Homossexualidade na infância, como lidar com o assunto?

Imagem Victor Ior

Imagem Victor Ior

Eles estão presentes no dia a dia, muito próximos de nós. Seja no convívio familiar, no trabalho, novelas, ou mesmo na rua. Os casais homoafetivos já fazem parte de nossas vidas e não podemos negar. Fato que não é recente, mas muitas pessoas ainda não conseguiram aceitar.

A homossexualidade não é algo novo na sociedade. Estudos apontam que a pratica surgiu há 1,7 mil anos A.C., onde o amor entre casais do mesmo sexo era tão comum que o termo homossexual nem existia. Os próprios gregos, com o consentimento dos pais e do filho, tinham sua iniciação sexual através de práticas homossexuais. Por sinal a denominação surgiu em 1848, pelo psicólogo alemão Karoly Maria Benkert, quando passaram a denominar o relacionamento de pessoas do mesmo sexo como uma doença.

Kinsey mudou a história da ciência sobre sexo. “Ele foi um pioneiro e nos ajudou a dar os primeiros passos em pesquisas sexuais”, diz Beverly Whipple, uma das sexólogas mais renomadas da atualidade. O instituto criado por ele em 1947 continua a fazer pesquisas no campo da sexualidade humana. O foco, no entanto, não é mais a catalogação de diferenças comportamentais. “Hoje não estamos mais tão interessados no que as pessoas fazem, mas sim no porquê de o fazerem”, afirma Vern Bullough, do Centro de Pesquisa sobre o Sexo da Califórnia.

Considerada por muito tempo como uma doença, a homossexualidade só passou a ser tratada como orientação sexual no final do século passado. Muitos consideravam a orientação sexual, como uma desordem mental, um desvio de comportamento, o que atualmente é considerado equivocado, porque não é um transtorno que tenha cura. É uma orientação sexual, não é uma opção sexual.

Apesar de ser algo presente na sociedade, muitas pessoas ainda veem com preconceito a escolha de casais do mesmo sexo.

PARA OS MAIS RADICAIS A MAIOR PREOCUPAÇÃO É COM O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS E COMO TRATAR DO ASSUNTO.

Há diferentes fases da vida da criança e seu comportamento varia com a idade mesmo.

“A educação sexual começa a partir das atitudes dos pais, no momento em que decidem ter filhos”

(FIGUEIRÊDO NETTO, 2002, p.6). 

As primeiras atitudes dos pais podem proporcionar ou um ambiente afetivo e amoroso, ou um ambiente ríspido e tumultuado. Esse ambiente será a primeira influência no desenvolvimento da criança. É “nos primeiros anos de vida se estabelecem as bases do comportamento erótico do adulto e se inicia a formação de uma sexualidade saudável”.

(FIGUEIRÊDO NETTO, 2002, p.7). 

A identidade de gênero é a percepção que uma pessoa tem de si como sendo do gênero masculino, feminino ou de alguma combinação dos dois, ou até “agenero”, independente de sexo biológico.

O papel sexual ou a “expressão de gênero” é a maneira pela qual alguém se apresenta ao mundo exterior de maneira generificada e pode incluir o uso de pronomes, roupas e etc. A expressão de gênero é diferente da identidade de gênero, na medida em que um indivíduo pode carregar e se expressar de uma maneira que não é esperada em sua cultura, mas continuar a identificar como seu gênero é atribuído no nascimento. Importante evitar a manutenção de preconceitos de comportamentos tipicamente masculinos e/ou femininos.

Aos quatro anos, normalmente, as crianças passam pela experiência de brincar com seus genitais e as vezes com seus amiguinhos e fazem brincadeiras que ajudam a satisfazer a curiosidade sexual. Dos seis aos dez anos há uma fase de latência. Estão mais na sensualidade preocupadas com seu visual e com modelos externos.

Conversei com Kayo Gheno que é psiquiatra e Especialista em Sexualidade Humana, o qual me esclareceu algumas questões sobre este assunto. Basicamente ele nos fala que temos que diferenciar orientação sexual de comportamento sexual .

MAS AFINAL O QUE É ORIENTAÇÃO SEXUAL ?

Ela indica direção do desejo sexual, relativo ao que uma pessoa se sente preferencialmente atraída física e/ou emocionalmente. Essa orientação pode ser: assexual, bissexual, heterossexual, homossexual ou pansexual.

