Como é ser uma Pessoa Trans em um País de Falso Moralismo?

Bia Leite - Queer Museu

Bia Leite - Queer Museu

Desde criança ( 5...6 anos) já apresentava uma feminilidade que causava “estranheza” entre familiares. Mãe que reproduzia discurso machista, dependência de “marido” pra se sentir realizada. Eu sempre causando incômodo (achava isso) pra ela e pra todos ao redor, motivo de chacotas, apelidos pejorativos, “viadinho” da família, do bairro, da escola. Não sei de onde saiu força e coragem pra nunca baixar minha cabeça. Nem para mãe ADORADA ,nem pra amiguinhos, primos (que me usavam ,se é que me entendem), colegas de escola, enfim!

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Segui o curso de minha vida, apanhando pra tomar jeito, apanhando com as chacotas, humilhações na escola, nos empregos enquanto ainda era apenas “gay”.  De tanto apanhar, acho que aprendi a ser forte (sem perder a doçura, acho...rs). Apanhando da vida e dos sentimentos, amores complexos que me tornaram mais “incrédula” no amor (não pros outros, mas pra mim, mesmo tendo uma quantidade absurda de amantes e “namorantes” heteros casados, com NAMORADAS, NOIVOS etc. Chega uma hora que cansa sabe?

Hoje aprendi a ser feliz com minha própria companhia, sem romantização de “amores” apenas vivendo momentos (que por sinal ,adoro!) Aos 27 anos, transicionei, me hormonizei, injetei silicone e trouxe a tona a trans que eu recusava entender que era. Não pra ser “mulher” nem imitação (ou superação de alguma, jamais!) Apenas por identificação, admiração e até mesmo HOMENAGEM.

Descobri que queria cultuar uma classe que admiro: as mulheres fortes, independentes, empoderadas. Transicionei “tardiamente” pois já era difícil ter trabalho sendo gay assumida, imagina UMA TRAVESTI (o termo é UMA, pois somos em gênero FEMININAS, afinal não é esse o fetiche que somos? Mulheres com algo a mais? “talentos” a mais? Que quase “homem” nenhum ousa  dizer que GOSTARIA em suas “mulheres reais”? Não é fácil ser só o fetiche, o apoio, o escape. mas dá pra viver.

Nem todas pessoas trans tem as mesmas forças pra superar O PRECONCEITO, A SOLIDÃO, O INTERESSE. Nossa classe sempre é TAXADA como pessoas “DOENTES” mas tudo porque temos o PEITO de LUTAR para renegar padrões impostos por “biologias”, dogmas religiosos fundamentalistas e hipocrisias sociais. O Brasil é o país que mais acessa conteúdo pornográfico de travestis e transexuais e é campeão no ranking de EXTERMÍNIO dessa mesma população. Que ao ser “usada” é descartada. Por isso , somos MERCADORIAS (mas só tem OFERTA no MERCADO se tem PROCURA, não é mesmo?) Os “machos” que nos procuram, em sua grande maioria querem “algo diferente” que não podem pedir as suas namoradas e esposas. Somos glamour (pois somos FETICHIZADAS) somos alegria (pra combater nossas tristezas). Mas Podemos ser mais que isso.

Podemos ser profissionais, educadoras, podemos ser “mães, irmãs, filhas, tias, madrinhas, sabe porquê? Porque mesmo com tantas adversidades, temos uma FORÇA DESCOMUNAL pra lutar e ajudar uma mana, um mano, uma irmã mulher em perigo, pra enfrentar o “CIS TEMA” patriarcal machista opressor. Somos ternura, quando nos dão afeto, somos boas, quando tratadas com amor, mas podemos ser melhores ainda quando despertam o nosso pior. Somos HUMANAS, por mais que tentem nos “DESUMANIZAR”. Somos a transgressão do sistema heteronormativo em sua maioria “falido”.

Mas somos “divindades em outros continentes e culturas. Será que podemos mudar isso? Será que preferem ver o nosso melhor (ou nosso pior?)

Um beijo dessa travesti que luta, que trabalha, que paga impostos e que tenta ajudar ao próximo, sem distinções.

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Pra concluir, vou deixar umas perguntas:

  • Quantas pessoas trans você CONVIVE?

  • E convida pra um almoço de Domingo em sua família?

  • Quantas pessoas trans você já contratou ou trabalhou junto em algum lugar?

  • Quantas Pessoas trans já defenderam de algum ataque de PRECONCEITO ou ÓDIO?

  • E quantas vc já julgou apenas por SER TRANS?

Até Breve!

Andrea Brazil

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