Morte e vida: quais são seus lugares

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Ando pensando sobre os dias densos que estamos vivendo, carregados de tragédias, raiva, medo e estranheza. Em meio a esse caos me dei conta de que é a morte que imprime a importância das notícias, as geradoras da fatalidade, aquelas que sempre exigiram atenção devido à sua relevância, mas que só obtém espaço na roupagem da tragédia experimentada. Duas questões preocupantes surgem daí: a compreensão da morte e do tipo de alimento que oferecemos às mentes e almas.

A morte faz parte do projeto “Vida na Terra”, não há como evitá-la, a única certeza que temos é que todos morreremos em algum momento.  Mas quando esse dia chega, parece que o falecimento jamais fora previsto, uma atmosfera de ilusão da eternidade absorve a maior parte de nós evidenciando o óbito como o maior inimigo da humanidade. E com isso tentamos estabilizar a vida que é essencialmente impermanente, projetando no fim dos ciclos a dor do apego, seja no desligamento de um cargo, no término de uma relação, na saída dos filhos de casa, ou em qualquer outra situação, o fim tende a parecer caótico.   

E de fato o é, porque o caos vem estabelecer uma nova ordem de funcionamento das coisas, mas não precisa ser ruim, pode ser desafiante apenas. Não quero que essa reflexão traga a idéia de banalidade da morte, mas sim da naturalidade dela, sem excluir a saudade dos que partem, o respeito e consideração que merecem e o desconforto com o novo.

Mas penso que é fundamental compreender que uma vida termina para quem vai e para quem fica, e uma outra nasce para ambas as partes. Morre aqui a vida formatada com aquela pessoa, carregada de hábitos comuns, e surge uma outra que exige novas formas e rotinas. Passada a fase do luto, esta pode ser maravilhosa, desde que haja abertura para o novo.   

Se na mídia e na gestão pública e privada a roupagem da morte define a importância dos casos e descasos tão vultuosos, essa é uma questão cultural que afeta o quadrante social e político do país. Daí surge o padrão que “sensacionaliza” a desgraça, que retira o foco de outras questões que devem ser a base de uma sociedade saudável, consentindo um ciclo que se retroalimenta com seus dramas, lástimas e imprudências, tornando o país especialista em apagar os incêndios. Quando cuidaremos dessa terra queimada, que acolhe os cadáveres fabricados por essa sombra que aprisiona à vida faltante?

Todo o meu respeito e consideração a todas as vítimas de todas as tragédias e todo o meu respeito e empenho por aqueles que ainda estão aqui e que não precisam reeditar as tristes histórias.  Cuidemos da terra para melhorar a qualidade dos alimentos da mente e do coração!

Alessandra Melo

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Alessandra Melo

Psicoterapeuta, palestrante, criou a Sanakay Psicoterapia. 

Estuda o comportamento humano buscando diferentes possibilidades de olhar o indivíduo.

Tem formação em Biopsicologia, Psicoterapia Reencarnacionista, Psicologia Analítica de C. G. Jung, entre outras.

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