Qual a beleza que lhe cabe?
“Vivemos uma verdadeira ditadura da beleza!”
Quantas vezes já não ouvimos essa frase e nos manifestamos de maneira intensa e enfática sobre o assunto?
Amigos, especialistas ou debatedores de plantão apresentam palavras motivacionais do tipo:
“aceite seu corpo como ele é”,
“você é bonita de qualquer jeito”,
“a beleza vem de dentro”,
“não existe uma beleza padrão existe ser feliz” e coisas do tipo.
E todas essas frases são validas, de certa maneira. Mas fato é que vivemos sim uma ditadura da beleza.
Lutamos contra um padrão estabelecido, mas ele está aí: ditando moda, comportamento, ditando acessibilidade social e econômica, suas possibilidades para um relacionamento.
É claro que existem as exceções, claro que existem outros caminhos, mas via de regra existe sim um padrão que determina qual é o Norte. Nem que seja para nega-lo.
Nos sacrificamos para nos encaixarmos nesse padrão ou lutamos contra ele. E se a sua escolha é a segunda opção, você tem que se deparar com aquilo que, pelo outro, é considerado um defeito em você. Você luta incessantemente para se convencer que não tem defeito (e não tem mesmo), mas se torna muito difícil acreditar quando tudo diante dos seus olhos te nega.
Para piorar você ouve uma mulher linda – a partir do padrão estabelecido – dizendo que também tem suas inseguranças, seus medos, e é legítimo porque o que nos é cobrado é inatingível! Porém, ela está dentro desse padrão. Mesmo que não seja o exemplo da perfeição exigida, mas ela está orbitando dentro daquele universo e isso lhe confere privilégios.
E você, que se vê a anos luz de distância do mesmo patamar, ouve uma mulher dessas falando, por um lado se sente menos mal porque vê que mesmo alguém que é aceito por essa estrutura também está se questionando. Mas por outro você se sente mais cocô ainda, porque se está difícil para ela ou ele, imagina então para você?
É muito angustiante porque a própria luta contra o padrão é determinada por esse padrão. Um ciclo vicioso, castrador, sufocante, que só algumas poucas pessoas conseguem se libertar de fato. Talvez por carregarem outros privilégios... difícil dizer...
Não escrevo para desanimar ninguém, mas para chamar a atenção para o fato de que é importante sim pararmos de dizer que não existe padrão porque ele existe. Ainda. E só entendendo isso é que vamos poder caminhar (e vejo com alegria que já estamos caminhando) na direção de uma verdadeira aceitação do outro em todas as suas multiplicidades.
Precisamos aceitar sem culpa esses momentos em que não nos sentimos bonitas, não nos sentimos incríveis, esses momentos em que dizem que você está ótima, mas aí você sobe na balança e o número te diz outra coisa porque a balança também é regulada por esse padrão.
Precisamos aceitar sem culpa e dizer: isso não me pertence porque não fui eu quem criou essas regras.
Assim sim vamos estar em um bom caminho para entendermos que somos bonitas ou bonitos ou bonites do jeito que nos sentimos, quando nos sentimos, e se nos sentimos e tá tudo bem. Tá tudo bem, as vezes, não se sentir atraente o suficiente porque não TEMOS que lutar incessantemente contra um padrão estabelecido, tão pouco aceita-lo.
Talvez apenas viver seja o primeiro passo. Compreender que um dia você vai se aceitar e no outro não. E que isso talvez tenha muito mais a ver com seu estado de espírito do que com algo externo que te determina como as coisas tem que ser.
Existir já é árduo demais, e ao mesmo tempo maravilhosamente belo.
A beleza que me rege tem medidas, cor, comportamento.
A beleza que me acolhe é a vida em toda a sua complexidade.
Tatiana Tiburcio
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