Há quanto tempo...

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Foi, novamente, dada a largada: 2020 começou e já estamos na terceira década do século XXI. 

Essa forma de medir o tempo: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, séculos, obedece, segundo a mitologia grega, a Cronos.  

Cronos vivia sob uma profecia. A de que perderia o trono e o poder para um de seus filhos. Buscando evitar o inevitável, devorava cada filho que nascia. Claro que não deu certo. Foi destronado por Zeus, seu caçula, com ajuda de Reia, sua esposa e mãe de todos os filhos devorados.

Mesmo com a mitologia para nos ensinar, seguimos dia a dia o padrão de comportamento cronológico. Não temos tempo a perder! Precisamos produzir, aproveitar o tempo, fazer mais de uma ou duas coisas ao mesmo tempo, se for preciso. E, paradoxalmente, também temos que tentar evitar que o tempo passe com suas marcas, buscando parecer sempre jovens!

Não deu certo com o deus grego, não vai dar certo conosco também... 

Mas se os gregos nos legaram Cronos que quantifica, também nos legaram Kairós que qualifica. Kairós se interessa pelo tempo de outra maneira. Segundo Kairós, podemos viver o tempo expandido que momentos especiais proporcionam. 

Por exemplo, sabe aquela sensação de quando estamos apaixonados? Quando estar com o ser que desejamos faz com que percamos a hora. Essa é a ideia. Perder as horas, os minutos, os segundos. Que a paixão seja pela própria vida. E permita que a sensação de estar vivo seja exercida no tempo presente. 

Isso não invalida que, “chegada a hora”, não tenhamos que abrir espaço para os mais jovens. Pelo contrário, essa é uma das belezas da vida! Em vez de devorá-los para que não nos sucedam, devemos estimulá-los a serem melhores do que nós. E, ao fazer isso, aprender com eles. Conviver com os mais jovens sob o signo de Kairós, para que o tempo compartilhado não seja pressão e, sim, prazer.

Aprendi tanto com meus professores ao longo da estrada. Mestres que, com o passar do tempo, foram ficando parceiros. Com alguns, inclusive, depois de um certo tempo, fui percebendo o quanto havia neles aspectos que eu discordava. Não deixaram de ser meus mestres, mas aprendi a vê-los como seres humanos como eu. 

Hoje, percebo o quanto aprendo com aqueles que são mais jovens. Quando dialogo com eles, levo a experiência de estar nessa vida há mais tempo, segundo Cronos. Mas me permito entrar em Kairós e saio mais alimentado. 

Para 2020, desejo que possamos viver ambos os tempos. Que Cronos impere quando for necessário, pois a vida também é prática. Mas que não impeça os momentos Kairós. 

Afinal, há um outro tempo que os gregos também nos legaram: Aión, o tempo da eternidade, daquilo que é para sempre. 

Enquanto não adentramos Aión, que possamos olhar para o tempo como nosso aliado. Quando for preciso, ajustá-lo cronologicamente, mas quando for possível, vivê-lo com a sabedoria de Kairós.

Feliz Tempos Novos!

Renato Farias

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