No bete balanço dos seus braços.

Casa 3.

Não. Não é a casa do mapa astral, o número regente do mês que acabara de se abrir ou o portal cósmico que se apresentará no dia de hoje.

É a casa dos 30 anos, onde a gente faz a Sandy e comunga da esquizofrênica sensação de ser jovem pra ser velho e velho pra ser jovem. A casa onde os sonhos permanecem vivos, mas o tempo se mostra cada vez mais curto.

 Os três melhores programas de entrevistas que eu mais gostava não existem mais. Ficaram no passado e, infelizmente, nesses casos, nem sempre o futuro repete o passado.

 1- "Provocações" com o saudoso Antônio Abujamra na TV Cultura: o melhor provocador, as melhores entrevistas. Ele conseguia exorcizar os entrevistados da zona de conforto, do status quo, de um ping pong chapa branca e cheio de melindres. Quem se sentava diante dele era provocado, instigado, atiçado a verbalizar as respostas mais honestas e soterradas no filtro castrador da política da boa vizinhança. Como ele mesmo falava ao fim de cada sessão, a única coisa de falso que havia ali era o abraço.

 2- "Sem Censura" com a voz rouca e inconfundível da Leda Nagle também na TV Brasil. Minha criança ficava fascinada com a diversidade dos convidados falando sobre os mais diversos assuntos, enquanto a anfitriã girava pra lá e pra cá com a sua cadeira no centro da roda para ficar de frente com a entrevistada/o entrevistado da vez. Triste fim do programa e da jornalista (no sentido alegórico da palavra). Uma morte em vida, rasgando a própria obra e negando os fatos.

 3- "De Frente com Gabi" no SBT com uma Maria Gabriela sempre afiada e elegante em cada pergunta, a cada olho no olho. O programa encerrou um ciclo e sua exímia entrevistadora hoje vive em Portugal gozando da liberdade conquistada em anos de excelentes encontros.

 Sonhava em um dia ir a um desses três programas. O sonho morreu junto com eles.

Hoje faço 31 anos. Sigo a cada dia mais consciente de que vida & morte andam de mãos atadas diante o futuro duvidoso que avistamos de longe.

Podemos ver grana, dor, um paraíso perigoso, mas a única certeza mesmo não é o que a palma da mão mostra, mas os sete palmos de terra que nos receberá no balanço final do juízo.

Uma vida a mais é uma vida a menos. É celebração e desapego em total sincronia. A cada aniversário damos um passo no campo minado da vida. É como se a vela derretesse mais um pouco. A chama queima com mais intensidade e os sonhos tentam não se asfixiar na combustão do próprio desejo.

 

Quem puder, se der, me avise quando for a hora, por favor. Eu tenho pressa, tenho medo, tenho sonhos e vontade de um dia ir ao "Que história é essa, Porchat" pra ele me perguntar "O que não pode faltar no céu?". E pra eu responder: "O Cazuza me esperando pra me receber de braços abertos".

 Felipe Ferreira

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