Nana, Neném, por favor!
Pesquisa internacional revela que o sono dos bebês é um problema universal causado pelos pais. A solução?
Disciplina, persistência e muita paciência.
A maior reclamação no consultório pediátrico é: “Meu filho não dorme“. Passei por esta experiência por dois anos consecutivos na vida de meu segundo filho. E passei muitas noites da minha vida acordada, mas fico feliz que respeitava ele no seu ritmo. Foi fácil? NÃO!!!! Mas passou.
O sono é também uma adaptação do bebê a um mundo que não conhece, ao mundo de enfrentar seu subconsciente, o vazio, a escuridão. Tudo natural e esperado. E quando a criança já consegue andar mas ainda não é capaz de dormir uma noite inteira sozinha? Aí há problema sim, e muito frequente.
Precisamos separar os casos de base patológica, que exigem intervenção médica, daqueles comportamentais em que os maus hábitos do bebê são incentivados e criados inadvertidamente pelos próprios pais. A maioria por comodidade, os pais criam hábitos errados que são assimilados facilmente pelos bebes, pois eles trabalham na ação e reação, “ele pede e eu faço”. Depois quero desfazer e não consigo mais.
No começo da vida tudo que permeia este bebe influência sua vida diária e seu sono. Pais com cansaço, excesso de trabalho, pouca disponibilidade para os bebes, que ficam muito tempo sem ver seus pais e a noite querem sua atenção.
Uma pesquisa mundial sobre o sono das crianças até 3 anos, patrocinado pela Jolhson & Johnson, mostrou pela primeira vez que o maior número de casos de insônia nos bebês, é de responsabilidade dos pais, do que resultados de doenças subjacentes, mas os pais não tem consciência disso.
A pesquisa revela que 35% dos pais brasileiros acreditam que seus bebês tem algum problema, da mesma forma que 25% dos americanos, 76% dos chineses e 23% dos ingleses. De cinco anos para cá o atendimento de distúrbios do sono em consultório pediátrico aumentou muito, segundo pesquisa de um neuropediatra.
”A questão maior é comportamental. Os pais que estão mais atentos ao sono dos filhos, descobrem que não conhecem o assunto e isso os deixa ansiosos.”
O fatores que mais observamos são a falta de rotina familiar: não ter rotina pré-berço, dormir tarde (após 21 h), exigir a presença dos pais durante o sono para serem alimentados ou ninados e a introdução de eletrônicos como meio de "vir o sono".
42% dos brasileirinhos pesquisados dormem no quarto dos pais, sendo 22% na cama deles. Hábitos desencorajados pelos médicos, primeiro pelo risco de acidentes e depois como confirma o estudo, os bebês que dormem no próprio quarto dormem mais cedo e acordam menos vezes durante a noite.
O SONO É UMA FUNÇÃO APRENDIDA. O BEBÊ PRECISA APRENDER A DORMIR. APRENDER A DORMIR E VALORIZAR O SONO É UM HÁBITO QUE LEVAMOS PARA A VIDA ADULTA.
Os principais problemas que podem provocar distúrbios no sono não chegam a 5%. As dificuldades podem ser amenizadas se os pais tomam atitudes diferentes.
Entre os passos do aprendizado dos pais estão:
Determinar e seguir religiosamente um horário e uma rotina de sono e ensinar a criança a dormir sem uma ajuda externa.
Lembrar que ver televisão (tablets, celulares) antes de dormir excita, desperta e não põe a criança nem um milímetro mais perto de uma boa noite de sono.
TODA NOITE TUDO IGUAL
Nas crianças maiores, a hora de dormir chega e bem nessa hora, a criança que estava sonolenta, desperta e resiste a dormir. Nesse momento muitos filhos começam a “enrolar” para ir para a cama, querem conversar, pedem para os pais contarem histórias repetidas vezes ou decidem brincar. Outros choram e se angustiam com esse momento, pois não querem ficar sozinhos.
Muitos pais comentam: “o bebê estava dormindo, assim que o coloco no berço, ele acorda”. Por que será que isso acontece?
O dormir é um momento de separação, é quando as pessoas, sejam adultos ou crianças, precisam ficar sozinhas e, assim, entram em contato com as fantasias e as sensações que estão registradas. A mente da criança fica habitada por figuras imaginárias (monstros, bruxas, vilões), não quer ficar sozinha, principalmente no escuro, pois não têm controle sobre o que está acontecendo.Para aqueles que têm dificuldade para dormir, o sono pode ser vivido como um momento “vulneráveis", então surge à preocupação, o medo, a ansiedade e inúmeras fantasias.
Dificuldades temporárias durante o sono são comuns, podem surgir em momentos de mudanças (casa, escola, rotina, separação dos pais). Há crianças que acordam de noite, pois não viram os pais durante o dia. Assim acordam para poder interagir com eles. No entanto, nem sempre existe algo evidente. Pode ser que, por exemplo, a criança esteja com muito medo, pois descobriu que as pessoas podem morrer. Diante da percepção da finitude da vida, muitos pequenos temem a morte dos pais.
Existem também conteúdos relacionados aos ciúmes dos pais, culpa por alguma manifestação de agressividade, entre outros. Então, eles decidem ficar acordados para tentar controlar a situação.
O sono, o dormir, o sonhar, o pesadelo são terrenos férteis para a manifestação de muitas dificuldades e conflitos. Quando os pais perceberem que estes são freqüentes, é importante que possam procurar um profissional. Principalmente nos casos em que as fantasias são tão intensas, que impedem o estabelecimento de uma boa noite de sono.
Como este tema é difícil de contornar, os especialistas indicam alguns truques para ajudar a criança a dormir bem a noite:
Estabeleça uma rotina simples que possa ser repetida todas as noites (exemplo: banho, massagem e mamadeira). O ideal é inicia-la por volta das 20 horas para aproveitar a ação do hormônio do sono, a melatonina que induz e mantém o sono e atinge seu pico em torno da meia noite.
Ponha a criança para dormir no mesmo horário todos dias. Um pouco antes, reduza atividades que excitam, como visitas, brincadeiras e som alto.
Deixe que a criança aprenda a pegar no sono sozinha. Assim, se ela acordar no meio da noite, não precisará dos pais, da mamadeira ou de ajuda externa.
Se for preciso amamentar durante a noite, não acenda a luz. No máximo, use uma lâmpada bem fraquinha.
Quando a criança dormir durante o dia, reduza a luminosidade do quarto, mas conserve a luz e os barulhos normais da casa. A noite apague tudo e mantenha silêncio.
Então a solução é sair da comodidade e iniciar a rotina do sono.
Hayde Haviaras
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