Então é Natal

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Hoje é natal. Para católicos e protestantes é o dia de nascimento de Jesus Cristo. Em Moçambique é comemorado o dia da família. Considerando qualquer um dos dois eventos supracitados (porque neste dia temos diversos outros acontecimentos históricos), todas essas comemorações partem de um lugar comum, o amor.

MAS O QUE NECESSARIAMENTE SIGNIFICA O AMOR?

Eu, durante a maior parte da minha vida, acreditei ser o amor um sentimento. Talvez o maior sentimento que poderíamos sentir por outra pessoa nesta vida. Pensava que, a partir do momento em que se construía um relacionamento - e aqui eu falo de um relacionamento amoroso, porque primariamente é mais fácil entender o desenvolvimento do amor por uma nova pessoa, a partir deste tipo de relacionamento - estava-se amando e sendo amado. E que “por amor” muita coisa era possível. Hoje vejo como essa definição pode ser perigosa, porque não só reduz o amor em algo passageiro como também permite com que sentimentos mais limitadores como a posse, a raiva e o ódio, sejam justificados “por amar” demais.

Algumas pessoas que lerem esse texto podem não acreditar, porque eu realmente falo demais, mas eu gosto de escutar. E como a maioria das pessoas, gosto de ser surpreendida positivamente. Foi isso que aconteceu recentemente quando assisti o programa “Saia Justa” e escutei um pastor chamado Henrique Vieira falar sobre o amor. A fala dele me intrigou e, devo admitir, que tive dificuldade em entender, não por ele não ter sido claro, mas por ser um conceito diferente daquele em que eu acreditei toda a minha vida. Ele cita Lucas 6:27-49 em que Jesus diz: “Amai o inimigo”. 

Parafraseando-o:

“Amar não é gostar. Você pode odiar o seu inimigo, Jesus te autoriza. Ele não está pedindo para você forçar uma admiração por quem te maltrata. Isso seria violento, hipócrita, falso e superficial. Por isso que amor não é sentimento. Quando Jesus fala para amar o inimigo, ele não está falando “goste dele”. Você pode até odiá-lo, mas você decide, no ódio, não monstrificá-lo. Não desumanizá-lo. Você pode sentir porque vem a raiva, mas o amor faz com que a sua decisão final seja: não desumanizar quem te desumaniza. Então você decide, com raiva, amar em atitude.” 

A partir dessa fala, resolvi buscar textos para me ajudar a construir outra concepção, o que atualmente me ajuda a entender o amor de Jesus Cristo que todos falam, mas que é difícil praticar. Todos dizem que Jesus é amor. Que ele é a definição de amor. E eu entendia pouco o que significava esse amor. Como ele poderia me amar se não me conhecia?

Agora, entendendo que amar é um ato, uma decisão, e não um sentimento, que muitas vezes é passageiro, penso que para exercer esse amor que Jesus tanto falava, é necessário desenvolver empatia e reduzir o julgamento que tendenciosamente fazemos sobre o outro. A empatia é conceituada por “se colocar no local do outro”, o que é extremamente difícil de fazer, enquanto que o julgamento é quando se emite uma opinião sobre alguém ou algo sem necessariamente considerar as situações experienciadas pelo outro. Com a redução do julgamento mais uma vez nos colocamos no exercício da empatia. Está tudo meio que junto e misturado. 

Então, considerando os dois exercícios evolutivos descritos acima, podemos entender que para exercermos verdadeiramente o amor, temos que decidir por isto. Decidir se despir de todo o preconceito, de todo o julgamento, e sempre, sempre se colocar no lugar do outro. E essa decisão não é uma decisão fácil porque requer muito esforço. Muita dedicação. E muito respeito ao próximo.

Para mim, que acredito na reencarnação, fica até mais claro este entendimento já que, pelo esforço, é necessário voltarmos diversas vezes para que consigamos evoluir espiritual e verdadeiramente. Não é fácil ter empatia. E não é fácil não julgar. Em algumas situações, esse exercício é cansativo e nos vence. “Eu sou humano” é uma frase muito utilizada para justificar o nosso fracasso em expressar a nossa melhor versão. Se pensarmos bem, uma das inúmeras diferenças, é que Jesus não precisava se esforçar tanto quanto nós, e, mesmo tendo morrido por expressar todo esse amor, ressuscitou comprovando que o amor é o caminho e esperança.

A DECISÃO DE AMAR É SEGUIDA DE ATITUDES, E NÃO NECESSARIAMENTE DE PALAVRAS.

O ato de ajudar, de escutar, de prover oportunidades ao próximo são provas de amor. Vou dar um exemplo. Minha mãe estava passando por dificuldades financeiras durante um período da sua vida. Ela corria na Beira Mar em Fortaleza. Como corria com frequência, conhecia algumas pessoas de vista. Tipo amigos de corrida. Um dia, resolveu desabafar com uma dessas pessoas. E ao final da corrida, essa pessoa a ofereceu dinheiro. Ela ficou extremamente agradecida com o feito, mesmo não o aceitando. O que essa pessoa fez foi uma prova de amor. Isso não significava que ela gostava da minha mãe, até porque elas não se conheciam, mas ao escutar a minha mãe, ela teve empatia, ou seja, se colocou no seu lugar. Naquele momento a escolha dela foi amar. 

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Termino essa coluna com o desafio de buscar incessantemente pela decisão de amar. Não somente hoje no dia de natal, mas em todos os dias que nos forem dados em vida. 

"O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência também desaparecerá. Pois o nosso conhecimento é limitado; limitada é também a nossa profecia. Mas, quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei adulto, deixei o que era próprio de criança. Agora vemos como em espelho e de maneira confusa; mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido. Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor."

Coríntios, versículos 4 a 13.

Feliz natal a todos.

Muito amor sempre.

Rafaella Albuquerque e Silva

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