Precisamos dizer que te amamos
ESSE TEXTO É FRUTO DO ISOLAMENTO, MAS ELE NÃO ESTÁ SÓ.
Nesses tempos sombrios de reclusão compulsória onde vemos o futuro repetir o passado, precisamos refletir nosso papel nessa vida louca como estrela e como constelação.
Essas palavras nascem de uma ligação transcendente de exageros, inquietudes e abstrações. De uns tempos pra cá celebro a porta aberta de cada novo ciclo escrevendo sobre aquilo que doeu, mas valeu; que vi e enxerguei; que aprendi errando; que compreendi ao ressignificar.
Fazer aniversário na mesma data que Agenor é como virar a bolacha na vitrola, escutar o álbum “Projeto Agenor” e conhecer o outro lado do Cazuza. É o exercício de se olhar no espelho de cara limpa, poros abertos e encontrar quem somos numa pupila dilatada sensível a todos os estímulos, vulnerável as mais distintas catarses.
Cazuza é daqueles poucos artistas que eu queria ter conhecido, ido a um show, olhado no olho, tomado uma cerveja, compartilhado o mesmo cigarro, escrito o mesmo verso. Eu que receio conhecer ídolos pra não furar a frágil bolha da admiração. Por ele, eu pagava pra ver. Quando se foi, nem tinha nascido. Não era desejo, sequer um projeto de maternidade. Era uma piada de Deus que um dia sonhara acordada (continuo), prenderia o choro (agora transbordo) e amaria intensamente (seguirei assim).
Na fresta do desencontro cósmico fomos catapultados no palco da vida no mesmo dia 04, no mesmo abrir das cortinas. Mais que um simples anagrama numérico, é uma sincronicidade sensorial que me inspira, me alegra e me faz aceitar exageros e imperfeições. Movido por essa relação que se reinventa a cada novo balanço, convidei Filippe Reis (também aniversariante) e a Lavínia Alves que canta o poeta com uma força vulcânica, a contarem um pouco desse amor.
“Exagerado” por Filippe Reis (@f.mreis)
“Tenho uma relação ainda em construção com Cazuza. De fato sermos arianos aproxima dia a dia e a cada reinício de vida, leia 4 de abril, ouvir quietinho “Exagerado” tem um enorme significado ano após ano É um hino ao amor, é tudo muito 8 ou 800, um grito de vida ou amor a tudo que me cerca. A cada 4 de abril vou me tornando um amor inventado cheio de vontade de ser ainda mais exagerado”.
“Azul e amarelo” por Lavínia Alves (@laviniaaalves)
“Nasci em 1997. Ou seja, 7 anos depois da viagem de Caju para o céu.
É estranho sentir saudade de alguém que não conheci. E sim. Sinto saudade.
Muito me encanta nele:
A rebeldia feroz que disfarça o menino sensível e amável. O andar na contramão do previsível. O amor que tinha pela fossa, mas a vibração enormemente alegre. Seu gosto pela boemia e o egoísmo de filho único. Sua simplicidade, caretice e aquela voz gritada que parecia não ter medo de nada. Seu humor que nos piores instantes resistiu na boca. Seu charme. Letras. Confissões. Coragem! O seu eterno desobedecer.
Cada apresentação do meu show “Caju+Eu”, tributo à Cazuza, foi uma festa.
Lembro de ficar na dúvida de que all star usar para ocasião e provei um pé do azul e outro do amarelo. Na hora me deu na telha de usar um pé de cada e assim subi no palco.
Depois soube que essas eram as cores de proteção dele.
Cores que também protegem o muro da incrível sociedade Viva Cazuza.
E daí vem a minha música preferida “Azul e amarelo”.
Na canção ele diz: “Tudo é possível”...
E eu concordo. Sinto. E celebro a gente ter se descoberto há tempo na vida.
Parabéns, Caju! Te amo!
Felipe Ferreira
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