O que queremos para nossos filhos?
Sempre falo que há muitas coisas dentro de nós que trazemos de nossa família, de nossa educação, dos princípios morais e éticos que nos foram passados,. Mas nem sempre são o que se pode aplicar nos tempos atuais, literalmente. Vejo que a mudança da sociedade como um todo influencia todas as estratégias de educação. Você mantém os princípios básicos que farão de seu filho um bom cidadão, inserido na sociedade, desenvolvendo suas habilidades intrínsecas para se sentir pertencendo a este núcleo familiar e escolar ao qual pertence.
As crianças nascem com todas as potencialidades para levar uma vida livre e solta. Já veem com seu propósito existencial preestabelecido. Porém, no contato com o mundo, gradualmente vão deixando este propósito adormecido por conta das induções feitas pelo meio, a qual passam a creditar como verdadeiras e as usam como modelo, acabando por reprimir seu dom natural. Os adultos projetam nos filhos seus desejos não realizados nas escolhas erradas ou impossíveis. Acabam as crianças sendo formatadas segundo as expectativas dos pais.
Quando a criança começa a frequentar a escola e inicia sua vida social, recebe novas informações sobre aquilo que supostamente é certo ou errado. Sobre aquilo que ela deveria fazer na vida. Novos limites e regras são impostos, ideias e preconceitos, opiniões, crenças são transmitidas às crianças.
Carl Jung fala ‘que são transmitidas pelos pais, muitas vezes por várias gerações, seus estados “neuróticos” “. A contaminação mental dos filhos se dá por via indireta fazendo com que eles assumam uma atitude em relação ao estado de espírito dos pais ou reajam em defesa própria por meio de um protesto mudo, ou se tornam vítimas de uma coação interna de imitação, que os paralisa psiquicamente.
Os filhos se vêem obrigados, a fazer, sentir e a viver aquilo que eles não são, mas aquilo que seus pais são. Quanto mais bem sucedida a família é, mas a criança escolherá profissões que lhe deem a mesma riqueza e conforto. Passei por esta experiência com minha filha mais velha que escolheu fazer Artes Cênicas, e eu disse que o importante era o que ela queria como profissão. Filho de médico não precisa ser médico. Fui muito criticada por isso e ainda me questionam até hoje. Mas eu sei que escolhi o caminho certo e ela também. Ela é uma pessoa feliz. Conseguiu se libertar das amarras das "profissões da família”. Todos precisamos exercer nossas habilidades “para exercer os mais altos fins da existência”.
Como estou trabalhando com crianças há 45 anos, vejo o quanto elas estão sendo estimuladas precocemente. Todos os parâmetros de avaliação neuropsicológica que serviam para observar o desenvolvimento das crianças estão defasados, pois elas fazem tudo antes do tempo, tanto do ponto de vista motor como comportamental. É muito lindo estar trabalhando ainda como pediatra e viver esta maravilha em diferentes gerações.
Existe uma ânsia geral de colocar os filhos na alfabetização precoce, por parte das escolas e as vezes dos pais. Precisamos estimular nossa inteligência emocional e deixar as crianças brincarem mais. Não criar responsabilidades de aprendizado precoce, pois isto causa stress nas crianças e estimula a competição num nível intelectual e causando frustração nas que não conseguem se alfabetizar.
Vemos então diagnósticos precoces de TDHA (déficit de atenção), quando na realidade é o despreparo da criança para aquela tarefa. Alfabetizar a criança com 6 anos e exigir que ela acabe este primeiro ano já lendo e escrevendo.
Cada vez mais precocemente usam tarja preta para estas crianças que ficam reféns disso até a vida adulta. Falo que a vida está mais longa para as pessoas, e que podemos escolher e trocar de profissão a qualquer hora, pois temos tempo para isso. Não podemos decidir qual faculdade nosso filho vai fazer, só porque queríamos ser isso ou aquilo. Vamos respeitar suas individualidades e escolhas .
Precisamos ver que há muitos manuais de educação a nossa disposição, que mostram novas maneiras de educar, mas temos que considerar que especialmente, quando somos inexperientes, ou quando estamos lidando com alguma situação especial, que há varias formas de lidar com as situações e podemos pedir ajuda aos profissionais mais experientes.
EXISTE UM MUNDO DE INFORMAÇÕES RECENTES AÍ FORA QUE NOS TRAZEM BASE PARA NOS TRANSFORMARMOS COMO EDUCADORES E PAIS.
“Educar os filhos é uma das tarefas mais instigantes, trabalhosas e estressantes do planeta. E também uma das mais importantes, pois através dela se marca profundamente a próxima geração, influenciando-lhe o coração, a alma e a consciência, a experiência de sentido e ligação, o repertório de habilidades para a vida e os mais profundos sentimentos que essa geração tem sobre si mesma, e seu possível lugar num mundo em transformação acelerada. No entanto, quando nos tornamos pais, fazemos isso praticamente sem qualquer preparação ou treino, com orientação e apoio praticamente nulos, e num mundo que valoriza muito mais o produzir do que o nutrir, o fazer do que o ser.”
Mas o que esses livros costumam deixar de abordar é a experiência interior do trabalho de educar os filhos.
O que fazemos com nossa cabeça, por exemplo? Como evitamos ser engolidos e esmagados por dúvidas, inseguranças, problemas reais que enfrentamos na vida, momentos de conflito interno e momentos de conflito com terceiros, inclusive nossos filhos? Esses livros também não dizem como podemos ficar mais saudáveis e dar mais valor as experiências interiores de nossos filhos.
Para sermos pais conscienciosos, precisamos fazer um trabalho interior conosco mesmos, aliado ao trabalho exterior de criar e proteger nossos filhos. O conselho "técnico" que podemos aprender nos livros para nos ajudar no trabalho exterior tem de ser complementado por uma autoridade interna que só podemos cultivar em nós mesmos por meio da experiência pessoal. Esta autoridade interna só se desenvolve quando nos damos conta de que, apesar de todos os acontecimentos que escapam ao nosso controle, continuamos sendo primordialmente, através das escolhas que fazemos em razão desses fatos e através do que partiu de nós mesmos, os "autores" de nossas vidas.
Nesse processo, descobrimos nosso jeito de viver no mundo, observando o que temos de mais profundo, mais criativo e melhor. Ao perceber isso, podemos acabar vendo como é importante para nossos filhos e para nós mesmos assumir a responsabilidade pela forma como vivemos nossa vida e pelas consequências das escolhas que fazemos.
Hayde Haviaras
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