Sobre novos tempos

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Não é desconhecido de ninguém que estamos vivendo momentos sombrios (pelo menos para alguns de nós, porque infelizmente tem gente que acha que tá tudo certo!). Mas também é interessante perceber que mesmo em momentos onde a intolerância - em todas as suas manifestações - a ignorância, o neo liberalismo, a homofobia e todos os retrocessos pare em ganhar volume, força e uma voz estridente, a reação positiva e transgressora também se faz presente. 

 Quanto mais acuada a liberdade está mais ela encontra brechas pra resistir.  

 Eu estou muito acostumada a ver a resistência e a resistir, nos “frontes de batalha : passeatas, reuniões de movimentos negro, artístico e social. Mas é lindo perceber, ser surpreendido mesmo, com a resistência acontecendo no dia a dia, de forma direta, não pela sobrevivência que é quase instintiva, mas pela consciência manifesta e defendida.

 Essa semana teve festa junina no colégio do meu filho. E como em todo ano, eles não fizeram o arraial, mas uma festa que celebra a diversidade cultural brasileira. O ritmo escolhido pra festa esse ano foi (Pasmem!!!) O IJEXA. Um ritmo africano que a gente adora dançar mas que desconhece todo o simbolismo que o cerca. 

 O IJEXA está presente nos movimentos dos Orixas em seu culto sagrado. E pela coragem dos professores e coordenação pedagógica da escola visando a desmistificação das religiões e mitologias de matriz africana, tive a alegria de ver minha ancestralidade festejada. Num momento onde terreiros de candomblé estão sendo destruídos e os sacerdotes de nossa cultura sendo humilhados e desrespeitados com a conivência de um estado “terrivelmente evangélico" num país laico, é grandioso, corajoso e revigorante ver uma professora de música, mulher, pegar o microfone e proferir antes da dança das crianças um discurso que da um tapa na cara da intolerância e nos convida a amar ao próximo como a si mesmo. 

Ensinando nossos filhos, que independente da crença de cada um, existe beleza no outro. Troca e aprendizado. Não concordamos em tudo, vemos as coisas por prismas diferentes mas é justamente isso que torna a vida tão maravilhosa. É na diferença que nos igualamos e no respeito e aceitação da mesma que de anos seguir.

Chorei. Não só como mãe, mas como cidadã, mulher negra, como gente! Vi meu filho e seus amiguinhos aprendendo humanidade e não foi pelas minhas mãos. Chorei de alegria, de esperança e sai mais forte. Aquela professora que nos dias atuais está duplamente ameaçada por ser professora e por ser professora de arte (música) diante de uma plateia gigante, de país em sua maioria defensores do atual governo (mesmo tendo a escola dos seus filhos ameaçada pelo mesmo governo), segurava corajosamente um microfone e bradava a crença na diversidade e no amor. 

 Que orgulho de ser gente eu tive naquele momento.

 “Só a arte é livre e portanto capaz de mudar qualquer coisa"

 

Tatiana Tiburcio

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Compartilho com vocês o vídeo que gravei durante a festa!

“Só a arte é livre e portanto capaz de mudar qualquer coisa"