O caminho do amor
Afinal, o que é o amor? Seria uma forte amizade? Uma paixão incontrolável? Será que o amor verdadeiro existe? É possível encontrá-lo?
Se você abriu este livro, provavelmente está se fazendo essas e muitas outras perguntas.
Em 1997, a filósofa burquinense Sobonfu Somé publicou um livro chamado O espírito da intimidade 2, no qual lança uma luz sobre esse sentimento. Em primeiro lugar, por ser proveniente do povo dagara, do oeste da África, a visão de Somé é muito diferente da nossa tradição ocidental. Para ela, a garantia de bem-estar não é uma responsabilidade individual:
a harmonia da vida depende dos outros, que nos ajudam a encontrar nosso caminho.
Por isso, Somé defende que o amor é uma emoção coletiva, que exige que o ego fique de lado. De acordo com os dagara, amar é escutar. É preciso aprender a ouvir as próprias necessidades, mas também as da pessoa amada e as exigências da intimidade. Para conhecer o amor, é necessário, antes de tudo, conhecer a si mesmo e ao outro.
O problema é que muitas vezes acreditamos que o motor do amor é a paixão. Cultivamos uma sensibilidade romântica que toma esse afeto quase como uma doença do corpo, cujos sintomas são falta de ar, borboletas no estômago e calafrios na espinha. Imaginamos cenas de comédias românticas em que o mocinho corre atrás da amada, a enlaça em um beijo tenro e então eles vivem felizes para sempre. Para Somé, isso é um erro gravíssimo.
E, de fato, se pararmos para pensar, quantos relacionamentos não fracassam mesmo quando duas pessoas são muito apaixonadas uma pela outra? A filosofia dagara enxerga as coisas de outra maneira: se o conhecimento é a base do amor, a paixão é o seu ápice. E o segredo é percorrer o caminho entre os dois pontos. Em outras palavras, o amor é como uma montanha.
O ato de amar é a aventura existencial de escalá-la devagar com alguém do nosso lado.
Ao longo da jornada, nos aproximamos cada vez mais do outro, passando a conhecê-lo mais e melhor. Para os dagara, mais do que viver um romance, amar é um percurso de intimidade.
Por isso, é absurdo acreditar que a paixão seja o suporte de um relacionamento. Escorar uma relação na paixão seria o equivalente a começar a trajetória pelo topo da montanha: só restaria, então, descê-la. A pessoa amada rapidamente deixaria de ser atraente, inteligente e interessante para ser tida como insuportável. A relação, que antes parecia boa, bonita e verdadeira, viria a se tornar fonte de desentendimento e frustração. Um belo dia, você acordaria ao lado de um estranho. E quantos de nós não terminamos o relacionamento com alguém porque acreditamos ter descoberto uma face horrível daquele a quem amávamos?
Encarar o outro somente como um objeto da paixão é um enorme obstáculo para uma conexão amorosa autêntica e profunda.
Renato Noguera
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