O Budismo e toda forma de amor!

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Recentemente vivemos um grande drama político e das mais diversas polêmicas voltou à tona a inquietante homofobia.

Afinal, os brasileiros são ou não homofóbicos?

Alguns dizem que aqueles que estavam no armário, dele saíram em suas raivas e aversões à comunidade LGBT, e um sentimento de eugenia surgiu como resposta à suas iras. 

No curso da história, as religiões sempre tiveram o papel de influenciador e determinante social por meio de pensamentos, conceitos, ritos e dogmas ditando os seres humanos em quem são e o que são. O filósofo Luis Pondé diz que a religião só funciona se ela ditar as regras de como você se comporta e o que você come, incorporando em seus hábitos cotidianos e a pensar em um grupo. Penso que a função saudável da religião seria fazer o homem pensar sobre si e sua relação em sociedade.

Neste aspecto o budismo se difere de outras vertentes, a pergunta que se faz não é “quem sou eu” e sim “o que sou eu”, visto que não sou uma criação. Vou tentar costurar alguns princípios básicos para entender a vida pela ótica budista. Nesse momento é importante despir todos os véus das religiões ocidentais, sem ideias criacionistas ou ser supremo. Importante frisar que toda preocupação budista gira em torno do sofrimento, sua causa e sua extinção. A vida para o budismo é impar, algo raro e precioso, porém tolhida pelas paixões mundanas. E as três perguntas que giram em nossa conversa serão: isso gera sofrimento, apego e raiva para você e para quem se correlaciona? 

Para o budismo, a vida é um infindável fluxo cármico de incontáveis gerações, podemos correlacionar brevemente com o darwinismo. A Vida se expressa na vida (notem os n distintos), onde a Vida nos é concedida em meio à inúmeras causas e condições. Aqui nos encontramos um dos primeiros ensinamentos do Buda Shakyamuni, a Lei de Causa e Efeito. Em um de seus discursos chamados Sutras, o Iluminado diz, isso existe porque aquilo existe, isso desaparece porque aquilo desaparece. 

Ao mesmo tempo encontramos outra lei, a Impermanência, onde tudo que existe um dia iniciou, existiu e encerrou (transformou), seja em um curto espaço de tempo, como um lapso de pensamento, ou um longo período como a existência deste universo em torno de 13 bilhões de anos. Lembram da aula de quimica e o francês Lavoisier que dizia, na natureza nada se cria nada se perde, tudo se transforma? 

Ainda  os deparamos com outro ensinamento, o da Interdependência. Cada ser, coisa e fenômeno não existem absolutamente sem dependência entre si, por mais distante que uma ação possa reverberar até chegar em nós. Como uma grande malha de pesca, cada nó um ser conectado a outro nó.

Quando eu falo “eu nasci” na verdade deveria ser o contrário, eu “fui nascido”. Eu dependi de diversas causas e condições para que meus pais me concebessem, eu foi alimentado, eu fui educado, e tantos outros verbos na voz passiva. E percebemos então que não existe um “eu em si”, e sim que sou resultado de inúmeras causas e condições, interdependentes e impermanentes que tornam minha existência hoje totalmente possivel. Pensando bem breve em nossa reflexão!

Bom, acho que já temos elementos importantes para interpretar a vida de outro ângulo, o que resume numa impossibilidade de rotular alguém como imoral ou antinatural. Ao final, a expressão da vida é plural, e desejo sexual não fica fora.

O budismo não se preocupa com o desejo sexual em termos morais do gênero, de forma dualístico, por conta de um gênese de criação. Assim ele veio, assim ele é, sendo apenas um dos focos de observação da Atenção Plena e de como reage no ser. O desejo sexual e outros comportamentos estão fundamentados nos Cinco Agregados, os Cinco Skandhas, a saber: Forma, Sensações, Percepções, Formações Mentais e Consciência. Eles são, como todos os fenomenos, impermanentes e interdependentes. Estes cinco agregados perfazem o desejo e comportam os Três Venenos Mentais, as Paixões Mundanas, a ignorância, a ganância e a raiva. Assim temos os sofrimento gerado pelo desejo. 

Com isso, todas as identidades do desejo levam ao sofrimento, uma espiral insaciável que nasce, existe e uma vez satisfeito torna a surgir. Logo, para o budismo tanto faz você ser heterossexual ou homossexual, estamos todos no Samsara e sair dele é o objeto central

Rev Jean Tetsuji 釋哲慈

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