O que faço com esta criança que nasceu?
“Para se Educar adequadamente uma criança, não se deve tentar ser pais perfeitos, da mesma forma que não se deve esperar que uma criança o seja ou se torne um indivíduo perfeito. “ Bruno Bettelheim
Como pediatra e homeopata este tema é uma coisa comum no consultório. Depois de 44 anos de Pediatria e 25 de homeopatia, onde dividimos todas as dificuldades com a criação de uma criança, convivendo com as angústias e problemas das famílias, acho saudável poder transmitir experiências destas vivências.
Aprendemos a conhecer a família e especialmente esta criança, que nos chega com 7 a 10 dias em nosso consultório, trazida por seus pais, e esperando do pediatra todo o acolhimento que precisam nesta etapa difícil dos primeiros meses de vida do bebe.
É preciso que neste contato haja empatia e ressonância. Muitas vezes você vem por indicação de outras pessoa, mas não se afiniza com o profissional, ou não pensa como ele, ou não está alinhado com os princípios que ele segue para manter a criança de forma saudável em todos os aspectos da sua vivência. É preciso respeitar a criança, nas suas individualidades em cada momento de sua vida, com diretrizes específicas que melhorem esta criança holisticamente.
TODO O PROBLEMA DEVE SER VISTO DE FORMA GLOBAL, ANALISANDO O CONTEXTO EMOCIONAL, INDIVIDUAL E FAMILIAR, OS HÁBITOS E COSTUMES, ALIMENTAÇÃO, AMBIENTE, CASA OU ESCOLA.
São tantas as variáveis no começo da vida de um bebe, que ás vezes, trazem transtorno para o casal, que são indivíduos que vem de famílias, costumes e origens diferentes, e nem sempre tem alinhado os "conceitos” de educação e cuidados.
Até o bebe nascer existe toda uma expectativa sobre ele, que está ali no útero gestando, e já participando do mundo. As mães leem livros sobre gravidez e recém nascidos e como agir nas situações normais ou de conflito. Desde o simples parto que pode se complicar, até o ato de amamentar, que para muitas mães já é uma batalha, ao mesmo tempo que para outras isto flui naturalmente.
Falo sempre que a criança vive no instinto e depois na ação e reação. Tudo que você faz quando ela te solicita ela aprende. Então é importante prestar atenção neste bebe e ver suas necessidades reais. Muitas vezes é calor, cólica, desconforto abdominal para evacuar, fome, que é o mais fácil de você saber. Digo mais fácil, mas alguns bebes passam fome no início, ou porque não aprenderam a pega (no bico do peito), ou porque o leite não desceu ainda, ou porque tem problemas de sucção ou freio lingual.
O primeiro mês de um bebe, é uma mudança de rotina gigante para o casal, que precisa estar alinhado nos seus propósitos, para que todas estas novas questões e aprendizados não criem problemas que tragam conteúdos emocionais de infância e família, deste pais e mães de primeira viagem.
Saber que você vai ter menos noites de sono contínuas, que quando você quer se alimentar seu bebe chora e precisa comer, que você precisa fazer suas tarefas diárias, porque há outras pessoas envolvidas em sua relação. Muitas vezes você já tem outro filho que precisa de sua ajuda também. E aí? Onde você vibra neste momento? A quem você atende? Onde fica sua paciência?
Muitas mães me procuram, porque os bebes não dormem. Há bebes que tem insônia sim, mas são raros. A maioria tem insônia gerada por maus hábitos. Sempre a resposta é: ficou mais fácil fazer deste jeito e então criou hábitos no bebe, que não consigo tirar. É necessário diferenciar o que é necessidade sua e o que é do bebe, por isso repito, ter atenção nas necessidades reais do bebe pode ajudar a evitar hábitos desnecessários que no futuro viram manias e depois mais difíceis de mudar.
Por exemplo: você quer colocar o bebe na sua cama para você poder dormir "melhor", e depois não consegue mais dormir porque colocou o bebe na cama. Tanto ele quanto você agora estão apegados neste hábito! E aí? Como reverter para que ele durma no berço dele? Quem vai sofrer? Todos.
É possível conseguir, mas exige disciplina, sacrifício, e se você.......queria uma solução mágica ela está nesta mundança! Plim!!!!
Nas fases de amamentação precisamos contar com um parceiro maravilhoso, que entenderá estes movimentos da relação mãe e filho e não se sentirá excluído. Mas isto eu vejo com menos intensidade nas gerações atuais de 30 a 40 anos. Estes homens aprenderam a participar da vida dos bebes e apoiarem suas mulheres. Tem um olhar diferente sobre a maternidade, como uma época de reclusão da mulher para as questões do feminino, que é uma questão hormonal mesmo. Não é desinteresse neste homem que ama.
Então precisamos pensar “Quem é este serzinho fruto do meio?“. A responsabilidade do comportamento dos filhos é de vocês, pais. Se vocês não modificarem seu próprio comportamento, eles não modificarão o deles. É o seu espelho, sem considerar ainda o que chamamos hoje de epigenética que já é um outro assunto importante a se estudar.
O budismo nos fala de causas e consequências: esses comportamentos são consequências e não causas, a causa é o comportamento dos pais, que realizam seus desejos e vontades, ás vezes inadequados, que se tornarão os gatilhos das birras do filho.
Então posso dizer que sempre minha tentativa é ajudar, mas as pessoas assumem aquilo que lhes é dado assumir. O aprendizado vem do que você lê e incorpora teoricamente; mas há uma distância bem grande com a prática. Não adianta só ouvir e continuar cometendo os mesmos erros que trouxeram como questão na consulta. Você precisa exercitar a escuta. Não adianta só ver, é preciso enxergar.
Teoria é bom para os livros. A prática é nossa.
“ Civilizar uma criança é antes de tudo, ensinar como viver em sociedade, simplesmente para preservar a liberdade do outro e garantir sua própria liberdade.”
Hayde Haviaras
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