Não há pais pretos na minha bolha?
Hoje gostaria de compartilhar uma experiência que me deixou muito reflexiva.
Mensalmente eu ofereço um curso livre chamado “África e Diáspora: Caminhos Pluriversais”, focado na educação pluriversal e nas minhas pesquisas acadêmicas.
A cada edição, oferto pelo Instagram cinco bolsas no curso. Neste mês de agosto, por conta do dia dos pais e do aniversário do líder negro Marcus Garvey, decidimos fazer o sorteio com foco em homens negros (cis/trans) que eram pais. As regras eram as seguintes: deveria deixar um comentário com a idade de seus filhos explicando como esse pai acende o sol deles em uma frase; marcar dois amigos pais pretos e seguir o meu perfil e o do Diáspora Black, parceiro que promove o curso junto comigo.
Para a minha surpresa, apenas seis pais negros se inscreveram, sendo que dois deles não cumpriram todas as regras. Ao olhar os sorteios de bolsas anteriores, que tinham regras mais amplas, o desempenho foi outro. Por exemplo, o do mês de julho, as bolsas iam para pais/mães pretos (cis/trans) que gestavam a potência solar de seus filhos e tivemos mais de cem inscritos válidos a bolsa, entretanto, apenas oito deles eram homens pretos.
Sintomático?
Quando na ocasião do sorteio deste mês vi que poderia seriamente sobrar uma bolsa, recorri aos meus amigos para o engajamento do sorteio. Entre eles, falei com o coletivo “Pais Pretos Presentes” e o número de interessados aumentou de dois inscritos para seis.
Aza, o que você está querendo dizer com isso tudo?
Eu não quero dizer nada em específico, mas me chama a atenção o fato de poucos homens negros pais estarem presentes.
Qual seria o motivo?
Pais pretos não matrigestam o sol de seus filhos?
Na minha bolha não há pais pretos?
Será que eles não se interessam pelo meu curso, ou ainda, elaborar uma frase sobre gestar o sol de seus filhos é difícil e ativa gatilhos?
Além disso, porque, diferentemente das edições anteriores, mulheres negras não marcaram pais pretos conhecidos?
Como falei, o texto de hoje é pra compartilhar essa experiência. Vou continuar me perguntando e atenta às respostas mais sutis. Sempre acreditando na humanidade dos homens negros, independente de todos os pesares.
Aza Njeri
Instagram @azanjeri