O último apaga a luz

Eu estou tão desanimada diante do estado das coisas que escrever essa coluna está sendo difícil. Queria falar efemeridades, discorrer sobre livros que tenho lido, podcasts que tenho ouvido, a última gracinha que minha filha fez ou a saudade que sinto de ver meus amigos. Mas nada disso é possível, porque estou gritando com a alma pra dentro diante de tanta desgraça coletiva que está se desenrolando em 2020.

Numa live, vi o filósofo Ailton Krenak afirmar que:

“Nós somos a pandemia do mundo”.

Fiquei abalada tamanha precisão. Podemos imaginar quantas pandemias causamos nos outros seres? O Pantanal e a Amazônia estão em chamas. O Rio Doce, em coma. E o agro é pop. 

Nêgo Bispo, filósofo quilombola, trouxe, numa conversa com o filósofo e professor Renato Noguera, a necessidade de confluirmos em prol do equilíbrio dentro de outos modelos de Ser e Estar no mundo, pois a forma ocidental de existir está implodindo a Terra. 

O mais interessante nisso tudo é que os Senhores do Ocidente já entenderam que o planeta foi destruído por eles mesmos e se preparam para a colonização de novos espaços. Ou você acha que SpaceX, de Elon Musk, é focada em viagens espaciais à toa?

Também vi esses dias o documentário “Dilema das redes” da Netflix, cujo foco é mostrar, a partir das narrativas e experiências de profissionais do Vale do Silício, como as plataformas de mídias sociais estão reprogramando e manipulando a sociedade. Angustiante. Nós somos o produto e os algoritmos estão tão avançados que, de certa forma, já se perdeu o controle humano sobre eles. - Embora meus amigos da área tenham dito que não é bem assim e que o documentário foi irresponsável e sensacionalista ao transmitir a informação. Enfim...

Saíram também dois estudos importantes por esses dias: primeiro é o Mapa da Violência 2020 que continua reafirmando o genocídio da população negra no Brasil. E o segundo é a Análise da Segurança Alimentar no Brasil (IBGE) que apontou que 10,3 milhões de brasileiros moram em domicílios com insegurança alimentar grave (eufemismo para fome).

Volto a Ailton Krenak: “Estamos viciados em modernidade” e precisamos romper com essa lógica. Não acredito que isso possa acontecer apenas reiniciando o capitalismo, como propõem ocidentais com o seu great reset.

Acredito que precisamos nos despir do ocidente antes que o último saia e apague a luz.

Aza Njeri

Instagram @azanjeri_