Delicadeza, Futebol e Mudanças

Imagem @Borsch

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A QUEM SERVE ESSE PAVOR DA DELICADEZA?, perguntou o poeta Renato Farias em sua coluna intitulada “A linha da Delicadeza.”

Naquele mesmo texto, poucas linhas acima, ele havia celebrado minha coluna de estréia neste multicolorido Blog, onde abordei aspectos da Masculinidade Tóxica e de possíveis caminhos para Masculinidades mais saudáveis e autênticas.

Fiquei com vontade de  “bater uma bola com ele”.

Confesso que  imediatamente  soou um alerta em mim e me perguntei:

“Bater bola… futebol… hummmm. Até quando o violento esporte bretão, será parte de teus pensamentos, Alê?”

Até porque já faz algum tempo que venho ressignificando minha relação com o futebol. Já não sei sobre ele sequer uma fração do que sabia antes. 

O tempo que eu usava para entender o sistema tático do meu time e dos adversários hoje vem sendo dedicado para aprender sobre alimentação natural e para onde vão os resíduos que gero. O tempo que eu gastava para acompanhar as informações sobre transferências de jogadores, hoje dedico a buscar compreender e atuar sobre o sistema econômico vigente e seus impactos na engrenagem mundial de moer gente, também conhecido como Capitalismo. As resenhas do pré e pós jogo hoje deram lugar a conversas sobre racismo e machismo estruturais, e por aí vai. 

Como quase tudo na vida, o futebol também tem seu lado bom e  para mim ainda serve como base para ligação com alguns amigos e familiares, mas está bem claro que sua missão atual é servir como anestésico para desviar a atenção efetiva com os graves problemas sociais, ecológicos, políticos e econômicos que nos mutilam e sufocam.

Visões críticas sobre o futebol vêm sendo trazidas já há algum tempo. Não pretendo me alongar nesta aqui, pois estou empenhado em cuidar do meu processo de expansão do repertório pessoal e compartilhar um pouco dele pelo caminho, pelo que volto à pergunta feita acima pelo amigo Renato Farias: A quem serve esse pavor da Delicadeza?

Após refletir, veio claro para mim que a delicadeza tem contornos femininos e há alguns milênios a cultura patriarcal menospreza, violenta e bloqueia como pode a autêntica expressão do feminino.

Talvez aí esteja o motivo: o pavor é do que é feminino.

Por mais sem sentido que possa parecer para alguns. Isso ainda existe e é ensinado para as novas gerações.

Homens que ainda têm medo do que é diferente, do que é livre, do que é sutil, misterioso... E o feminino traz isso e muito mais.

Atuar com respeito e amor ao feminino que me habita, tem revelado minha melhor versão até hoje. Por isso tanto cuido, protejo, nutro e falo dele.

Há muitos e muitos homens que estão em processos de reconstrução de suas identidades, pois viram que do jeito que estava não dava mais para permanecer, vide os dados alarmantes sobre homicídios, suicídios e acidentes que envolvem majoritariamente homens.

Seja pela dor, seja pelo amor, há cada vez mais homens aceitando e nutrindo seus aspectos femininos. Percebendo que é possível ser muitos. Não se prender mais a apenas algumas poucas cores de roupa, uma forma de trabalhar, de dançar, de se comunicar, de liderar e de ser liderado. Homens que estão despertando para as maravilhas do cuidar de si, do que comem, da casa, dos filhos, da natureza… De cooperar mais do que competir.

Eu tenho olhos de ver e por isso em meu entorno já está acontecendo. É nessa criação de realidades que eu sinto de colocar meu foco, contribuindo, assim para que os humanos que estão nas linhas de frente do combate diário à misoginia possam celebrar o quanto antes o fim de suas missões.

Alê Girão

Instagram @alexgirao