Nos diz que a orientação sexual, pode ser muito fluida, principalmente na adolescência onde eles tem experiências sexuais com outras pessoas. Um garoto, por exemplo, tem desejo por uma menina, mas em alguns momentos pode haver um comportamento homossexual. Porém o desejo e direção do que gosta é aquela, mesmo tendo afetividade com pessoas do mesmo sexo na adolescência. Mas não dá para considerar homossexualidade nesta fase, porque estão em grupos e experimentando desejos. É preciso minimizar a “culpa” de ter tido experiências homossexuais. Ele completa que devemos explicar aos pais que esse é um comportamento normal. Orientação sexual não é algo apreendido. É Inato. Não é definida, simplesmente acontece, inata, não é opção.

Dentro desta visão, outro ponto importante, os pais precisam estar abertos para abordar o assunto, sempre respeitando a idade da criança. Acabam não dialogando sobre este assunto, pois ficam com medo das adversidades, e expõem seus preconceitos e ignorâncias reprimindo seus filhos. Além de achar que a vida do filho vai ser mais difícil por suas escolhas homoafetivas, trazendo mais transtornos do que ajuda. Os estudos comprovam que a maior repercussão, traumas e comportamentos, na personalidade na vida adulta é o apoio da família. Em famílias onde este assunto é tratado com diálogo, apoio, respeito as repostas são mais positivas, com menos desvios de personalidade.

Penso que na escola a postura deve ser a mesma. Os professores não devem tratar de forma diferente meninos e meninas com comportamentos heterossexuais de meninos e meninas com comportamentos homossexuais. Se a escola apoiar e orientar a relação no coletivo escolar, serão pessoas fenomenais. A escola precisa abordar o assunto, trazer os pais para discutir o tema, abrir o debate entre os alunos. E a medida que os alunos vão crescendo eles acabam aceitando melhor, sendo melhor aceitos e se encorajando nas escolhas de suas vidas afetivas.

O psicólogo João Batista Pedrosa, autor do livro “Garoto Rebelde – Surgimento da Homossexualidade na Criança”, fez uma pesquisa sobre o comportamento sexual de gays, de zero aos 18 anos de idade. De acordo com o psicólogo, os primeiros indícios de homossexualidade na infância surgem a partir dos 5 anos de idade.

“Na minha experiência de psicólogo clínico já atendi dezenas de gays e nos seus relatos ficava evidente que, desde a mais tenra infância, o desejo homossexual era despertado. Tive a curiosidade de pesquisar em que período de vida a orientação sexual homossexual é disparada. Na minha pesquisa, ela aparece em torno de cinco anos de idade. Já nesta idade aparecem os primeiros sinais. Demorei para finalizar o livro, entre a pesquisa e conclusão, dois anos.”

O preconceito está muito presente na sociedade, seja na questão sexual, religiosa ou étnica, mas é preciso que as pessoas estejam cientes de que é um assunto que deve ser discutido sem neurose, respeitando a opção de cada um”.

O importante é saber que a felicidade vem do exercício pleno dos direitos dos indivíduos, e aí se inclui o exercício pleno da sexualidade sem importar qual seja.

ACEITAR SUA SEXUALIDADE É O PRIMEIRO PASSO PARA A CONQUISTA DA AUTOESTIMA.

A associação Americana de Psiquiatria, em concordância com as investigações científicas recentes, concluiu que práticas homossexuais fazem parte da diversidade da própria natureza. Assim é possível compreender e aceitar que a homossexualidade e as demais manifestações da sexualidade humana integram as características particulares da biodiversidade.

A maioria das pessoas é levada a obedecer a um comportamento sexual estabelecido pelos princípios religiosos e pela herança cultural da sociedade em que vivem. Porém dentro de si é impossível abafar a natureza da sua orientação sexual. Sem explicação (se é que precisa), o desejo sexual se impõe a cada um de nós, independente de nossa vontade.

Estamos num novo mundo, onde podemos ter acesso a estas informações através de profissionais especializados, que dedicam suas vidas a estudar comportamentos humanos, embasados em saberes científicos, para que nós pais possamos entender e ajudar nossos filhos a trilhar um caminho de dignidade humana, dentro da sociedade.

Agradeço ao Dr. Kayo Gheno (Psiquiatra e Especialista em Sexualidade Humana) e Andre Haviaras (Psiquiatra Infantil) pelas orientações para que eu pudesse apresentar este texto.

Hayde Haviaras

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