Influências...
Nas últimas semanas eu não estava bem.
Quando recebi a notícia da iminência da votação do PL 504 imediatamente eu fiquei mal, me deu um sentimento de fraqueza e ao mesmo tempo de mar sem fim...onde a gente nada, nada, e o horizonte permanece no mesmo lugar - inalcançável.
Deve ser de conhecimento de muitos de vocês um grave e pernicioso ataque que a população LGBT+ sofreu no Estado de São Paulo – esse tal do PL 504!
Estava sendo votado na Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP) um absurdo projeto de lei que tinha como objetivo proibir no Estado de São Paulo qualquer tipo de publicidade que fizesse menção às pessoas LGBT+.
Esse projeto de lei foi proposto pela deputada Marta Costa (PSD), com emenda de Janaina Paschoal (PSL), com intuito de (de forma criminosa e LGBTfóbica) proibir propagandas em qualquer veículo de mídia ou comunicação que “contenha alusão a preferências sexuais e movimentos sobre diversidade sexual relacionado a crianças”, com a previsão de multa e até fechamento do estabelecimento.
A absurda motivação da PL é que essa publicidade geraria “desconforto emocional” por divulgar “práticas danosas”, como se LGBT+ fossem más influências, especialmente para crianças.
“Daí que veio a minha tristeza – e aqui eu abro o meu coração.”
Trabalhar e militar em qualquer área afeta aos direitos humanos não é fácil. É luta atrás de luta, desafio atrás de desafio, resistência constante. E de certa forma a gente se acostuma, vai se enrijecendo ...até para conseguir sobreviver no meio de tantos ataques e tanta angústia.
Acontece que essa situação bateu muito errado em mim... de uma forma que talvez há alguns anos eu não me sentia...me senti :
DIRETAMENTE atravessada e desumanizada = para muitas pessoas eu sou vista como “um mal”, como uma pessoa que pode “influenciar de forma negativa” outras pessoas e principalmente crianças.
Bateu bem errado!
O PL, além de inconstitucional, é LGBTfóbico, promovendo verdadeiro discurso de ódio contra a população LGBT+. Eu senti aqui dentro esse ódio!
E pra dizer a verdade eu comecei a respirar um pouco mais aliviada na última semana quando esse projeto foi derrubado, tendo seu texto substituído e retornado para votação nas Comissões da Assembleia.
Ganhamos? Sim...mas até a página 02.
Logo em seguida soubemos da propositura de projetos semelhantes em Assembleias de outros Estados. Ou seja, a resistência não tem tempo de descanso e novamente vamos arregaças as mangas para trabalhar contra essa violência.
Isso tudo nos mostra a importância da luta do movimento LGBT+ e a atenção que devemos manter no Poder Legislativo, não apenas nos projetos que demandamos, mas principalmente contra projetos que tentam apagar a nossa existência do mapa.
Neste sentido, nos últimos anos parlamentares, em especial aqui na ALESP, têm apresentado projetos que tratam a população LGBT+ como verdadeiros seres desprovidos de humanidade, perigosos e influenciadores.
Isso não é nada mais e nada menos que o melhor exemplo da LGBTfobia institucional - quando instituições e órgãos estaduais ferem nossos direitos humanos, nossas cidadanias e existências.
O que faz nascer esse projeto de lei, e é o que pretendem os seus apoiadores, é tentar “esconder” a nossa existência da sociedade, nos afastando da tradicional família brasileira e literalmente nos tratando como um “mal”!
A gente também foi criança! A gente sofreu sendo criança e adolescente LGBT+! A gente não sofreu influência de ninguém para ser quem somos – se assim fosse, não teria um LGBT+ para contar a história....
Esses projetos são inconstitucionais, são criminosos e ofensivos!
A gente continua existindo, nossas famílias continuam existindo, a luta continua e nossa r(existência) também!
#LGBTnãoÉMáInfluência
#RespeitaNossaExistência
Fernanda Darcie
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