O problema da abstenção eleitoral

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Passado o segundo turno das eleições municipais, realizado no último domingo, o balanço que se tem feito em diversos em diversas análises é de que teria havido um aceno ao centro político, ou melhor, àquilo que se convencionou chamar de “centrão”, tendo sido derrotada a onda bolsonarista, além de um encolhimento da esquerda. Nesse sentido, os partidos que mais se destacam são o MDB, DEM, PSDB, PSD e Podemos. O PT não venceu em nenhuma capital e, em geral, a esquerda como um todo encolheu em 20% nas grandes cidades.  

Um ponto que merece destaque nessas eleições diz respeito a alta taxa de abstenção: 29,5% de eleitores aptos a votar não comparecem nas cidades onde houve segundo turno, número maior que a abstenção de 23,1% observada no primeiro turno. Esta última, por sua vez, supera os 17,5% registrados nas eleições municipais de 2016. A pandemia do coronavírus pode ter exercido um impacto nesse número, mas certamente não é o único fator que explica o salto da abstenção. 

O tempo mais curto de campanha, as regras restritivas de publicidade, a impossibilidade de realização e eventos, a agenda pública ocupada por outros temas e a mudança das regras que facilitam a justificativa pelo não comparecimento, são fatores que se relacionam com isso.

Soma-se a eles, a tão debatida crise de representatividade e a desilusão com as instituições e com a política como um todo.

Além disso, o desconhecimento das atividades próprias de um vereador, e o que cada cargo em disputa pode ou não fazer, de acordo com as competências estabelecidas na Constituição, dificultam que o eleitor se identifique com o processo. Vota-se sem saber exatamente a importância daquela disputa ou, pior, deposita pretensões que não poderão ser cumpridas e que levarão a frustração. Muitos candidatos contribuirão negativamente, ao prometerem aquilo que não é da alçada do cargo, ou por terem assentado sua campanha em temas que são próprios da esfera federal e não diretamente ligados com a lógica municipal. 

 A Folha de São Paulo traz uma análise na qual mostra que na disputa pela prefeitura, nas regiões da cidade onde o atual prefeito Bruno Covas do PSDB mais cresceu, do 1º para o 2º turno, a abstenção foi menor que a média, ao contrário do que aconteceu com Guilherme Boulos do PSOL, que mais cresceu em lugares onde a abstenção também aumentou. No Rio de Janeiro, a abstenção foi recorde e superou os votos que o atual prefeito obteve. 

Assim, a alta abstenção quando fruto do desalento com o sistema, encerra um paradoxo.

O eleitor descrente com o sistema, mas desejoso por mudanças, contribui para que este permaneça como está, permitindo o sucesso daquilo que mais abomina: partidos fisiológicos e mergulhados em denúncias de corrupção.

Longe de desconsiderar a opção dos eleitores por tais partidos ou candidatos, que também é legítima dentro do sistema democrático e as vitórias eleitorais devem ser respeitadas, a democracia não se faz alheia das pessoas. Não haverá transformação vinda pela apatia e pelo desinteresse e, enquanto não houver solução melhor, o sistema representativo não pode ser desconsiderado. É necessário buscar formas para que as pessoas voltem ao debate eleitoral e compareçam nas urnas acreditando no potencial de seu voto. A educação política é fundamental nesse sentido. 

Arthur Spada

Instagram @arthurspada