Um novo olhar para a mesma boca

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A boca tem Céu, a boca tem Chão, tem uma Constelação de Estrelas e um Ser estranho e confuso se mexendo quase o tempo todo no meio.

Foi Rupi Kaur em “Outros jeitos de usar a boca”, falando de seus sentimentos mais profundos, quem despertou a vontade de compartilhar o que tenho observado ao longo de tanto tempo na área.

Mamar, sorrir, beijar, sugar, chupar, mastigar, engolir, tragar, cuspir, tossir, beijar, lamber, falar, vomitar, comer, expressar, mentir, beber... São tantas ações que não percebemos o quanto a boca é usada e abusada.

Pela boca inicia o processo de digestão. Digerimos alimentos e sentimentos que experimentamos o dia inteiro. Ruminamos nossos pensamentos. O que muitos não sabem é que tudo isso fica registrado.

Através de desgastes, cáries, abscessos, fraturas, apinhamentos, traumas, lesões autoimunes, destrutivas, ulcerativas, virais, fúngicas, nosso Espaço nos conta uma história interna. As enfermidades são tentativas desesperadas para mostrar como estamos. Muitas vezes é o dente que explode, como uma supernova. Poderia ser o coração.

Somos nós os principais responsáveis pelo que acontece conosco, e não bactérias, fungos ou vírus. Hoje se sabe que a cárie, por exemplo, é uma disbiose da nossa própria flora bucal. Esse desequilíbrio é nosso, não vem de fora, do outro; não é contagioso.

Alimentação pastosa e comidas muito macias tiram o prazer em mastigar, de sentir com calma que a Vida é feita em pedaços, texturas diferentes, que tem sabores. Esquecemos a riqueza e a diversidade dos alimentos que temos no Brasil. Atrofiamos além dos saberes da nossa terra, nosso corpo. O uso cada vez mais frequente de aparelhos ortodônticos demonstra essa atresia.

Não seria melhor diminuir a correria diária e o excesso de atividades para que nós e nossos filhos sejamos mais saudáveis? É necessário lermos os sinais antes que a doença apareça, principalmente nas crianças. Elas não conseguem nos dizer com palavras que: algo não vai bem!

Felizmente podemos prevenir cáries e diversas doenças com pequenos atos como: ter tranquilidade e carinho na hora de fazer a higiene da boca, mostrando, desde bebê, que essa limpeza é necessária para remover alimentos. Ter Paciência e Presença na hora de cuidar de você e do outro. Através de brincadeiras, contando histórias ou simplesmente olhando com ternura, é passada uma informação que esse hábito é agradável. Pois é imitado o que se vê e sente. O que um sorriso nos diz?

Portanto, como queremos viver é uma atitude. Da boca só sairá o que de dentro estivermos cheios. Cuidar amorosamente da boca, também, é normalizar a função necessária para que essa pequena engrenagem orbite de forma harmoniosa, para o nosso bem e o bem de todos.

Marisa Salvador Dominguez

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Marisa Salvador Dominguez

é Cirurgiã-dentista

Odontopediatra

Homeopata

e Terapeuta floral