O Império todo está nu

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No conto de Andersen, é um garotinho que denuncia a nudez do rei. E todos, perplexos, passam a enxergar o que já estava visível diante dos seus olhos. 

NA ATUAL PANDEMIA, É O CORONAVÍRUS QUE GRITA: O IMPÉRIO TODO ESTÁ NU!

Com o avanço da doença, estamos sendo obrigados a ver o que sempre esteve escancarado a nossa frente.

Que o presidente eleito é totalmente incapaz para exercer o cargo para o qual foi eleito. Que a elite brasileira sempre se preocupou mais com lucro do que com vidas. Que os pastores preferem a permanência do dízimo a preservar a vida dos seus fiéis. Que qualquer pessoa que aceite trabalhar sob as ordens de um fascista tem contornos facistas no seu temperamento. Contornos que só dependem de condições ideais para brotar. 

O coronavírus veio, também, para deixar claro que, se não parássemos em algum momento, o planeta iria entrar em colapso. Que o capitalismo dos tempos atuais não respeita a natureza, os trabalhadores, os direitos humanos. E que engorda as já balofas contas bancárias dos mais ricos às custas da terceirização precária, das reformas trabalhistas enganosas, das reformas previdenciárias mentirosas, do teto assassino dos gastos públicos.

Até aí, nenhuma novidade...

A epidemia que chegou ao Brasil, depois de ter devastado países do oriente e do hemisfério norte, já vinha denunciando que sem sistema público de saúde organizado e bem financiado, o número de mortos é muito maior. Que sem testes e proteção adequada, os profissionais de saúde e todos que estão na linha e frente, se infectam muito mais. Que sem distribuição de renda, os mais pobres pagarão, como vêm pagando historicamente, a conta mais alta.

Nada diferente do que, há décadas, vêm demonstrando universidades, pesquisadores e artistas. Cada categoria dentro da sua função. E não à toa, os governos liberais, com forte viés autoritário, elegem exatamente essas categorias como seus inimigos de primeira hora. Assim que assumem o poder, atacam cientistas, professores, estudantes, artistas, profissionais de saúde. E triste ironia... São justamente esses profissionais os mais importantes nesse momento.

Não foi por acaso que os primeiros a serem chamados de volta foram os médicos cubanos. Aqueles mesmos, os primeiros a terem sido expulsos. 

Na dificuldade de cumprir a quarentena, as pessoas ficam em casa vendo filmes, séries, ouvindo música, lendo livros. Eis os artistas. Aqueles mesmos que foram atacados com mentiras,  grosserias e com o desmonte da cultura do país.

Já os especialistas, que viram suas instituições serem asfixiadas, seus financiamentos desaparecerem, agora são os que têm a obrigação de orientar o país a como agir durante esse período de dificuldade e sofrimento. Os mesmos cientistas e pesquisadores que carregam nos ombros a responsabilidade de encontrar uma cura ou uma vacina contra esse vírus.

Contra esse ser invisível que desnudou a hipocrisia de um sistema violento e assassino que sempre se alimentou da vida e da força dos mais pobres para manter o poder e a riqueza de uma ínfima parcela da população.

Felizmente, economistas e políticos do mundo todo estão abrindo mão de suas cegueiras gananciosas, de suas convicções liberais e devolvendo ao Estado suas funções principais: preservar a saúde e a vida das populações, garantir a quem tem menos condições mínimas de subsistência, priorizar os direitos das pessoas e não o das grandes empresas internacionais.

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Até propostas que sempre foram tabu no país, como a taxação das grandes fortunas, passa a ser cogitada. Afinal, o escândalo gritante da nossa desigualdade fica ainda mais gritante quando toma contornos assassinos em períodos como esse.

Enfim, foi preciso muito sofrimento e desespero para que víssemos o quanto dependemos uns dos outros. O quanto somos todos vulneráveis. O quanto o SUS é importante para esse país. O quanto os poderosos precisam sair de seus cômodos privilégios para reequilibrar o planeta.

Renato Farias

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