Uma incrível aventura chamada Zumbi

"Zumbi” de Antônio Parreiras, 1927

"Zumbi” de Antônio Parreiras, 1927

Zumbi dos Palmares foi adotado como símbolo de luta e resistência, em especial pelo movimento negro brasileiro. Existem alguns aspectos polêmicos envolvendo sua figura: se ele realmente liderou o quilombo por tanto tempo, sobre como ele chegou ao comando do quilombo, ou sobre o fato dele mesmo ter possuído escravos ou não. Não vamos entrar nesse mérito, pois na literatura sobre o tema tais aspectos não são conclusivos. O fato é que a história desse grande personagem brasileiro é pouco conhecida pela população brasileira, mesmo sendo considerado um dos heróis da pátria. 

O seguinte artigo está longe de ser algo acadêmico. Foi baseado em uma busca livre sobre o tema, sem o rigor da historiografia, mas com o objetivo ilustrativo, buscando despertar o interesse do leitor e revelar um pouco sobre a vida desse importante personagem. 

NESSE SENTIDO: QUEM FOI ZUMBI? COMO ELE SURGIU? COMO PASSOU A LIDERAR O QUILOMBO? E COMO ESSA HISTÓRIA CHEGA AO FIM?

A origem:

Como tudo na vida, vamos começar do início...

Era uma vez, em meados do século XVI, em uma tribo na região do Congo, uma princesa, cujo nome era Alqualtune. Essa grande princesa guerreira liderava seu exército e lutava contra seus inimigos no Congo. Infelizmente, ela foi capturada em combate. Como muitos africanos daquela época, ao ser capturada, a princesa acabou sendo escravizada, e foi trazida por um navio negreiro até o Recife. Lá foi revendida como escrava reprodutora para um dono de engenho de Porto Calvo (região onde fica, atualmente, Alagoas). Ali, a princesa Aqualtune, GRÁVIDA, organizou sua fuga, junto com outros negros escravos.

Após fugir, em 1597, a grandiosa princesa fundou o Quilombo dos Palmares, na região da Serra da Barriga, onde foi reconhecida como líder. O termo Quilombo, se aproxima de “mocambo”, o qual se origina de “mukambu”, que significava pau de fieira, tipo de suportes com forquilhas utilizados para erguer choupanas nos acampamentos e era associado a rituais de iniciação de guerreiros africanos ou assentamento de guerra. Foi a denominação brasileira adotada para designar os grupos de negros fugidos que se estabeleciam em determinados territórios.

O Brasil não foi o único país a gerar essas conformações de resistência. Em outros países, também existiam conformações semelhantes, como na Venezuela, Cuba, Caribe etc. A etimologia da palavra foi estudada por grandes pesquisadores como Nina Rodrigues e Gilberto Freyre. O Quilombo dos Palmares, em especial, foi considerado por alguns historiadores como o primeiro Estado Livre das Américas, sendo o maior, mais duradouro e mais famoso reduto negro de resistência do Brasil. Chegou a ter mais de 20 mil habitantes, com um território equivalente a um terço de Portugal. Unia negros, índios, mulatos e brancos fugitivos, tinha um sincretismo cultural-religioso, e era farto em produção alimentar. Os produtos e alimentos eram comunitários e o excedente era comercializado com as redondezas, em troca de armas, pólvora e mantimentos. Ao todo, a coroa e o governo pernambucano chegaram a realizar mais de 23 guerras frustradas para tentar derrubar o quilombo, o qual durou de 1597 a 1695. 

Depois de Aqualtune, quem assumiu o quilombo foi seu filho, o lendário Ganga Zumba (aquele que veio no ventre de sua mãe, durante a fuga do engenho).  

E Zumbi, como entra nessa história?

Em 1655, em um dos muitos vilarejos dos Palmares, nasce um pequeno garoto, sobrinho de Ganga Zumba. Sua aldeia foi atacada por caçadores de escravos, financiados por uma poderosa família da época, a família Lins. Alguns escravos capturados nessa investida foram doados à família Lins. O menino, ainda recém-nascido, foi doado ao padre da paróquia da família, o padre Antônio Mello de Porto Calvo. O garoto foi adotado por Antônio, batizado com o nome de Francisco e educado para ser coroinha. Aprendeu o português e o latim aos 10 anos de idade e era tido como um garoto inteligente e querido. Mas o espírito guerreiro de Francisco falou mais alto. Aos 15 anos, ele fugiu, retornou para os palmares e passou a se chamar ZUMBI. O significado do nome do rei dos palmares é incerto. Há alusão ao termo “nzumbi”, de origem angolana, que significa defunto ou morto vivo. Outro termo que se aproxima na mitologia religiosa africana é “nyambi” ou “Nzambi” que se refere ao deus da guerra. No entanto, não há comprovação definitiva do significado ao qual o nome Zumbi faz alusão. 

