governo, que possibilite o avanço social e o desenvolvimento tecnológico e científico. Brumadinho relembra que não há mais espaço para crescimento econômico ilimitado, alheio a importância da preservação ambiental como garantia de sobrevivência da espécie humana.
Nesse sentido, as empresas devem participar do debate público e assimilar os anseios da comunidade, de modo a trazer benefícios reais para ela e, por outro lado, chamar a atenção dos ocupantes dos cargos públicos para essas demandas. A indiferença quanto a sua responsabilidade social não tem mais lugar.
As últimas grandes crises econômicas demonstraram a falência do sistema neoliberal como forma de organização futura da economia e das sociedades, sobretudo em função do socorro dos governos para as grandes corporações privadas, que permitiu a manutenção do sistema econômico e, no limite, da atual forma de organização social. Será que o Estado é a fonte de todo o mal e o mercado pode se sustentar sozinho? Precisamos de uma reflexão séria sobre isso, para além do meme.
No mesmo sentido, os mecanismos do neoliberalismo de controle da vida social que, diferente da sociedade disciplinar Orwelliana, estão disfarçados de uma falsa sensação de liberdade e passam a ocupar todo o tempo humano e os espaços de subjetividade, que se relevam através do curtir das redes sociais e chavões do mercado contemporâneo – tais como o do empreendedor de si mesmo - passam a dar sinais de esgotamento, conforme se apreende do aumento de doenças como ansiedade e depressão, que acometem cada vez mais pessoas, sobretudo nas camadas mais jovens das populações. Quanto tempo não passamos presos as telas de nossos celulares? Quantas vezes não deixamos de falar algo nas redes ou, ao contrário, falamos apenas em busca de aceitação? Isso é liberdade?
Assim, assumir uma postura política ativa, que de um lado compreenda o limite das capacidades humanas, suas subjetividades e diversidades e de outro considere a importância da preservação ambiental, permitirá que as empresas possam almejar a continuidade de seus negócios, sem rupturas ou transformações sociais que não se sabe para onde levarão. O exemplo da Vale é sintomático no sentido de que não basta apenas empregar recursos em programas filantrópicos ou vinculados ao terceiro setor – marca da empresa por anos - sem que a própria execução de suas atividades esteja alinhada a princípios éticos, frutos de uma postura política ativa. Será que cidadãos e consumidores não podemos contribuir para que as Empresas mudem de postura?
Nesse momento, a aplicação de multas e penalização de seus diretores não é suficiente para obstar novas tragédias sem que isso represente a mudança de paradigma das empresas, em rumo da atuação responsável e adoção de compromissos legítimos.
Cada vez mais se torna evidente que nosso futuro depende da cooperação e de engajamento ético verdadeiro, do contrário, os tempos serão cada vez mais sombrios e cheios de lama.
Arthur Spada
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*Algumas ideias compartilhadas no texto são frutos da leitura do livro “PSICOPOLÍTICA” do filósofo Byung-Chul Han, texto de fácil assimilação e cuja leitura é altamente recomendada!