O tão sonhado Yin Yang na Era Digital
NO MEU PONTO DE VISTA, E OBVIAMENTE VOCÊ PODE DISCORDAR DE MIM, UMA DAS COISAS MAIS DIFÍCEIS NA VIDA É O ESTABELECIMENTO DE EQUILÍBRIO.
Equilibrar a sua vida profissional com a pessoal (em todos os aspectos), a alimentação com o seu estado emocional, a divisão de tarefas em casa (ou no trabalho), tudo isso, em um primeiro momento é muito complicado de se alcançar. Eu costumo dizer que precisamos de um momento para ajustar as arestas e, com o equilíbrio, conseguir viver melhor. Descompensamos bastante neste caminho. Pode ter certeza. No meu caso em especial, o meu principal sabotador é o sentimento de controle que eu tendo a exercer na maioria das coisas que faço. Culpo o meu signo por isso. Rs. Isso me gera uma ansiedade grande, e é neste ponto que eu quero chegar.
Existem diversas situações que facilitam o estabelecimento da ansiedade e, a partir desta, o desencadeamento de processos relacionados a saúde. Um exemplo claro é a comunicação virtual. Se esta for lida como a capacidade de estabelecer uma relação com pessoas distantes e ou ter acesso rápido a informações, tendemos a achar que é benéfica. E é, se for equilibrada. Uma das maiores discussões na atualidade é o uso excessivo de celular. A todo instante é pontuado os malefícios do seu uso excessivo, que perpassam desde alterações biológicas de fato, como problemas na visão e no sono provocadas por sua luz, até o enclausuramento das pessoas no mundo virtual, o que não somente é preocupante pelo fato em si, mas é desgastante para quem compartilha momentos com o enclausurado.
Eu, particularmente, posso exemplificar a exarcebação da minha ansiedade pelo uso do WhatsApp. Para mim, o WhatsApp virou ferramenta de trabalho, extremamente útil quando empregada de maneira equilibrada. Neste sentido, acabo passando boa parte do meu dia respondendo demandas via WhatsApp. O que acontecia inicialmente é que eu me sentia obrigada a responder prontamente, porque não queria que a pessoa visse que eu vi a mensagem e que não a respondi. Parece besteira, mas isso aumentou a minha ansiedade e me fazia ficar 24h online, “pronta” para qualquer demanda que aparecesse. A solução, quando eu percebi que se tratava de um problema, foi retirar a notificação do “visto por último”, assim como o “recibo de confirmação de leitura”. Até hoje eu recebo mensagens de trabalho após as 22h, mas entendo que as pessoas só me mandam porque em algum momento da vida eu estava respondendo mensagens neste mesmo horário.
Eu exemplifiquei o aumento da minha ansiedade relacionada ao trabalho, porque este realmente me consome demais. Mas para este ponto a minha provocação é a seguinte: quantas vezes, quando estamos na companhia de outras pessoas, olhamos para o celular para saber se alguém nos escreveu? Por que aparentemente temos maior interesse em iniciar uma conversa com uma pessoa que não está fisicamente próxima a nós, no momento que estamos na companhia de outras pessoas? O que o uso desequilibrado desta ferramenta pode acarretar em nós e nos nossos?
Outro ponto interessante são os aplicativos desenvolvidos para serem utilizados em paralelo aos aplicativos sociais. Meu amigo adolescente tinha um aplicativo que o notificava sempre que alguém parava de segui-lo no Instagram. O aplicativo te informa quem pára de te seguir, mas logicamente não o porquê disso. Ele então passava horas imaginando e elaborando todas as possibilidades de explicação para a perda do seguidor. Isso também gerava nele um sentimento de ansiedade que associado a outros fatores, fez com que ele desenvolvesse uma gastrite hemorrágica nervosa. Depois de muita conversa, eu o convenci a desabilitar este aplicativo, fazendo-o entender que para ele não havia nenhum benefício o uso do mesmo.
Em contato com os alunos da universidade em que trabalho, é muitas vezes angustiante ver a necessidade deles em ter uma resposta rápida. Resposta esta obtida pelo acesso a internet. Muitas vezes sem se preocupar com a origem da informação obtida. Muitas pessoas replicam uma informação sem critério, o que foi a base para o fortalecimento das fakenews no país. No tocante a sala de aula, a obtenção de informações fracionadas não possibilita a construção de um pensamento crítico e, assim, as pessoas que utilizam somente esta fonte de informação desenvolvem uma habilidade crítica muito superficial. É preciso saber equilibrar o uso das ferramentas virtuais, para que os atributos negativos destas não venham a sobrepor os positivos.
Eu sei que esta pode ser mais uma coluna que trata de um problema recorrente e super discutido, mas eu desafio a gente (incluindo a mim mesma) a pensarmos juntos qual seria a melhor maneira de resolvê-lo. Como chegamos a este equilíbrio?
Recentemente, o curta metragem egípcio “L’altra par” com duração de 3 minutos ganhou o prêmio de melhor curta no festival de cinema de Veneza. O filme, como tantos outros, descreve o isolamento social e a fixação pelo celular. Vale a pena conferir. Segue o link: https://www.youtube.com/watch?v=ANUy5WAceW4
Um abraço,
Rafaella Albuquerque e Silva
Instagram @rafaas28
Siga no instagram @coletivo_indra