NÃO VOU ESCREVER SOBRE NADA TRISTE

Não vou escrever sobre a guerra na Ucrânia. Há tantos lugares em guerra dentro do nosso país, que seria hipocrisia tentar entender, lá fora, quem tem razão em uma disputa onde ninguém tem razão.

Não vou escrever sobre a percepção de que a pandemia está chegando ao fim. Ainda morrem, por semana, em torno de 70 mil pessoas no mundo. E pandemia diz respeito ao mundo todo, não somente às nossas bolhas.

Não vou escrever sobre o BBB. Há mais de vinte anos o país gira em torno desse jogo, e torce para que as pessoas coloquem para fora o seu pior, a fim de criar entretenimento. Talvez seja melhor acompanhar o Padre Júlio Lancelotti nas redes sociais.

Não vou escrever sobre o desgoverno em curso que, por incrível que pareça, ainda tem o apoio de pouco mais de 20% da população brasileira. Quem não se sensibilizou com milhares de mortes evitáveis durante os dois últimos anos, com o aval para que a barbárie se estabeleça desde o primeiro discurso, e com a volta da fome e do desemprego a níveis inacreditáveis, não tem jeito: não é sensível às causas sociais mesmo.

Não vou escrever sobre o áudio medonho que, mais uma vez, escancarou o já conhecido machismo que legitima violências dentro e fora das casas. Afinal, o tal deputado teve o “azar” de ter seu áudio vazado, mas há uma infinidade de pensamentos, falas e atos como o seu grassando por aí.

Está decidido! Não vou escrever sobre nada triste, pois há muito motivo para entristecer e é preciso criar novos espaços para a alegria.

 Sobre o que escrever então?

Sobre aquele amor que chegou inesperado?

Deveria arriscar um soneto?

Ou, mesmo versejar livremente sobre as delícias de estar apaixonado?

Pode ser uma boa ideia, o amor é sempre uma boa inspiração.

Então está decidido, tenho duas semanas até a próxima coluna.

Aguardemos, junto com a chegada do outono, a nova visita do amor...

Renato Farias

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