Arte contra a barbárie

CATRACA LIVRE

CATRACA LIVRE

Em 1999, algumas companhias paulistas de teatro lançaram um movimento chamado: “Arte contra a barbárie”. Contrários à visão neoliberal que havia tomado conta do Brasil com o governo Collor e que, posteriormente, foi aprofundada por FHC, os artistas reivindicavam alternativas à mercantilização da arte.

Entre as propostas do movimento, estavam não só a sobrevivência dos grupos teatrais que não pensavam no teatro como mercadoria, mas o enfrentamento ao pensamento neoliberal sobre o papel do Estado em relação à cultura.

O movimento cresceu e transformou o panorama teatral paulista. Fomentou o trabalho de grupos e companhias, garantindo a pesquisa e a produção de espetáculos e permitindo que muitos trabalhadores da cultura pudessem desenvolver seu trabalho.

Após o golpe de 2016, Temer trouxe o projeto neoliberal de volta ao país. Saúde, educação e cultura voltaram a ser dominados pelo pensamento mercadológico. Com Bolsonaro e seu posto Ipiranga, o pensamento privatista, que inclusive já foi ou vem sendo abandonado no mundo todo, se aprofundou com voracidade.

A sanha de destruição da coisa pública deu início ao desmonte de inúmeras iniciativas de sucesso e abriu caminho para o aprofundamento da tragédia causada pela pandemia.

Já está mais do que provado que países que seguem a cartilha neoliberal não conseguem responder aos desafios provocados pelas crises sanitária, econômica e ambiental que enfrentamos.

O Estado que abdica do seu papel de fomentador perde a oportunidade de fazer a economia girar e de proteger não só a saúde dos seus cidadãos, mas também de pequenas e médias empresas que são responsáveis por milhões de empregos.

Sem falar no desmonte em pesquisa e inovação que resultou na perda de autonomia na produção de insumos e equipamentos que estão fazendo muita falta no combate à pandemia. A necessidade de importar respiradores, medicamentos e vacinas, por exemplo, aumenta o gasto público, coloca o país à mercê de disputas internacionais e mata milhares de pessoas.

Hoje, a barbárie está instalada! Naturalizamos o número de mortos, a incompetência do presidente e seus ministros, a maldade de políticos envolvidos com assassinatos escabrosos, o sofrimento de pessoas que padecem sem acesso a cuidados dignos de saúde...

Teatro jornal

Teatro jornal

Estamos perdendo, temporariamente, a luta contra a barbárie. É preciso que voltemos a nos chocar com toda essa tragédia que se abateu sobre nós! E a política neoliberal é a base cínica dessa tragédia.

É preciso voltar a discutir o papel do Estado, a necessidade de saúde e educação públicas e de qualidade e a importância de uma arte que liberte o pensamento. É o investimento em cultura que permite ampliar os horizontes para muito além dos grilhões impostos pela censura e pelos fanatismos religiosos.

É preciso voltar a defender a arte, a saúde e a educação contra a barbárie!

Renato Farias

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