Enganos e Rótulos

Meltem Işik - Body Perception

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Rótulos. Vivemos à base de imagens, estéticas, formas, elementos inevitáveis das nossas percepções. Deles, tanto dependemos quanto sofremos. A imagem e a estética sempre referenciaram a mente humana. Somos movidos pelos Cinco Agregados dizia o Buda, assunto abordado em outro post apresentando o entendimento sobre o ser humano.

E das imagens surgem o olhar, surgem as comparações. O grande problema do mundo é a comparação, disse Michel de Montaigne, pensador francês do século 18. Por vivermos à base de comparação, as estéticas e as formas se confrontam quando se deparam diferentes, principalmente nos momentos de ameaça ou medo, por exemplo. Ponho-me a imaginar lá no passado um europeu desembarcando em nosso Brasil indígena ou o negro em distantes terras asiáticas. Que susto devem ter levado com o diferente. Porque ele é assim, diferente de mim? Como pensa, como age? O que ele quer? Se não estão em meu parâmetro, então possivelmente estão errados? O diferente se tornou errado ou inimigo em muitos episódios históricos.

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Estes dias assisti à um programa muito curioso chamado A ciência do Engano. Ele conta em forma de experimentos reais em como nossa forma ou nos apresentamos define o comportamento para com o outro. E essencialmente precisamos do que é atraente como estratégia para assegurar o ato reprodutivo. A natureza é sábia, ela nos faz apaixonarmos pela forma e pelo desejo e assim fazer acasalar garantindo sua perpetuação. Basta ver a dança de acasalamentos em documentários da National Geographic.

Somos controlados pelo cérebro. Isso é uma verdade indubitável. O Buda já dizia, tudo provém da mente, tudo retorna à mente, nada está fora da mente. E um convencimento pode filtrado ou absorvido pelas nossas vontades de acreditar ou rejeitar. Nossa visão se ajusta naquilo que está focado, qualquer troca de sugestionamentos pode fazer com que uma mentira bem trabalhada se torne uma verdade incontestável. Principio de Goebbels. E onde quero chegar com esse pensamento? Nos preconceitos.

Comportamo-nos à base de normas sociais construídas. Normas criadas e determinadas por indivíduos que pensavam de determinada maneira baseado em suas percepções, seus medos, suas angústias, suas aflições, seus desejos, seus traumas, suas comparações até chegar ao sobrenatural numa tentativa de explicar o que é inexplicável. O homem põe a narrativa no universo, não é o universo que põe narrativa ao homem.

O preconceito e a rotulagem tem por base o exagero do medo/ ameaça em relação ao diferente, creio eu. Isso somado à narrativa do sagrado em normas estabelecidas resulta em um prato cheio à discriminação daquilo que foge à normatividade. Diversas vezes na vida somos sugestionados, inclusive a entender o outro pelo medo e culpa contido na narrativa. Talvez fossem estratégias para sobrevivência de tribos e grupos no passado. E narrativas religiosas provém de textos escritos por homens. Os mesmos acima, em medos, angústias e aflições.

Os preconceitos, então, podem facilmente resultar de sugestionamentos e enganações incutidos e ao longo do tempo sedimentados até se tornarem verdades universais. Quando esses sugestionamentos são sustentados pela crença seguido de culpa, medo, castigo, inferno derivam em comportamentos. E comportamento criam as discriminações, preconceitos, criam as rotulagens. Estou convencido que a origem dos preconceitos e rótulos sociais tem muito de sua origem em partes pelo medo do diferente, daquilo que não temos referência e põe em risco nossa sobrevivência, e em um segundo momento pela construção do pensamento social através das narrativas religiosas.

O Buda nunca falou que homossexualidade é algo imoral ou antinatural. Ele fala da conduta sexual incorreta. Aliás, a moralidade ocidental não se encontra nos textos budistas. Existe sim uma moralidade budista, códigos de conduta e preceito no que tange o conceito do correto ou incorreto baseado na geração de sofrimento pelo desejo incessante. Ser heterossexual pode ser tão doloroso quanto ser homossexual, mas jamais dizer que é pecado ou contra alguma lei ao ser criado a imagem e semelhança de um deus.

O ponto central do ensinamento do Buda é o sofrimento, não sua conduta em si. Se a conduta gera sofrimento para si, para o outro ou para ambas as partes, então ele é considerado incorreto. Veja, não há o teor de pecado, culpa e castigo como ofensa divina, pois não há um criador a ser ofendido. Tanto a heterossexualidade quanto a homossexualidade podem gerar sofrimentos, como não podem.

Para o budismo, deduzimos que a homossexualidade é apenas uma expressão da sexualidade. Apenas isso. Não há nada de pecaminoso ou antinatural. Aliás, se alguém justificar que é antinatural, então há contradição na fala, há pelo menos 1500 espécies que se relacionam entre o mesmo sexo. Entretanto, o Buda deixa claro seu repudio em atos como pedofilia, adultério e estupro pelo profundo sofrimento gerado aos seres.

A essência da compaixão é alcançar as pessoas que estão sofrendo. Deixando de sofrerem, elas são como são, apenas elas podem dizer o que é estar naquele estado mental. Tudo provém da mente e retorna à mente. Os seres assim se manifestam. Rotulagens, preconceitos e discriminações são produtos de uma mente ilusória, relativa e transitória. São produtos de uma visão. Se você não possui essa visão, então não existe preconceito e discriminação. A fala do outro não pode tornar-se à sua. Mas o que vivemos é uma imposição monoreligiosa de conceitos. Outro assunto abordado. E a ciranda gira.

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Namu Amida Butsu /\ 
Gassho 
Rev. Jean Tetsuji釋哲慈

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