UM VÍRUS SOZINHO NÃO FAZ UMA PANDEMIA

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Com a chegada da pandemia de Covid-19, muitas palavras, conceitos e expressões passaram a fazer parte do nosso dia a dia. Termos que fazem parte do universo médico, ou epidemiológico, acabaram sendo integrados ao nosso vocabulário, muitas vezes sem reflexão ou aprofundamento. Um desses conceitos é o de grupo de risco.

Já na epidemia de Aids, no fim do século passado, essa expressão foi duramente criticada e questionada. A rápida associação de apenas alguns grupos ao perigo de contrair o HIV teve, pelo menos,  dois resultados desastrosos.

O primeiro fez com que muita gente, por se sentir imune ao perigo, se contaminasse. Como, por exemplo, as donas de casa.

O segundo fez com que os homossexuais carreguem um estigma que, somado ao preconceito, até hoje é responsável por muito sofrimento.

Já a pandemia de Covid-19 chegou ao Brasil acompanhada da compreensão de que os idosos e as pessoas com co-morbidades seriam os grupos de risco da vez. Uma compreensão vinda de países europeus, afetados previamente pela doença, e que possuem sociedades com muito menos desigualdades sociais do que a brasileira.

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Para entender os impactos sociais da Covid-19 no Brasil, a Fiocruz acaba de lançar um e-book gratuito, onde analisa uma série de fatores que determinaram, e seguem determinando, a evolução da doença por aqui. São estudos e pesquisas que fazem com que saiamos dos lugares comuns e possamos entender melhor quem são as vítimas brasileiras.

Para que possamos tratá-las de uma forma mais humana e não como estatísticas apenas. O astronômico, crescente e lamentável número de mortos esconde histórias, sonhos desfeitos, famílias afetadas e perdas irreparáveis.

A leitura nos permite, também, perceber que um vírus sozinho não faz uma pandemia, pois explica como as condições sociais interferem diretamente nos rumos da doença. Enquanto uma parcela da população pode se proteger, se alimentar, lavar as mãos, usar equipamentos de proteção, milhões de brasileiros não têm onde morar ou não podem ficar em casa, passam fome, não tem água, sofrem com a violência do Estado, entre outras privações. Isso afeta diretamente a vulnerabilidade de cada cidadão para que seja infectado, venha a contrair a doença, ou até morrer de Covid-19.

Assim, é preciso falar de vulnerabilidades para entender quais grupos têm mais risco de adoecer e morrer no Brasil e que, consequentemente, deveriam ter acesso prioritário não só à vacina, mas a programas sociais eficazes.

Pois “não importa quão eficaz seja um tratamento, ou quão protetora seja uma vacina, a busca por uma solução puramente biomédica contra a Covid-19 vai falhar”.

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