Quem entra no clube da humanidade ocidental?

Desenho Pachamama (Netflix)

Desenho Pachamama (Netflix)

Esse mês de junho senti como se estivesse mergulhada numa montanha russa que misturava descrença, preocupação e melancolia. De repente naturalizamos a situação de pandemia e enquanto ouço a festança na casa dos vizinhos, recebo notícias de mais conhecidos mortos. De Covid, de bala, de AVC.

O brasil não é pra iniciantes e a sua dinâmica de existir naturaliza as mortes, porque foi fundada sobre suas raízes. O nascimento de nossa nação tem sua origem no genocídio dos povos originários e na desumanização dos povos negros e, 500 anos depois dos aventureiros genocidas aportarem nessas terras, seus descendentes continuam na mesma pegada predatória e desumanizadora.

Povos Originários acreditam em Pacha Mama. Povos bantus creem na humanidade existente em tudo que é matéria saída da boca de Nzambi. Ubuntu - eu sou porque nós somos - não fala apenas sobre a humanidade de seres humanos, mas a humanidade de tudo que há a Força Vital da Natureza; Ailton Krenak chama-nos a atenção para a humanidade da formiga e Makota Valdina para a humanidade da montanha. 

Enquanto continuarmos a Viver dentro de paradigmas exclusivamente ocidentais, estaremos em dissonância com o equilíbrio do mundo, ao mesmo tempo em que performamos cópias capengas de ocidentalidade.

Deslocados de nossa centralidade e sob o efeito do narcisismo e do embranquecimento, buscamos fazer parte do seleto grupo de humanidade ocidental, do qual nos fala Krenak, sem perceber que a nossa amefricanidade ladina (conceito de Lélia Gonzalez) fundante nos impede de sequer subir os degraus da soleira frente às portas cerradas desse clube. 

E quando falo de nós, não somos apenas nós negros aquilombados no brasil, mas sim, nós, todos, nascidos neste território que o Ocidente nomeia de América Latina. Brancos brasileiros são hegemônicos só no brasil, pois quando se encontram no território anglo-europeu, frente ao Senhor do Ocidente (homem branco), rapidamente as categorias limitadoras do Ser são postas na mesa, e vemos, a branquitude tupiniquim embasbacada por também ficar do lado de fora do clubinho. A diferença entre nós é que, diante das portas cerradas, pretos buscam estratégias de repensar a humanidade; brancos, batem na porta incansávelmente, trajando seus outfit e fazendo tweet inconformado. 

Como dizia a mais velha Makota Valdina: "(...) quem não tem caminho não pode andar, ou quem escolhe andar por um caminho que não é o seu, não pode avançar”.

Aza Njeri

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