As vezes é melhor calar!

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Essa semana fomos assolados por um novo julgamento na internet. Levantou-se a bandeira de que os artistas deveriam se posicionar por conta de sua grande influência junto a seus seguidores (confesso que essa definição me angustia um pouco: seu comportamento ser regido pela expectativa do outro em relação a você. Enfim! Tempos modernos. Sigamos.

Li muita coisa, refleti sobre tantas outras e a angústia só aumenta pela constatação de alguns fatos.

Para começar vivemos em um país onde “se a farinha é pouca o meu pirão primeiro”.

De diversas formas esse ditado se vê presente no comportamento dos brasileiros que medem sua indignação a partir do tanto que as questões o atingem. Ou seja, nos falta empatia em questões sociais e políticas, e nos sobra nas competições esportivas e na nossa (muitas vezes) lavagem de consciência traduzida em ajuda humanitária/caridade durante uma catástrofe natural.

Catástrofes essas que na maioria das vezes são provocadas pela ação do homem traduzida em omissão do estado em relação as comunidades periféricas dos grandes centros urbanos, moradias irregulares surgidas novamente pela omissão do estado abrindo brecha para a ditadura das milícias, exploração irresponsável dos recursos naturais que visa apenas o lucro de poucos colocando a vida de muitos em risco, e por aí vai.

Esse pensamento autocentrado para analisar questões coletivas, nos levou, de alguma forma, para o lugar assustadoramente perigoso que estamos vivendo agora.

Navegamos perigosamente em águas fascistas marcadas por um nacionalismo danoso porque se opõe ao dialogo absolutamente necessário em qualquer relação humana, e que se faz ainda mais imprescindível como ferramenta política em um país tão plural em todos os sentidos quanto o nosso.

Na verdade, não é que falta empatia para esse grupo de pessoas que comungam e difundem uma visão tão binária das coisas. A questão é que eles têm empatia, mas pelos seus.

Pelos que compõem a sua bolha. E só! Porque ao resto, pela sua visão, cabe a extinção ou o silencio.

Portanto, não existem dois lados da discussão quando o assunto é democracia. A democracia é inquestionável porque só ela nos permite coexistir enquanto sujeito político e social.

A outra possibilidade, que se tem feito cada vez mais forte nos tempos atuais, ignora o que pensa diferente. Não busca os pontos de interseção nos discursos na tentativa de achar o melhor caminho para todos.

Quem criou essa despótica polaridade foi esse pensamento antidemocrático! Alimentando fantasmas comunistas que não existem, pintando tudo de vermelho distorcido porque demonizando, roubando para si um símbolo da nação como a bandeira do nosso país fazendo com que todos que comunguem de seu discurso tenham o direito de vestir-se de verde e amarelo, quem pensa diferente se torna praticamente um apátrida.

“Impregnaram um símbolo de todos com um discurso único.”

O que está em jogo hoje não é o PT DO DEMÔNIO versus a NAÇÃO DO DEUS ÚNICO ACIMA DE TUDO.

O que está em jogo hoje é a nossa liberdade de existir em nossas diferenças.

E para defendermos esse direito de TODOS, não podemos ficar em cima do muro.

Mas isso também não significa que todos temos que nos posicionar publicamente o tempo todo. É cansativo, desgastante, eu sei. Por isso, é preciso enxergar a questão para além de nossas bolhas. É preciso se colocar para fora de nossos privilégios, nos colocarmos no lugar do outro. Sermos capazes de abrir mão de determinados privilégios em benefício do todo.

“E isso não é comunismo. Isso é empatia.”

Se não conseguimos articular um pensamento a partir desse princípio visando verdadeiramente a coletividade, é melhor que fiquemos calados publicamente!!!

Porque um discurso que não dialoga com as diferenças é um discurso que reforça a imposição de uma fala única.

E isso acontece porque esse discurso, que se diz imparcial e que muitos traduzem de “em cima do muro” parte de uma análise autocentrada.

Pode parecer contraditório o que vou dizer, mas vivemos uma realidade onde o direito de voz diversa, ou seja, a democracia, está claramente ameaçada e quando isso acontece, só existe um lado a seguir: a defesa da mesma.

A defesa da democracia que é quem vai nos garantir o direito de discordar em um debate justo. Em um estado democrático eu posso escolher entre os diversos lados qual melhor dialoga com o que eu acredito. E se ele não atender as expectativas eu posso abrir mão do mesmo e seguir em outra direção. Existe espaço para a mudança de opinião ou a possibilidade de afinar ou melhorar o debate. Em um estado totalitário “um manda e ou outro obedece. Simples assim”

Neste momento em que vivemos, estar contra o que aí se apresenta não é necessariamente estar a favor de um determinado partido ou político. É estar a favor da democracia.

Portanto, se você – principalmente você que influencia tantas pessoas – não consegue entender isso; você quem criou essa distópica polaridade , criada para ratificar o discurso de um falso messias; você que, por exemplo, deseja um estado mínimo porque tem dinheiro para bancar sua saúde, sua segurança, sua moradia; você que não consegue entender que diante da ameaça ao nosso sistema democrático a única saída é a união das vozes contra aquilo que quer calar e unificar todos debaixo de uma falsa ideia de nação; você que se recusa a ver isso é  melhor mesmo que se cale.

Porque entre a democracia e a antidemocracia, não existe esse seu conveniente caminho do meio.

 Tatiana Tiburcío

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