Qual a semelhança entre o golpe de 64 e as eleições de 2018?

marina.jpg

Após os últimos acontecimentos da CPI da covid e com os militares ofendidos ao serem associados à corrupção no atual governo, não pudemos deixar de lembrar da discussão que o baiano, Carlos Marighella, faz em sua autobiografia Por que resisti à prisão, que nos conta como o golpe militar foi instaurado no dia da mentira, quase como uma piada de mau gosto; e, por que não houve uma revolução socialista no Brasil?

Parece piada que a ofensa é ser corrupto e compactuar com um projeto de governo genocida.

Por mais que o filme Marighella, não seja baseado no seu livro e sim em uma biografia escrito por Mário Magalhães, é impressionante como o contexto da época é semelhante e ajuda a entender os nossos dias atuais; e, ele começa exatamente assim:

“Em abril de 1964, um golpe de Estado tirou o presidente João Goulart do poder e instaurou um regime ditatorial no Brasil.

O golpe foi apoiado por grande parte da população, políticos, empresários, a imprensa e o governo dos EUA. Ele foi justificado como forma de acabar com a corrupção e de barrar a "ameaça comunista".

Os militares prometeram fazer eleições no ano seguinte e que a democracia seria reinstaurada quando houvesse paz no país. A ditadura brasileira durou 21 anos.”

Marighella em sua biografia dizia que não era uma revolução, revolução é uma etapa socialista para que se alcance o comunismo, o que ocorreu foi um golpe mesmo, mas que na época golpe era um termo mau quisto pela população brasileira por causa do golpe de Getúlio Vargas, então usaram o termo revolução, porém isso é de uma falsa ideologia e um jogo para que as pessoas não reagisse negativamente ao fato dos militares iniciarem uma ditadura no Brasil, golpe que instaurou a ditadura não houve revolução no Brasil.

Nesse sentido, Marighella em seu livro nos mostra como o anticomunismo dos anos 60 era tão parecido com o discurso da extrema direita hoje no Brasil. No Brasil do início de 1964, antes do golpe que deu origem à ditadura militar, o país vivia em uma atmosfera e medo de um golpe comunista.

E como diria o velho Karl Marx, a história se repete pela segunda vez como farsa. Em 2018, nossos ânimos estavam à flor da pele e o Brasil estava polarizado, e nessa atmosfera de "perigo" à uma ditadura petista no Brasil, nos lembra o que houve do perigo da ameaça comunista que Marighella nos conta.

O antipetismo seria, assim, o “anticomunismo” – o medo de se viver no que se imagina ser uma sociedade comunista, sem a propriedade privada, por exemplo, fez com que um partido social democrata fosse fantasiado e, portanto, identificado com o projeto comunista.

Assim como os camaradas de Marighella, muitos de nós que sonhamos com uma sociedade melhor somos forçados a defender o Estado Democrático de Direito, frente aos ataques que sofremos cotidianamente de direitos civis e sociais, como os cortes das bolsas para pesquisas, além dos crimes contra a humanidade como a compra suprafaturada de vacinas, o valor de auxílio emergencial que não acompanha os altos preços de comida.

Nós, como Marighella disse, por ironia estamos defendendo uma democracia liberal e de direita para conseguirmos ter o mínimo de espaço para expressar nossas ideias e para garantir condições de entrar na disputa política.

O ativista Rodrigo Pilha, por exemplo, foi preso em 18 de março desse ano, por carregar uma faixa “Bolsonaro Genocida” em protestos em frente ao Palácio do Planalto.

Outra similaridade entre o governo atual e aquele do início da ditadura militar , era a veneração aos Estados Unidos da América. Muitos brasileiros classe média projetam uma imagem onírica aos EUA, como símbolo de paraíso na terra, onde há grande liberdade individual e onde a meritocracia, fruto do trabalho árduo, é valorizado.

Mas, nossos conterrâneos se esquecem que na terra do Capitão América não há espaço para políticas sociais, e o acesso aos direitos se dá via instituições privadas, afinal lá o Estado é mínimo.

Ou seja, o cidadão americano é um cliente, e os serviços prestados, mesmo que da ordem dos diretos sociais, como a saúde e a educação, por exemplo, fica a cargo do consumo individual privado.

O fantasma do comunismo que rondava em 64, tornou a assombrar a extrema direita em 2018, o pensamento anticomunista e antimarxista fez com que na ditadura houvesse a perseguição aos adeptos dessa ideologia mau vista, e em 2018 deixou nossos ânimos políticos polarizados. Como será que o fantasma do comunismo estará assombrando os brasileiro em 2022?