A LILI QUER DANÇAR !
- Tio, tio, a Lili quer dançar.
- É, meu filho? E quem é a Lili?
- A Lili – berdade!
Esse diálogo aconteceu com um menino que assistiu Negra Palavra Solano Trindade, na Praça da Ponte em Miguel Pereira, no domingo de Páscoa.
Pela primeira vez apresentamos a peça na rua e, após um cortejo proposto pela Gira Cia Andante, dezenas de crianças se conectaram com o elenco e seguiram conectados com o espetáculo.
No teatro burguês, exige-se o silêncio. Espera-se que as pessoas sejam bem comportadas. Na rua, o inesperado é quem comanda o espetáculo. E as crianças estão no tempo presente, reagem de acordo com o que sentem. Sem filtros, sem convenções.
Negra Palavra Solano Trindade é um trabalho feito, a princípio, para adultos. As poesias de Solano trabalham com a simplicidade e são repletas de sofisticação. O que reforça a percepção de que as crianças são tão simples quanto sofisticadas.
Todos nós, artistas, temos uma primeira lembrança de como a semente do teatro foi plantada na nossa alma.
Certamente naquela apresentação muitas sementes foram plantadas. Mesmo que, daquelas crianças, não nasçam novos atores ou pessoas de teatro, a memória da troca artística, poética e afetiva vai acompanhá-las.
Da mesma forma que já impactou a trajetória do Coletivo Negra Palavra que tem 3 anos de existência.
Uma outra experiência foi feita pela Companhia de Teatro Íntimo, em 2013, quando fizemos Erê, Piá, Curumim – Poesia para Crianças de Todas as Idades. Vasculhamos a obra de 7 poetas (Adélia Prado, Ana Cristina César, Cecília Meireles, Drummond, Jorge de Lima, Manoel de Barros e Mário Quintana) e elegemos um repertório que nos parecia se comunicar diretamente com as crianças. Já tinha sido impressionante como, mesmo crianças muito pequenas, recebiam as poesias com atenção.
E agora, com as palavras de Solano Trindade, voltamos a receber a bênção dos erês que trazem consigo tudo o que um ator persegue: entrar em cena com o afeto aberto para estar na presença.
E, a partir das palavras do Poeta do Povo, é do povo que vem a resposta: queremos todos dançar com a liberdade que a arte nos traz.