25 DE MAIO, DIA DA ÁFRICA
Hoje é o Dia Mundial da África, uma data celebrada anualmente pela União Africana (UA), organização continental que promove a integração entre os países do continente africano e as afro-diásporas nos mais diferentes aspectos. A organização foi fundada em 2002 como continuidade da Organização da Unidade Africana, criada em 25 de Maio de 1963.
Basicamente o Dia da África surgiu como Dia da Liberdade de África e Dia da Libertação de África consequente das discussões dos congressos africanos que aconteceram nas décadas de 1950 e 1960.
O Primeiro Congresso dos Estados Africanos Independentes realizou-se em Acra/Gana, em 15 de Abril de 1958. Puxado pelo pan-africanista e Primeiro-Ministro ganense Dr. Kwame Nkrumah, foi composto por representantes do Egito (que neste momento integrava junto com a Síria a República Árabe Unida), da Etiópia, de Gana, da Libéria, da Líbia, do Marrocos, do Sudão, da Tunísia e da União Popular dos Camarões.
Interessante que por conta do racismo e apartheid a União da África do Sul não foi convidada, mas eu teria que fazer um outro artigo só para dar conta disso.
O mote do encontro era pensar a expulsão dos colonizadores e a libertação do continente africano, visando a autodeterminação dos povos de África. E nesta ocasião, pensou-se a data simbólica que só foi instaurada cinco anos depois, em conferência ocorrida em Addis Abeba, Etiópia, em que a Organização da Unidade Africana foi efetivamente fundada marcando a data.
De lá para cá, a descolonização física aconteceu, mas há muitas críticas a serem feitas, como, por exemplo, a dependência econômica de ex-colônias com as ex-metrópoles. Também precisamos considerar as formas de neocolonização que o século XXI nos impõe e não exime a África do balaio.
Talvez, hoje, países como a China estejam implementando políticas colonizadoras e exploradoras como um dia fizeram as potências ocidentais. Mas esse também seria um outro papo.
O que eu gosto no dia de hoje é pensar a minha pertença enquanto afro-diaspórica/afro-brasileira no dia de África. Apesar de um Atlântico de distância, os Valores Culturais Africanos foram desde 1500 nosso esteio de resistência nessa desgraça coletiva e desumanizadora daqui.
Sejam nos quilombos, candomblés ou favelas, valores[1] africanos como musicalidade, circularidade, energia vital, corporeidade, cooperatividade, oralidade e ludicidade constroem as nossas relações humanas.
Sabendo que o tempo do regresso físico já passou, me coloco enquanto alguém que retorna ética, moral e civilizatoriamente, mas que, sobretudo, compartilha esses conhecimentos para que novas construções de mundo sejam possíveis.
Como um dia já escrevi nesta coluna, faz parte do nosso Espólio de Maafa[2], nos nutrirmos dos fôlegos de África e, assim como fizeram os nossos ancestrais, construirmos a nossa continuidade, resistência e permanência a partir de um ethos africano, cuja centralidade da agência seja a experiência negra.
Enfim, uma data alento para dias tão sombrios. Saúdo a minha terra-avó, África. Aquela que me ensina a unidade na diversidade. Axé.
Aza Njeri
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[1] Valores civilizatórios afro-brasileiros é uma construção da professora Azoilda Loretto Trindade para o projeto A cor da Cultura. http://www.acordacultura.org.br/oprojeto
[2] Conceito cunhado por mim na pesquisa de Pós-doutoramento em Filosofias Africanas/UFRJ. https://revistas.ufrj.br/index.php/Itaca/article/view/31895/19770