Sem saco!

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Como é cansativo repetirmos o que para nós é o obvio.

Semana passada fui convidada a fazer um bate papo sobre uma situação ocorrida em um programa de tv onde um participante socialmente branco (A) comparou o cabelo de outro indiscutivelmente negro (B), com uma peruca de homem das cavernas. O participante negro usa um cabelo black power.

O assunto causou o maior reboliço nas redes sociais. Pessoas contra o participante A argumentando (o óbvio) que esse tipo de comparação é preconceituoso e racista. Pessoas contra o participante B dizendo que o mesmo estava querendo “fazer VT”, ou seja, chamar a atenção para si, que era um exagero e que o outro “não teve a intenção de ofender”, “que não era para tanto”.

Disseram que o participante B deveria ter explicado, ensinado para o participante A que isso não era uma coisa bonita de se dizer e que então o ofensor pediria desculpas e ponto final. E é justamente nesse lugar que reside a minha falta de paciência.

Já conversamos aqui outras vezes sobre o mesmo ângulo dessa questão e novamente o racismo nos envolve numa teia irritante e sem fim de ficar explicando o óbvio para que o racista, no final, diga “eu não acho que é bem assim” ou “eu não concordo!”. Como se a questão girasse em torno dele e de sua opinião e visão de mundo.

RACISTAS! ENTENDAM: O MUNDO NÃO GIRA EM TORNO DE VOCÊS, P*##*!!!!!

Não cabe ao negro ser um eterno “cunhã” e ficar a vida inteira cuidando e explicando para o branco porque que ele não deve ser racista! A história está aí!! Agora, está nos livros!!! Quer entender? Vai ler, ouvir, prestar atenção ao mundo ao seu redor, que, querendo você ou não, está mudando!

Quando queremos saber sobre a segunda guerra mundial, ninguém acha que um veterano tem que ter a grandeza de nos explicar como foi e a gente fica na postura soberba de quem espera ser convencido. Não! A gente vai ler, ver filmes, documentários, entrevistas, vai se informar. Porque no caso do racismo tem que ter sempre um negro de plantão para ter a grandeza de dar aulinha para racista para no final ele dizer que é mimimi?

E mesmo que, no final da aulinha, ele entenda tudo, que bom mas ainda assim essa não é a minha obrigação. Ela é sua de aprender a conviver no mundo que não é à sua imagem e semelhança.

Não sou uma Wikipédia preta para sanar os questionamentos superficiais de ninguém! Entendam isso de uma vez por todas!!!

Outra coisa é a incessante mania de associar a problemática da questão racial ao conceito de maldade ou bondade.

Sendo beeeem direta ( já que é para ensinar!!) não me interessa se você teve ou não a intenção de; não me interessa se você é uma pessoa boa e generosa e caridosa que frequenta a igreja todos os domingos, não me interessa VOCÊ nessa questão, mas a QUESTÃO em si. Porque o fato de você ser e fazer tudo isso que mencionei acima e outras coisas mais, não lhe confere direitos ou não lhe exime de responsabilidade sobre seus atos. Nem tão pouco os justifica!!!

Quando o assunto é racismo quem determina os parâmetros do debate é o preto e não você, racista.

Você não é o ser a ser convencido e nem a sua bondade cristã ou ateia é um passaporte para proferir bobagens!

Não se esconda como um lobo em pele de cordeiro para manter as suas posturas e pensamentos racistas e preconceituosos travestidos de bondade ou de boa intenção que de boa intenção o ditado já diz: o inferno está cheio.

Não se trata também de “quem nunca errou que jogue a primeira pedra” porque se a gente estivesse falando de algo que não está estampado em todo lugar em debate e questionamento, vá lá!

Mas esse assunto é discutido o tempo todo em todo lugar, graças aos Deuses, hoje em dia!! Isso só reflete a síndrome de sinhozinho e sinhazinha do sujeito branco que se coloca como se vivesse dentro de uma bolha de privilégios (o que não deixa de ser verdade!) e precisa ser constantemente cuidado e orientado por todo aquele que não vive na sua bolha a andar fora dela. Advinha: não somos seus empregados, nem mentores, nem cunhãs. Quer entender ou aprender? Corra na frente para não perder o seu e nem gastar o nosso tempo!

Também não se esconda atrás de seu amigo preto ou preta, nem de sua região do país. Um negro vai se ofender sendo chamado de tiziu, cachopa de abeia, chupé, caruncho, macaco, negão, negona e tantos outros, não importa a região do país, pois todos esses nomes carregam em si o deboche em relação a figura do sujeito negro seja para fazer graça ou para ofender. Não importa!

E também não se justifique com o fato de que o negro não demonstrou que se ofendeu pois muitas vezes esse comportamento é para não piorar a situação, ou seja, autodefesa, sobrevivência.

Racismo ofende, racismo destrói a autoestima, racismo mata, racismo adoece, racismo enlouquece, racismo não é mimimi.

E para você, Racista coitadinho, desavisado e ingênuo sem intenção de ofender: RACISMO É CRIME!

E ponto.

Tatiana Tiburcio

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