O mês de novembro
A chegada de novembro no Brasil traz uma série de debates sobre racismo, é inevitável que instituições de ensino e pesquisa, equipamentos culturais, organizações não-governamentais, coletivos e outras instâncias realizam seminários, colóquios, simpósios, rodas de conversa e afins onde o racismo é o eixo central dos debates. Nessa época, intelectuais negras, negros e negrxs recebem mais convites.
O comediante Yuri Marçal disse num vídeo que em Novembro, as oportunidades aumentam de oferta de trabalho aumentam; a atriz Elisa Lucinda confirmou que os convites se multiplicam nesse período. Pois bem, se o racismo é estrutural como argumenta Silvio Almeida, ou ainda, se o racismo está na base das relações ancestrais mais longínquas, à perder de como diz Carlos Moore.
Por que ficarmos restritos a debater esse assunto somente em Novembro?
Não é o caso de debatermos o pacto narcísico da branquitude?
Não é o caso de falarmos da urgência de racializar o debate o ano inteiro?
Ou ainda, como disse o fotógrafo Roger Cipó que não é mais momento de falarmos do bê-a-bá do racismo, explicar o porquê das cotas raciais ou coisas do gênero, de acordo com Cipó, esses temas já foram vistos, revistos e muito revisitados. Daí, está na hora de avançar.
O Movimento Negro – entendido na perspectiva do historiador Amilcar Pereira enquanto conjunto de organizações, entidades e indivíduos que enfrentam o racismo através de diversas modalidades, sejam culturais, políticas, educacionais, etc. – pode contribuir com essa discussão de várias maneiras, seja atuando como uma instância educadora – tal como nos diz Nilma Lino Gomes argumentando que o “Movimento Negro é educador”.
Mas, também se considerarmos, eis a hipótese, que o Movimento Negro brasileiro tem sido: em todas as instâncias, fundamental para promoção da democracia e de construção de uma sociedade justa. Novembro é um mês em que podemos pautar a seguinte discussão, a elaboração de uma pauta que atenda toda sociedade brasileira, reitero toda sociedade brasileira, enfrentando questões de habitação, segurança, violência, feminicídio, saúde, educação, cultura, meio ambiente, geração de renda e emprego, dentre outras, passa pelas formulações do Movimento Negro.
O equívoco é achar que debater racismo não inclui mais nada, ledo engano:
discutir racismo implica em produzir uma agenda para consolidação da democracia.
Primeiro, porque ao combater o racismo, nós enfrentamos inevitavelmente a injustiça cognitiva. Nós enfrentamos a lógica das relações de opressão e dominação. Não basta ser antirracista para transformar a sociedade brasileira, para além do antirracismo, o Movimento Negro pode oferecer a elaboração de outros modos de vida. O combate ao racismo é a produção de uma sociedade afrorreferenciada.
Não basta ser antirracista, precisamos criar referências de matriz cultural africana para promoção de um novo futuro.
Ser antirracista é importante; mas, existe um risco, pintar o mundo branco de preto, “incluir” as pessoas negras num mundo que já está pronto. O que é radical no Movimento Negro, assim como a agenda dos povos originários da América, está justamente em radicalizar a transformação. O que existe de mais poderoso no Movimento Negro não é preconizar somente o antirracismo; mas, promover referências para novos imaginários.
Por essa razão, acredito que Novembro é um mês para debater o país, falar de racismo é conversar a respeito de todas as grandes questões da sociedade brasileira. O agente político que precisa estar à mesa é o Movimento Negro; mas, não pode ser só em novembro.
Renato Noguera
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