Dia 15 vote! A importância das eleições e da política institucional

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Em uma das minhas primeiras colunas deste ano, eu ressaltei a importância de estarmos atentos às eleições municipais que viriam. Naquela ocasião, no início de janeiro, mal poderia imaginar que passaríamos por uma calamidade sanitária da dimensão que está sendo a pandemia do COVID-19 – inclusive com quem cogitasse a suspender as eleições – e que o calendário eleitoral teria sido tão ofuscado. Fato é, que apesar de tudo que atravessamos e após o adiamento, estamos a menos de um mês das eleições municipais, cujo primeiro turno está previsto para 15 de novembro.

No mesmo momento em que discutimos nossas eleições municipais, os Estados Unidos também enfrentam o seu processo eleitoral em nível federal e que tem impacto no mundo todo. Donald Trump busca a sua reeleição, apesar de o cenário lhe ser desfavorável nas pesquisas, principalmente por conta de perder em estados considerados chave para o contexto eleitoral estadunidense.

A eleição de Trump é um marco na política mundial por, ao mesmo tempo que trouxe para a arena política o debate acerca do uso de tecnologias que podem induzir a vontade do eleitor, especialmente através das redes sociais, também representar a ascensão de um outsider com contornos autoritários ao posto mais importante daquela que tratada como a democracia mais estável do mundo. O fenômeno observado em outras localidades, do sucesso eleitoral de figuras que estressam os limites da democracia ganhou uma nova dimensão com a presidência de Trump em 2016. Nem preciso dizer que também somos um exemplo da emergência desse tipo de figura, que coloca em risco o que conhecemos como democracia liberal. 

Assim, uma possível derrota de Trump, longe de significar que a democracia americana permanece intacta e imune a qualquer tipo de ruptura, ao menos demonstra que é possível se livrar desse tipo de liderança autoritária o mais rápido possível, ao menos no plano institucional, evitando que os danos causados sejam ainda maiores, tanto no plano objetivo, das escolhas políticas controversas e mal executadas, quando na dimensão simbólica do que pode significar a manutenção do poder de uma figura como essa.

Evidente que as eleições estadunidenses não influenciam diretamente ao nosso pleito municipal, sobretudo por este ter uma lógica própria e acontecer em maior proximidade com o eleitor, ao contrário de quando votamos para o plano federal. Não podemos esquecer que o Brasil é composto por mais de 5.000 mil municípios com realidades muito distintas das capitais. Mas é um momento oportuno para refletirmos qual rumo queremos dar ao nosso país e buscarmos por mudanças pelo voto.

Não estou ignorando a crise de representatividade e da democracia liberal como um todo, que afasta da política institucional grande parte da população, que não enxerga no processo político a garantia de seus interesses e a possibilidade de transformação. Esse sentimento não é de todo sem razão, e os efeitos do sucesso hegemônico das políticas neoliberais, que levam a maior desigualdade e concentração de renda estão na base dessa descrença, ainda que não haja uma revolta popular contra esse tipo de política econômica num primeiro momento. 

Em suas obras, a cientista política Chantal Mouffe argumenta que o sucesso dessa lógica econômica levou a um “consenso de centro”, o qual eliminou da política a possibilidade de expressar confrontos e divergências em prol de um modelo tecnocrático de política, racional e inescapável, como se fosse a forma correta de fazer política. A impossibilidade de serem levadas propostas alternativas e verdadeiramente transformadoras é que levaria ao desinteresse pela política e ao enfraquecimento da democracia.

A democracia liberal vê então diminuído seu aspecto democrático e valorizado apenas o âmbito liberal.  

Com a crise econômica de 2008, Mouffe acredita que essa lógica hegemônica neoliberal entrou em colapso, cuja contrariedade ao sistema se faz tanto a esquerda quanto a direita do espectro político, num “momento populista” onde muitos movimentos prometem devolver a voz que foi tirada do povo. Neste momento, estão sendo questionados os dois pilares do sistema democrático, a igualdade e a soberania popular. Para a Autora, a direita tem se saído melhor em captar esse momento, ao contribuir para o esvaziamento dos aspectos democráticos do sistema, dando prevalência a lógica econômica que, no fundo, é a do liberalismo econômico. 

A esquerda, por sua vez, teria sido incapaz de reconhecer esse momento e que muitas das demandas vindas da direita teriam fundo democrático e, portanto, não poderiam ser desprezadas, ou simplesmente rotuladas como “neofacistas” ou irracionais. A Autora chama para a ação política por meio de um “populismo de esquerda”, que retome a busca pela igualdade e soberania popular e possa afastar do centro de poder as soluções autoritárias vindas pela direita, e que dirija as insatisfações do povo contra o verdadeiro adversário, notadamente o capitalismo financeiro como colocado atualmente.

O que quero dizer ao citar o pensamento de Mouffe, é que a saída para os nossos problemas não se faz fora da política, apesar da promessa milagrosa de alguns, mas é preciso ocupar a política institucional e também buscar dentro do sistema os mecanismos de transformação social, que tenha como objetivo alcançar maior igualdade e o bem-estar de todos. Daqui a 23 dias, em 15 de novembro, teremos uma oportunidade disso, ao escolhermos os nossos representantes no município. É um momento de ir contra discursos fáceis e soluções que se dizem fora da política. É um momento de calar alternativas com ares autoritários e que desprezam a segurança que as instituições nos trazem. É um momento de reflexão e de demonstrar que tipo de sociedade queremos para o futuro. Por isso peço mais uma vez que deem a importância que o momento merece. E votem. Escolham um candidato, busquem conversar com ele ou com alguém da campanha, vejam suas propostas e qual sua visão de mundo. Façam uma boa escolha. 

Quem sabe com o resultado dessas eleições, não nos colocaremos mais longe da nuvem autoritária que paira sobre nós no presente momento e que trumps e afins não sejam a marca da próxima década. 

Arthur Spada

Instagram @arthurspada