No fundo do poço tem uma mola

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Durante muito tempo da minha vida, eu me considerei otimista. Na verdade, a minha essência é essa.

Entretanto, a frase “não há nada tão ruim que não possa piorar” se tornou um tanto quanto frequente nos últimos anos. Sempre que eu achava que tínhamos chegado ao fundo do poço, algo de pior acontecia. Bom, para pontos soltos ao longo desses anos, acredito que o fundo do poço tenha chegado.

A covid-19 ceifou 230 mil vidas em todo o país, permitindo que o Brasil concentre 10% dos óbitos mundiais. 

Ainda assim, muita gente ainda acha que é só uma gripezinha. Esse tipo de comportamento é que sustenta o aumento do número de casos após as festas de final de ano, permitindo que vivenciemos a segunda onda. A nossa salvação? Será a manutenção das medidas preventivas e de boas práticas de convivência e respeito.

O isolamento social, uso de máscara, lavagem de mãos, uso de álcool em gel, e, finalmente, a vacina, auxiliam o controle desta doença. 

Essa última, fundamental, já que poucos são aqueles que cumprem as medidas primárias adotadas.

Com o início da vacinação no Brasil, muitas incertezas ainda pairam, principalmente com relação a quando atingiremos a cobertura vacinal suficiente para reduzir a transmissão pessoa a pessoa da doença. Esse ponto sobre a cobertura já foi discutido em colunas anteriores e baseia-se na taxa de reprodução da doença (R0) e eficácia das vacinas. 

Todas as vacinas aprovadas para uso no Brasil cumprem o critério mínimo de 50% de eficácia recomendado pela OMS. 

Atualmente, duas vacinas estão sendo aplicadas nesta primeira etapa: a CoronaVac e Oxford/AstraZeneca. Ambas estão sendo produzidas no Brasil, a primeira pelo Butantan e a segunda pela Fiocruz. Entretanto, a matéria prima vem de fora. Vale ressaltar que para ambas as vacinas, o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) vêm da China. Sim e sim, da China. Mesmo o da Oxford/AstraZeneca vem da China. Então a produção nacional depende da importação dos IFAs, que depende de articulação governamental incluindo, obviamente, a diplomacia. 

Quem não se lembra da Dra Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz, se emocionar devido à demora do início da vacinação e, principalmente, pelo atraso na importação dos IFAs? Pois bem, recentemente chegaram os IFAs, tanto da CoronaVac (dia 03/02) como da Oxford/AstraZeneca (06/02) e, assim, os calendários de produção foram restabelecidos.

O Instituto Butantan deve entregar mais 8,6 milhões de doses da CoronaVac, enquanto a Fiocruz deve produzir 15 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca; esta última com previsão de liberação interna do primeiro lote para autorização da Anvisa no dia 18/02. Ademais, segundo a Fiocruz, a previsão de produção para o primeiro semestre será de 100,4 milhões de doses da vacina.

Concomitante a isso, a Anvisa “flexibilizou” os critérios para utilização das vacinas de forma emergencial. Para o registro definitivo no órgão, utilizado para comercialização e uso de medicamentos e ou imunobiológicos, era necessário que os estudos de fase 3 fossem realizados no Brasil. Agora entende-se que como não há tempo hábil para o desenvolvimento de novos estudos, esse critério passa a ser “secundário”. Vejam que eu não estou dizendo que não há necessidade de realização de estudos de fase 3 (que confirmam a eficácia) e sim que não há a necessidade destes estudos serem desenvolvidos aqui, no Brasil – especialmente em uma situação emergencial.

Com essa flexibilização, outras vacinas como a Sputnik V, produzida pelo laboratório russo Gamaleya; e a Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, possivelmente terão os seus pedidos de autorização para uso nacional aceitos pela Anvisa. Portanto gente, aparentemente, as pontas soltas estão sendo amarradas e mais opções de vacina estão sendo consideradas, o que nos leva a crer que logo, logo, teremos uma cobertura vacinal adequada, o que nos impulsionará a respirar um pouco, depois de tanto tempo no fundo do poço.  

Vamos manter a esperança.

Vale ressaltar que a vacinação é um pacto coletivo. Não esqueçam.

Um abraço a todos,

Feliz 2021,

Rafaella Albuquerque

Instagram @rafaas28