O que a gente tem para “comemorar”?

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Nessa semana a gente “comemora” o dia internacional de combate à LGBTfobia – dia 17 de maio. Na verdade, a partir desse dia começa uma intensa agenda que no mês de junho bomba!

De acordo com os “Relatórios anuais de mortes LGBTI+” produzidos e publicados pelo Grupo Gay da Bahia – GGB, em 2019 foram registradas 329 mortes de pessoas LGBTI+ no país, sendo que os Estados mais violentos seriam São Paulo, Bahia e Pernambuco.

Já nos “Dossiês anuais dos assassinatos e da violência contra pessoas trans” e boletins periódicos publicados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA, a expectativa de vida de travestis e mulheres transexuais a idade é de 35 anos, o que mostra a vulnerabilidade desse grupo comparado com a expectativa da população em geral em 74,9 anos.

De acordo com o Dossiê publicado em 2021, em 2020 foram identificados 175 assassinatos de pessoas trans, todas elas travestis e mulheres transexuais. A idade média dos assassinatos foi contra pessoas entre 15 e 29 anos.

Isso coloca o Brasil no primeiro lugar do ranking mundial de assassinatos, liderando com folga desde o ano de 2008.

Essa pesquisa também mostrou que, diante da rejeição familiar de pessoas trans, é estimado que 13 anos de idade seja a média em que travestis e mulheres transexuais sejam expulsas de suas casas pelos pais. Diante dessa falta de estrutura desde tão cedo, isso afeta diretamente o desenvolvimento escolar e profissional, sendo que cerca de 0,02% estão na universidade, 72% não concluíram o ensino médio e 56% o ensino fundamental.

Em relação mais especificamente sobre as mulheres lésbicas, o “Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil” publicado após pesquisa do Núcleo de Inclusão Social da UFRJ, que colheu dados entre 2014 e 2017, identificou um aumento significativo de assassinatos de mulheres lésbicas entre esses anos, de 16 (2014) a 54 (2017), ou seja, um aumento de 237%.

Esses dados, em sua maior parte, são coletados por essas associações, sem qualquer vínculo estatal ou com instituições privadas, utilizando como metodologia o monitoramento de publicações jornalísticas e relatos de pessoas locais e de quem trabalha com os direitos da população LGBT+.

Isso escancara a omissão do Poder Público e a falta de compromisso e ações efetivas para combate de toda e qualquer discriminação LGBTfóbica, uma vez que sequer os registros de ocorrência especificam e detalham essas circunstâncias dos crimes.

Além da LGBTfobia institucional, fica evidente que continua sendo praticado o consolidado projeto transfeminicida e LGBTfóbico no Brasil, que mata de forma precoce as vidas “desviantes”, comprovando que aquele ciclo de exclusão que inicia com a expulsão de adolescentes de casa expõe essa juventude à ainda mais violência e vulnerabilidade social.

Isso é reforçado a cada dia quando vemos:

Projetos de lei que pretendem nos afastar da mídia,

Projetos de lei que pretendem proibir a discussão sobre gênero nas escolas,

Projetos de lei que tentam nos apagar e neutralizar da sociedade.

O que a gente precisa é de acolhimento, é de poder contar nossas histórias, é de poder ocupar os espaços, é de ter as mesmas oportunidades, é de estar em ambientes em que nossas relações sociais são naturalizadas.

Que esse 17 de maio e esse mês de junho que está para vir sirvam de reflexão, porque eu ainda acho que estamos muito longe de ter o que comemorar.

Fernanda Darcie

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