Não basta não ser racista!

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O racismo brasileiro tem peculiaridades geradas a partir da mentalidade escravocrata que persiste na cultura do país mesmo depois de um século da assinatura da Lei Áurea. Não há fenômeno social que possa ser analisado sem essa perspectiva.

Uma das consequências mais cruéis desse racismo é a situação das mulheres negras brasileiras. São elas que estão na base da pirâmide social. São elas as mais pobres. São elas as mais violentadas, tanto sexualmente quanto institucionalmente.

Por outro lado, também são elas que levantam importantes bandeiras sociais como a luta contra o genocídio dos jovens negros, contra as péssimas condições de encarceramento no país, entre muitas outras.

Partindo dessa premissa, qual a responsabilidade do homem branco para a transformação das desigualdades geradas ou perpetuadas pelo racismo?

São os homens brancos que estão no topo da pirâmide social, concentrando não só a riqueza como também os cargos de poder decisório, tanto públicos quanto privados. Diante das iniquidades comprovadas por inúmeras pesquisas, com quais transformações os cidadãos brancos precisam se comprometer?

Durante muito tempo, o problema do racismo foi encarado como um problema pertinente apenas à população negra. Uma das maneiras de eximir-se da responsabilidade tem sido justamente a postura constatada por uma pesquisa onde os brasileiros admitem ser um povo racista, mas excluem-se individualmente. Ou seja, racistas são apenas os outros!

Essa forma de pensar é irmã de uma outra forma de manter-se alheio aos problemas que pode ser expressa por frases como: “isto não tem nada a ver com política.” Ou, “política é coisa que não se discute”. Ou, ainda, “eu detesto política”. Tentativas de naturalizar as desigualdades ou de não se responsabilizar por privilégios que ajudam a mantê-las.

Sabe-se que tudo tem a ver com política. É através do saudável exercício político que as diferenças podem ser colocadas na mesa para debate. A afirmativa de que certas coisas não têm nada a ver com política tem se mostrado eficiente justamente para afastar das prioridades políticas decisões que podem transformar a realidade social.

Ou, muitas vezes, para camuflar as reais necessidades de mudanças com ações inócuas que subsistem pela estratégia de: o que é preciso mudar para que as coisas permaneçam como estão?

Sou um cidadão branco que pretende dirigir-se a outros cidadãos brancos e que, consciente dos seus privilégios, busca reflexões e caminhos para colocar em cheque a postura passiva diante do racismo.

Será que não é hora de você se perguntar: o que eu tenha  ver com isso?

Afinal, como nos ensina Ângela Davis: numa sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista!

Renato Farias

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Dica: O Renato é apresentador do Canal Saúde da Fio Cruz, onde possui uma gama de programas de diversos assuntos! A idéia é que no final desta coluna a gente sempre compartilhe algum com vocês! GH

A Escrita do Corpo Negro com Carmem Luz - Bailarina e Coreografa

http://www.canal.fiocruz.br/video/index.php?v=a-escrita-do-corpo-negro-cel-0453