Quando os anjos dormem
Quando os anjos voam
Os anjos cantam. Eles brincam alegres sob o olhar daqueles que amam e que os amam. O sol brilha forte, a alegria se faz presente. O amor de sua ancestral esta chegando. A festa vai terminar em comida. Um lanche esperado e de repente dois barulhos alto. Um para cada anjo. Não tem mais música. Não tem mais o olhar radiante. Não tem mais o brilho do sol... a alegria sumiu. A festa acabou.
Os anjos se distraíram e não conseguiram driblar a mira sobre o alvo que carregam nas costas bem maior que suas ainda pequenas asas. Mas não são todos os anjos que carregam esse alvo. Só os anjos com a cor da noite... por isso eles precisam brincar atentos, porque o barulho pode vir de qualquer lado e o desafio é dribla-lo para tentar chegar à fase adulta, com asas maiores, que possam tentar com discurso, conhecimento, luta, esconder um pouco seu alvo e confundir o barulho.
Mas os anjos estavam tão felizes que pensaram ser apenas anjos e se entregaram para alegria de suas existências. Baixando a guarda e ousando viver como todos os anjos.
Não pode! O barulho os achou.
Que triste a vida dos anjos cor da noite, que nem podem apenas existir!
Mas o que o barulho não sabe é que ele pode até tirar a vida dos anjos, mas nunca conseguirá apagar o brilho de sua noite. Insistimos em existir.
E quando a tristeza bate em quem fica, uma porção de anjos surgem diante dos nossos olhos. Não mais cantando, mas tocando... e dançando; e recebendo muitos barulhos de todos os lados no final de sua apresentação. Mas não barulhos que os fazem desaparecer diante de nossos olhos, mas barulhos que elevam, engrandecem. Barulhos de aplausos. Muitos aplausos. E quanto mais palmas se bate maiores ficam as asas dos anjos cor da noite.
E aos espíritos destes são agregados todos os que não conseguiram driblar o barulho ruim. E suas asas ficam tão grandes e poderosas que ao se abrirem nos fazem lembrar das palavras de um anjo cor da noite que conseguiu crescer e viver muito.
Ela disse: “Eles combinaram de nos matar. Mas nós combinamos de não morrer”
Por isso, a cada um de nós que cai, os outros de nós grita bem alto, e sapateia, e se junta e se fortalece e diz: ESTAREMOS SEMPRE AQUI!
À Emilly, Rebecca, João Pedro, Agatha e todos os anjos cor da noite que se foram, não quero falar de dor. Me despeço com um sorriso e esperança que suas asas possam bater mais forte no peito dos que ficam para que possamos ter forças para sambar em cima da indiferença. Pisar com um salto 15 na cara da cegueira que assassina, violenta e mata os corpos cor da noite. Eu quero dar um passo de gafieira sobre a omissão do Estado e a opressão da branquitude. Porque viver e crescer ainda é um direito que nos é negado.
No entanto, eu quero o barulho de aplausos para a vida. Como resistência à dor e à morte.
Tati Tiburcio
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