454 mil despedidas
“A noite se repete
Porque se repete o dia
Tristeza só existe
Porque existe alegria
(...)Por existir a vida
É que a morte impera.”
Nelson Sargento
Nunca soube lidar com finais, partidas ou despedidas. Não que os encontros fossem mais fáceis.
O descobrir o outro e ao mesmo tempo ser descoberto, desnudado. Abrir-se. Mas os finais são sempre piores. E é tão difícil assistir a tantos finais inesperados e indesejados. A morte, essa piada de mau gosto. Um final injusto. Uma ausência definitiva. Um buraco perpétuo. Para quem fica e pra quem vai.
Não ouvir de novo a sua voz, ou sentir o gosto daquele prato que só você fazia. Não ter mais resposta, nem mais um nada. Uma coluna no jornal que desaparece, um disco que nunca mais vai ser lançado.
E que a gente ignora para seguir em frente e coloca na estatística. Mais um. Milhares. A vida é uma constante obra inacabada. Um sem-fim de trabalhos não terminados, relações desfeitas e palavras não ditas. Que não serão ditas, porque nem foram pensadas. Também não teve um começo, que não é o nascimento.
Há o que esperançar, ou tudo não passa de uma causa perdida, onde a gente escolhe quem perde melhor?
Em Miami, depois de passar férias no caribe. Há o que ser descoberto, que ainda precise apontar o dedo? Tem que saber improvisar, de frente para o espelho a beira do abismo. A que será que se destina?
Abre essa porta para essa estrada escura, que a gente vai caminhando enquanto ainda há mais e mais. Que alguém sempre te socorre. Na trilha desse destino, pega essa flor que ela é vida. A gente ainda precisa desses encontros.
Eu quero aprender a ser, assim como você me ensina. Por cima disso tudo, enquanto não há nada o que fazer. Terminar de não acabar enquanto ainda é. Eu estarei por todo tempo procurando por onde buscar. Olhando estes passos que foram dados tão firmes e até o fim.
E com isso me abro sem perceber ao que vem de repente. Esse encontro efêmero, essa água que evapora tão depressa sem nem ao menos ter descongelado. A esses encantos, no pequeno, no sensível.
Eu te permito enquanto escapo até a próxima vez. Até me deparar mais uma vez, com essa obra inacabada, com esse tempo em que a sombra é reluzente. Com esse choro compassado, essa espera de quem tem fome.
Arthur Spada
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