"Não acredito num deus que não dance”

Espetáculo João Cabral - Teatro Íntimo 2015 - Foto Carol Beiriz

Espetáculo João Cabral - Teatro Íntimo 2015 - Foto Carol Beiriz

Na última segunda-feira dia 29 de Abril foi o Dia Internacional da Dança. Estes dias de “tudo” no calendário servem para homenagear marcos, mas também podem servir para refletirmos quando nos cabe o dia!

Nós viemos falando aqui no Blog*G sobre a função do teatro nos dias atuais em meio ao desmonte cultural (textos do Renato Farias e Vera Gertel). Já falamos da poesia (texto de Leprevost) e resolvi aproveitar o gancho para também falar da dança.  

E só para antecipar já aceitei uma sugestão de pauta de uma leitora pra falar da função da música neste momento político de desqualificação dos artistas….procurando o convidado!

O MUNDO JÁ CAIU, SÓ ME RESTA DANÇAR SOBRE OS DESTROÇOS. - CLARICE LISPECTOR

Das histórias das artes a dança está entre as mais antigas. Não deve ter havido um neandertal que não dançasse. Nestes tempos remotos a dança tinha um papel fundamental e social na rotina dos povos nômades e depois daqueles que se fixaram. Usada em rituais de colheita, fertilidade, espiritualidade, proteção, limpeza, organização da comunidade. Os coletivos se organizavam em rodas dançando. 

É uma das linguagens artísticas que circulou e circula dos grandes salões dos palácios até as praças mais longínquas, independente das classes sociais, mantendo sua característica de coletivizar, organizar os afetos, divertir, celebrar rituais de passagem, promover o contato com o corpo e promover relação. 

Com o tempo e com a chegada da modernidade, a Revolução Industrial foi uma das rupturas, a dança foi perdendo o espaço no indivíduo e no coletivo a medida que fomos nos afastando dos nossos corpos. Fomos mecanizados pelas atividades de trabalhos, rotinas e movimentos repetitivos. Isso se extende a contemporaneidade quando este corpo que poderia dançar, perde espaço para a massificação das academias de ginastica, robotizando e afastando possíveis corpos pensantes do auto conhecimento. 

Nós perdemos o contato com o corpo! Nos afastamos da dança! 

Quando faço Direção de Movimento de algum espetáculo de teatro a primeira coisa que escuto é: “olha, eu não sei dançar tá”. Ledo engano! TODO MUNDO SABE DANÇAR! A essência da dança está ligada ao ritmo, musica, vibração, células. É movimento em sua mais pura essência. Ou seja, quem tem células que vibram podem dançar”: você!

Mas eu entendo este “eu não sei dançar”. Está ligado ao parâmetro da dança técnica, da forma, do profissional, a dança especializada que ficou mais conhecida com a perda do espaço do corpo dançante no coletivo. Se há pessoas com habilidades, talentos para determinadas técnicas de dança é uma coisa, mas estou te convidando a pensar dança como movimento e conteúdo!

Voltando aos neandertais, se nós ainda coletivizássemos com os nossos, dançando em espaços públicos, praças, ruas, quintais nós talvez tivéssemos desenvolvido um jeito mais inteligente e saudável de nos relacionarmos como sociedade. Pois dançando eu gero movimento, que me tira do conforto, que me coloca em contato comigo, que me obriga a observar o meu espaço e o do outro, que me conduz a uma mesma vibração pelo som a energia e por consequência disponibiliza seres humanos mais flexíveis. Não seria uma sociedade melhor? 

"DANÇAR É SENTIR, SENTIR É SOFRER, SOFRER É AMAR... TU AMAS, SOFRES E SENTES. DANÇA!" - ISADORA DUNCAN

A dança possui uma função social bem clara, reorganizar os afetos, os indivíduos e seus coletivos. Uma pena que tenhamos nos afastado deste caminho como sociedade. Neste momento ela seria uma ótima ferramenta contra a cultura do ódio e do medo que vem aumentando a violência e as doenças. 

Bem, quando comecei o texto a idéia era ir por outro lugar, contar um pouco da minha trajetória e o que ela me transformou dos 5 anos até os 30 anos dançando diariamente, sendo que aos 13 me tronei profissional com diversas responsabilidades e ensaios de 8h por dia. Mas acho que fica para uma próxima. E se você tiver curiosidade te convido a entrar na página bailarina aqui do site. 

E por último compartilho com vocês um artigo que diz: 6 motivos que fazem dos bailarinos ótimos profissionais em todas as áreas: são ensináveis, são flexíveis, aprendem rápido, estão sempre preparados, trabalham duro e são treinados em equipe. Qualidades perseguidas por qualquer treinamento de empresas.

Até que a gente é bem treinadinho 😉

Enfim….só posso terminar esta conversa te convidando:…..Dance…dance em casa, dance com seus amigos, dance com seus companheiros e companheiras, gere movimento! Seu corpo agradece! 

Gaby Haviaras

Instagram @gabyhaviaras

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A DANÇA: UMA EXPRESSÃO PERPENDICULAR DE UM DESEJO HORIZONTAL. -

GEORGE BERNARD SHAW

Obs: A frase título deste texto é de Friedrich Nietzche