Transtornos e dependência por telas!

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USO DOS CELULARES E TABLETS: FICO VOLTANDO A ESTE ASSUNTO, PORQUE É MUITO IMPORTANTE, E DE CERTA MANEIRA PREOCUPANTE. 

Conversando com uma criança de 12 anos, que passou as férias jogando no celular, me disse que a vida dele ia ficar difícil depois destas férias. Por que não conseguia ficar sem jogar com os amigos (jogos online), por isso, não sabia como ia viver (viver, imaginem!) sem poder usar o celular no horário da escola, e como está indo para a oitava série será mais difícil, como ele ia fazer?

Então perguntei a ele se conhecia a palavra “vício “, ele prontamente me disse que não era viciado. Propus então o combinado de que ele ficaria aquele dia sem usar o celular e os pais chamariam uma amigo para brincar em casa, e ele começou a chorar copiosamente. Até esse momento os pais não tinham percebido o quanto aquilo era profundo e sério, se deram conta de que tinham participação por não terem feito o controle, sempre com medo de frustrarem seus filhos.

FRUSTRAÇÃO É SEMPRE UM DESAFIO, QUE TE IMPULSIONA PARA A VIDA.

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No artigo de pesquisa do Dr. Aric Sigman, psicólogo, publicado no Jornal da Associação Internacional de neurologia Infantil, ele aponta: “‘Adicção' é um termo cada vez mais usado para descrever o crescente número de crianças que participam de uma variedade de diferentes atividades de tela em um dependente, de maneira problemática“. Eu não tinha me deparado com um caso tão grave nesta idade e fiquei bastante preocupada. Incansavelmente falo para os pais não darem celular para seus filhos até os 14 anos, mas isto acontece numa minoria das vezes. E mesmo todos os adultos, muitos também viciados, terem acesso fácil a literatura mundial de que as consequências do uso de celular em idade precoce é funesta para as crianças. 

Embora tenhamos testemunhado alguns incríveis avanços tecnológicos no século 21, os pais perceberam que entregar a uma criança o seu smartphone ou tablet é uma solução conveniente para tédio ou acessos de birra. No entanto, essa coisa chamada “tempo de tela” está criando novos problemas de saúde mental e comportamentais em crianças pequenas. Algumas delas choram, algumas quebram as coisas e outras até ameaçam o suicídio.

Se as crianças estão jogando videogames ou usando aplicativos de smartphones, há uma montanha crescente de evidências sugerindo que os meninos e meninas jovens estão exibindo um comportamento viciante. Por quê? Em grande parte devido à extensa exposição ao tempo de tela não regulamentado. Enquanto os cérebros adultos já passaram por seus processos de desenvolvimento, os cérebros das crianças são suscetíveis a mudanças significativas na estrutura e na conectividade, que podem prejudicar o desenvolvimento neural e levar a um transtorno de dependência de tela. 

O  TRANSTORNO DE DEPENDÊNCIA DE TELA PODE LEVAR À INSÔNIA, DOR NAS COSTAS, GANHO OU PERDA DE PESO, PROBLEMAS DE VISÃO, RESSECAMENTO PRECOCE DE RETINA, DORES DE CABEÇA, IRRITABILIDADE, BAIXA TOLERÂNCIA A FRUSTRAÇÃO, DIFICULDADES DE SOCIABILIZAÇÃO, ANSIEDADE, DESONESTIDADE, SENTIMENTOS DE CULPA E SOLIDÃO.

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Em última análise, no entanto, os efeitos a longo prazo desses sintomas podem ser tão graves quanto os danos cerebrais. De fato, vários estudos explorando os efeitos do transtorno de dependência de tela mostraram que o cérebro das crianças encolhe ou perde tecidos no lobo frontal, estriado e ínsula; essas áreas ajudam a governar o planejamento e a organização, a supressão de impulsos socialmente inaceitáveis e nossa capacidade de desenvolver compaixão e empatia, respectivamente.

As pesquisa estão aí batendo na sua porta e os pais parecem viver em outro planeta quando continuam oferecendo celular aos seus filhos. Até aos bebes não estão escapando das telas na hora de trocar fraldas, sendo criados com hábitos não saudáveis desde pequenos. Pobres crianças, com tantos brinquedos em casa sem nem usar.

Há estudos sérios a respeito  disso e todos podem acessar. Um estudo de 2015 publicado no Behavioral Sciences (Basel) descobriu que 12% dos jovens adolescentes eram “gamologistas patológicos”. Embora jogar videogames não exija substâncias químicas ou intoxicação, os pesquisadores sugerem que isso poderia levar a sintomas semelhantes ao vício, incluindo os listados acima. Para o psicoterapeuta Dr. George Lynn, baseado em Seattle, 80% dos problemas de seus pacientes resultam de muito jogo, assistir a muitos vídeos on-line ou usar excessivamente as mídias sociais. 

Como resultado, o Dr. Lynn está testemunhando “uma síndrome de personalidade que vem do abuso e basicamente descontrolado do uso recreativo da mídia de tela durante o dia e à noite”.

Me parece que nós pais estamos criando novas doenças para os filhos, precisamos reverter estes comportamentos, pois estamos prejudicando a mente de muitas crianças. Queremos sempre um caminho melhor para eles e ao negligenciar isto somos responsáveis pelas consequências nefastas. E não deixo de parabenizar aos pais que "resistem” e não dão os celulares aos filhos, ou que controlam rigidamente o tempo de exposição as telas, entendendo que esta exposição aliena mais a crianças e suas etapas de cognição e aprendizado.

E espero que esta criança de 12 anos, a que relato nossa conversa no início do texto, seja apresentada para umas férias diferentes na próxima vez, aquelas com templos livres, brincadeiras na rua, passeios, novas amizades, outras conversas na rotina de casa e tantas outras coisas diferentes que as férias nos permitem!

Hayde Haviaras

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