A história de Zumbi como guerreiro começa em 1678, quando seu tio Ganga Zumba resolve, após vários combates com a colônia, assinar um acordo de paz. Nesse acordo, entretanto, Ganga entregaria os negros dissidentes para o governo de Pernambuco. Em troca, o governo concederia anistia aos negros nascidos no quilombo e permitiria manutenção do poder de Ganga sobre eles. Esse ato foi considerado traição por Zumbi e seus seguidores, o qual, aos 23 anos, organizou uma rebelião, depondo e matando o lendário guerreiro Ganga-Zumba. Após tomar o governo, Zumbi foi considerado rei do quilombo e negou-se a compactuar com a colônia.

Zumbi ficou conhecido pela sua valentia, astúcia e habilidade militar. Organizava diversas expedições militares para expandir seus territórios e saquear as cidades próximas em busca de mantimentos e armas. Zumbi governou o Quilombo dos Palmares entre os anos de 1678 até 1695. Após vários ataques frustrados da colônia ao quilombo, o bandeirante Domingos

A morte do líder: 

Jorge Velho, em 1690, recebeu a incumbência de eliminar Zumbi. Depois de 4 anos de luta, e de várias derrotas, Domingos conseguiu cercar o centro dos Palmares, contando com cerca de 9 mil homens. Nessa investida, após um duro combate, Zumbi foi ferido na perna, mas conseguiu fugir, acompanhado de alguns outros quilombolas.

Em 1695, Domingos conseguiu capturar um dos subordinados de Zumbi, o qual, após ser torturado, revelou o esconderijo do seu líder. Depois de 17 anos de luta, em 20 de novembro de 1695, com cerca de 40 anos de idade, o lendário Zumbi sucumbiu às tropas de Domingos. Depois de sua captura e morte, o corpo de Zumbi foi esquartejado e sua cabeça foi salgada e exposta em praça pública em Recife (ato de crueldade comum da coroa portuguesa para amedrontar novos dissidentes).

O legado:

A bravura de zumbi era conhecida até mesmo pelos seus inimigos. Muitos dos registros sobre Zumbi, são de autores colonos da época, os quais destacavam suas características excepcionais. Em um relatório de guerras, feito durante o governo de Pedro de Almeida em Pernambuco, a figura de Zumbi é exaltada:

“Aqui se feriu com uma bala ao General das Armas, que se chamava o Zumbi, que quer dizer Deus da guerra. Negro de singular valor, grande ânimo, e constância rara. Este é o espectador dos mais, porque a sua indústria, juízo e fortaleza aos nossos serve de embaraço, aos seus de exemplo, ficou vivo, porém aleijado de uma perna.” (Relação das guerras feitas aos Palmares de Pernambuco no tempo do Governador Pedro de Almeida de 1675 a 1678. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, n.22, p.303-329, 1859, p. 320.) 

A figura de Zumbi ficou famosa como símbolo da resistência negra. Hoje, depois de 322 anos, comemoramos o dia 20 de novembro como uma data que marca a luta negra no Brasil.

A foto acima é um dos retratos de Zumbi dos Palmares, pintada por Antônio Parreiras, representando uma das muitas imagens do herói negro dentro no imaginário popular. A feição e as características físicas de Zumbi não são conhecidas, mas muitos artistas buscaram representar esse emblemático personagem.

Paulo Frazão

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Bibliografia

DE OLIVEIRA, Josué Petrônio Quirino. Zumbi dos Palmares: a afroresiliencia. Revista Espaço Acadêmico, 2017, 17.197: 102-113. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/34903 acesso em 18 out. 2019.

DOS SANTOS GOMES, Flávio. Mocambos e quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil. Editora Companhia das Letras, 2015. GASPAR, Lúcia. Zumbi dos Palmares. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/  Acesso em 18 out 2019. 

Link do livro: https://books.google.com.br/books/about/Mocambos_e_quilombos.html?id=o-E1CwAAQBAJ&printsec=frontcover&source=kp_read_button&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false

REIS, A. M. B. D. R. (2004). Zumbi: historiografia e imagens. Universidade Estadual Paulista (UNESP). 

Link do livro:https://books.google.com.br/books/about/Zumbi.html?id=s6mTGwAACAAJ&redir_esc=y

VIOTTI, Ana Carolina. Revisitar Palmares: histórias de um mocambo do Brasil colonial. Trashumante. Revista Americana de Historia Social, n. 10, p. 78-99, 2017. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/6059321.pdfacesso em 18 out. 2019. 

Nome: Paulo Henrique da Silva Frazão

Graduado em enfermagem pela Universidade de Brasília (UnB). Graduando em medicina pelo Centro Universitário UniCEUB. Aluno bolsista de Iniciação Científica pelo UniCEUB. Integrante da Liga Acadêmica de Medicina e Estilo de Vida do UniCEUB (LAMEVU).

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