O que você sabe sobre África?

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Se sua resposta começou com: ah, é um país que... , começou mal.

A África é um continente com uma incrível diversidade de países, climas, culturas, populações, idiomas, etc. E se você pensou em fome, guerra, doenças e outras tristezas, é preciso se informar melhor. Claro que há isso tudo por lá. Como há também em outros continentes.

Mas o continente africano também é um continente de belezas, literaturas, riquezas, sabedorias, manifestações artísticas e culturais. São mais de 50 países com empreendedores e profissionais capacitados. Alguns países mais desenvolvidos, outros menos. Como também em outros continentes.

Aliás, a África é o continente berço da civilização mundial. Pleno de história e grandes reinos, com civilizações avançadas e altas tecnologias. Enquanto estudamos os reis de França, Portugal e Espanha, não aprendemos nada sobre tudo o que acontecia nesse período no continente africano.

E essa é uma das principais estratégias que, em última (ou primeira) análise, serve para legitimar condutas e pensamentos que subestimam as pessoas negras. Não só os africanos, mas todos que, através da diáspora, passaram a ser cidadãos de outros continentes. Pessoas que foram sequestradas, violentadas, renomeadas, animalizadas. E que agora, séculos depois, ainda têm, muitas vezes, sua humanidade negada.

Se você realmente se sente um brasileiro, independente da cor da sua pele, além de almejar conhecer (ou muitas vezes morar) no idealizado continente europeu, deveria buscar saber mais sobre o continente africano e também sobre as populações indígenas que habitavam este território antes da invasão portuguesa. Você vai se surpreender do quanto essas populações foram e são fundamentais para o nosso país. Um boa forma de ir abandonando aos poucos (pois é algo muito enraizado) os preconceitos sobre África, além de transformar a ideia que você tem sobre as pessoas negras, é (re) descobri-la através de africanos que produziram e produzem filosofia, história, poesia e literatura.

Você pode, por exemplo, estudar pensadores e filósofos africanos que há muito vêm mostrando como a visão que o mundo tem sobre África (assim como a própria concepção sobre o que é filosofia) é uma visão eurocentrada. Estudar Frantz Fanon, Aimé Cesaire, Léopold Senghor, Théophile Obenga, Mogobe Ramose, Marimba Ani e Achille Mbembe, entre outros. Pode ler os livros de Chinua Achebe, Wole Soyinka (vencedor do prêmio Nobel), Buchi Emecheta e Chimamanda Ngozie Adichie. Isso só para citar escritores nigerianos. E, além de Buchi e Emecheta, conhecer outras escritoras africanas como as moçambicanas Noémia de Sousa e Paulina Chiziane. Ou a ruandesa Scholastique Mukasonga. Ou, ainda, a ganesa Yaa Giasi.

 Pode lembrar de tudo o que aprendeu sobre o Egito e dar-se conta que todas aquelas histórias de deuses, faraós e pirâmides são histórias africanas. Pode pesquisar a quantidade de línguas faladas no continente e parar de chamá-las de dialetos. Pode mergulhar no panteão dos orixás e descobrir o quanto a comunhão com a natureza e a percepção da espiritualidade como algo inerente ao cotidiano pode colocar em xeque os dogmas impostos pelas religiões ocidentais.

E para alegrar tanta descoberta, pode ouvir a música do pai do afro beat, o também nigeriano Fela Kuti. Uma música que foi bandeira de luta contra poderosos e ditadores. Com a volta do conservadorismo em escala mundial como a que estamos vivendo, o genial Fela pode nos ensinar muito sobre ser resistência.

Segue a indicação de alguns programas que já gravei sobre o assunto:

Estudos Africanos com Aza Njeri e Katiuscia Ribeiro

Africa em Brasil: letras e laços

Mulherismo Africana

África na sala de aula

Beijos Renato Farias

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