O Brasil é um pais pobre

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VOCÊ SABE DISSO, MAS EU PRECISO TORNAR MAIS OBJETIVA ESTA DISCUSSÃO.

Começo enfatizando que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. A desigualdade pode ser refletida pelo índice Gini, que mede a distribuição de renda na população e varia de 0 (perfeita igualdade) a 1 (máxima desigualdade). Ou seja, quanto mais próximo de 1, mais desigual é o país. Desde 1988 até hoje, o índice Gini no Brasil teve uma queda de 16%, sendo atualmente de 0,515. 

Mesmo com o aparente “esforço” de redução da desigualdade ao longo dos anos, atualmente 5% da população mais rica do Brasil recebem, por mês, o mesmo que os demais 95% juntos. Sem querer, neste momento, fazer apologia ao socialismo, sabemos que quanto maior a desigualdade em um país, maior o risco de desencadeamento de doenças em termos populacionais. Isso porque quanto maior a desigualdade, menor é o acesso a direitos básicos, como aqueles relacionados a condição de vida e de trabalho (habitação, educação, alimentação, saneamento básico, dentre outros). O Japão, por exemplo, é o país com maior expectativa de vida ao nascer, principalmente porque é um dos países mais igualitários do mundo.  

O Brasil é sim um país pobre, porque 38% têm renda familiar de até R$ 1.576, enquanto 23% de R$1.576,00 a R$2.364,00. Um em cada quatro brasileiros tem renda mensal de até R$ 420,00. Mais de 16 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza e, muitas destas, necessitam para sobrevivência auxilio governamental como o bolsa família. 

O Brasil é um país pobre, porque menos de 65% da população têm carteira assinada, o que significa menos direitos trabalhistas e seguridade. PS: esse percentual é ainda menor nas regiões Norte, com 45%, e Nordeste, com 48%. 

O Brasil é um país pobre, porque a cobertura de saneamento básico gira em torno da casa dos 60% e obviamente estes dados são diferentes de região para região, sendo as menores coberturas na região Norte e Nordeste e as maiores na região Sul, Sudeste e Centro Oeste. Entretanto, mesmo nestas regiões aparentemente mais assistidas, esse indicador não é homogêneo. As comunidades não possuem a mesma cobertura de saneamento básico que as regiões mais ricas dos grandes centros urbanos.

O Brasil é um país pobre, porque por mais que a expectativa de vida, representada pelo controle da mortalidade, esteja aumentando, esse aumento não é homogêneo a todas as regiões. Um exemplo regional é estado do Maranhão, no Nordeste, que possui a menor expectativa de vida do país. Até se decidirmos avaliar de maneira mais local, como quando consideramos uma cidade, comprovamos que a expectativa de vida é heterogênea. É o que acontece na maior cidade da América Latina, São Paulo, em que a diferença da idade média de vida em bairros da cidade pode chegar a 25 anos, sendo obviamente menor nos bairros menos favorecidos economicamente.

O Brasil é um país pobre, porque temos uma agenda não cumprida no controle de doenças infecciosas, muitas delas imunopreveníveis, como o sarampo e a poliomielite.

O Brasil é um país pobre, porque ainda é berço de doenças consideradas negligenciadas* pela Organização Mundial de Saúde, como a doença de Chagas, filariose, esquistossomose, oncocercose, leishmanioses, dentre outras.  

O Brasil é um país pobre, porque erramos na escolha do nosso líder máximo, que pouco se importa com os dados que acabei de citar. Que estimula comportamentos de risco e vai de encontro ao que a academia e as instituições nacionais e internacionais de saúde preconizam para o controle da pandemia que vivenciamos atualmente. Que usa o achismo como ferramenta e desmerece todas as fortes evidências científicas já descritas. 

O Brasil é um país pobre, porque grande parte da população é vulnerável socialmente, e por este motivo, não temos como prever, nem a partir dos modelos matemáticos, qual seria o comportamento da COVID-19 nessas populações.

Portanto, faça a sua parte. Cumpra o isolamento social. Siga as medidas preventivas indicadas pelos órgãos oficiais – Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde. Tenha empatia e exerça a solidariedade.


Rafaella Albuquerque

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* doenças negligenciadas: são aquelas causadas por agentes infecciosos ou parasitas e são consideradas endêmicas em populações de baixa renda. Essas enfermidades também apresentam indicadores inaceitáveis e investimentos reduzidos em pesquisas, produção de medicamentos e em seu controle.


Referências

Buss PM; Pellegrini-Filho A. A Saúde e seus Determinantes Sociais. Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1):77-93, 2007. 

Oxfam, Brasil. A distância que nos une – um retrato das desigualdades brasileiras. 2017. www.oxfam.org.br

Oxfam, Brasil. País Estagnado: Um Retrato das Desigualdades Brasileiras 2018.  www.oxfam.org.br

https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html?utm_source=portal&utm_medium=popclock

WHO - Neglected tropical diseases, hidden successes, emerging opportunities. «WHO/HTM/NTD/2009.2». 1 Tropical medicine - trends. 2.Endemic diseases. 3.Poverty areas. 4.Parasitic diseases. 5.International cooperation. 6.World health. 7.Developing countries. I.World Health Organization. ISBN 978 92 4 159870